Capítulo 27

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Anahí


Meu corpo se encontrava em um estágio de relaxamento espantoso, o que diferia totalmente do meu estado de nervos. Após algumas horas literalmente apagada, travei uma verdadeira batalha contra minhas pálpebras -  ainda pesadas - enquanto isso, deslizei a palma da mão no lençol macio e constatei que Alfonso não estava. Girei o corpo para sorver a corrente tímida do vento diurno, e só então escutei o barulho do chuveiro. Me debrucei outra vez, preguiçosa, o calmante fizera mesmo efeito.

Pouco tempo depois, entreabri os olhos para encontrar Alfonso parado próximo a cama, enrolado na toalha, ao passo que sacodia os cabelos para se livrar dos pingos d’água.


– Olá bela adormecida. – Sorriu entre as palavras.


– Quantos dias dormi? – Perguntei em meio sussurro, a voz falhara de início.


– Algumas horas apenas, eu acompanharia caso minhas obrigações não fizessem meu telefone tocar a cada cinco minutos. – Tocou o queixo, contrariado.


– Eu sempre atrapalho, você largou o plantão por minha culpa...não deveria, eu... – Iniciei enquanto ele se aproximava, e logo depois senti seu polegar grudar em meus lábios.


– Você é a minha prioridade, não repita isso. – Pediu e eu mordi seu dedo, para vê-lo sorrir em seguida. – Mas, infelizmente preciso voltar, o quadro de funcionários está reduzido e estamos trabalhando no limite, não posso deixá-los na mão, não por muito tempo.


Ergui o corpo, me apoiando nos joelhos, e engatinhei até a borda. Alfonso repousou as mãos em minha cintura, antes de colar a testa na minha. Fechei os olhos para capturar apenas a temperatura de sua respiração.


– Obrigada por tanto, me sinto tão segura ao seu lado. – Confessei levando as mãos para apoiá-las em seu peito, e ele roçou o nariz no meu em resposta.


– Eu não vou mais largar sua mão, garota. – Respondeu antes de selar nossos lábios. – Deixa eu cuidar de você, está bem? – Perguntou entre os selinhos.


– Deixo. – Assenti em meio sorriso.
Grudamos nossos lábios com certa urgência, mas o sentimento não se remetia a nada carnal, fluía como uma necessidade de estarmos juntos, para afirmarmos um ao outro que enfrentaríamos qualquer coisa. Nossos lábios se acariciavam sob forma de conforto, de paciência e de um pedido único e íntimo de paz e dias melhores.


Nos despedimos daquele modo, já no corredor, os dedos ágeis adentravam meus cabelos, acariciando os fios. Enquanto os meus tratavam de segurá-lo na nuca, mantendo-o próximo o suficiente para perceber que era exatamente daquela forma que desejava estar, e sobretudo, com ele.


– Você volta? – Perguntei ainda absorta.


– Vou tentar, mas enquanto isso prometa que vai descansar. Notei que está mais ofegante que o de costume. – Pontuou sereno, o polegar escorregava em minha bochecha, e os olhos se mantinham firmes diante dos meus.


– Netflix que me aguarde. – Devolvi entediada. – Você me dá notícias? Digo, sobre meu pai. – Reformulei. 


– Vou vê-lo assim que puser os pés naquele hospital, não se preocupe, ele vai ficar bem. – Voltou a afirmar, com um beijo em minha testa, e só então o deixei ir.


Entrei em meu apartamento e me acomodei no sofá, disposta a chorar por algum romance barato. Passeei os olhos no catálogo exposto, mas jurava que já havia visto praticamente todos, e então fui dispersada com algumas batidas na porta. Deveria ser Alfonso, pensei.

O Preço de um SonhoWhere stories live. Discover now