Capítulo 31

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Anahí


Por um lado eu esperava que ao sair daquela sala de jantar toda a minha raiva e frustração ficasse para trás. Mas então a primeira lágrima que deixei cair só serviu para desencadear as outras que vieram em seguida, me sentia perdida, queria pegar um voo de volta para Rússia o mais rápido possível, deixar para trás toda e qualquer esperança que tenha deixado crescer com o sentimento ilusório de que os últimos acontecimentos tenham sido resultado de um sonho, ou melhor, de um pesadelo do qual eu poderia acordar e perceber que não era real.


— Anahí...?


Ao ouvir a voz de Maite me apressei em secar as lágrimas insistentes. Não queria chorar na frente de ninguém, na frente dela principalmente.


— O que você quer? – Questionei, virando para olhá-la descer os degraus e caminhar pelo gramado em minha direção – Veio até aqui pra rir de mim? Ou pra dizer que não foi por falta de aviso da sua parte? – Acusei, encarando-a.


— Cala a boca e entra no carro. – Pontuou, e apesar da voz calma, eu encontrei nos olhos dela o mesmo olhar de reprovação da Maite de anos atrás que me olhava desta forma quando eu fazia a escolha errada de sempre meter os pés pelas mãos.


Não tive outra escolha a não ser caminhar com ela em direção ao seu carro e entrar. Eu queria mesmo ir embora dali, por mais que Maite fosse a última pessoa a quem eu iria recorrer por ajuda.


— Você sabe que não deveria ter feito isso, não sabe? O Alfonso que deveria ter falado, no momento que ele achasse apropriado... Você atropelou os limites, outra vez. – Falou, depois de uns minutos em silêncio. Os olhos de lince atentos ao trânsito calmo da noite fria que San Diego proporcionava. A olhei de relance e notei a tensão através de seu maxilar travado. Então ela não sabia de nada? Tinha sido pega tão de surpresa quanto eu.


— Foda-se os limites. – Rebati, de pronto – Ele vai ser pai, e o filho não é meu, você acha que estou preocupada com a porcaria de limite?


De repente eu estava atropelando minhas próprias palavras, externando sobre a frustração que sentia, e nem mesmo pude me dar conta das lágrimas que novamente caiam por minha bochecha.


— Eu tenho o direito de gritar o quanto estou infeliz com essa notícia, não tenho? – Questionei, entre um soluço e outro.


— Sim você tem, então grite. – Afirmou, pela primeira vez me olhando nos olhos.


E então eu gritei. Coloquei pra fora a dor que sentia sem me importar se estávamos dentro de um carro em movimento.


— Se você usar isso para me atacar depois... – Comecei, em um tom acusatório.


— Pelo amor de Deus, não seja idiota. – Maite cortou minha fala, estacionando o carro. Fazia anos que eu não colocava os pés aqui mas sabia que estávamos no prédio em que ela morava com Luna. – Somos só você e eu aqui, nada do que acontecer será colocado em pauta depois.


Ficamos em silêncio por mais alguns segundos. Era tudo tão estranho, embora eu não quisesse questioná-la no momento por estar aqui comigo, me sentia amparada, talvez pudéssemos mesmo deixar nossas diferenças de lado por algum tempo...

O Preço de um SonhoWhere stories live. Discover now