Capítulo 20

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Alfonso


"— Você... promete? "


Minha voz soa mais trêmula do que quero. Puta merda, são quase três da madrugada e a garota e eu estamos pendurados no telefone em mais uma dessas ligações longas que fazemos desde que completou o que... Três meses de sua estadia em Moscou? Longe de San Diego, longe de mim.... Pode parecer egoísta da minha parte, mas sinto sua falta.


"— Prometer o quê? " – Sua risada baixa sai rouca e eu posso ver seus olhos apertados e vermelhos de sono. Deveríamos ter encerrado esta ligação a pelo menos umas duas horas, ela tem ensaio às sete em ponto, e eu uma prova que preciso gabaritar para garantir boas notas neste semestre.


"— Sobre voltar, garota. Eu acho que preciso ouvir mais uma vez. "


O silêncio que se instaura me deixa desconfortável e tenso. Anahí parece gaguejar do outro lado da linha quando começa a formular o que dizer.


"— Sinto sua falta. " – Admito. Estou pronto para repetir novamente, consciente de que talvez possa exagerar, mas só quero que ela saiba o quanto me sinto patético por entender tarde demais que não seria consideravelmente fácil viver a milhas de distância, sem sua implicância logo cedo ou até mesmo sua irritação quando ousava contrariá-la, de nossas charadas muitas vezes sem nexo. Dos seus lábios. Sim, posso me contentar com as memórias que tenho de seu cheiro e de sua pele macia e arrepiada enquanto traço uma linha de carícias, mas não consigo me acostumar sem seus beijos, sem o seu cheiro... e talvez nunca consiga. Puta que pariu, sinto um aperto no peito com a sensação de estar atropelando sentimentos dos quais me vejo incapacitado de administrar.


"— Eu prometo. – Antes que eu possa voltar a falar, sua voz soa mais rápida. As batidas de meu coração parecem mais descontroladas à medida que a escuto proferir o que tanto desejo. – Você promete que vai estar me esperando quando eu voltar? – A conheço bem demais para sentir que está insegura e amedrontada, cheia de saudades, assim como disse quando atendeu a minha ligação.


Tenho toda a certeza do mundo ao respondê-la, e não preciso de muito para saber que está sorrindo tanto – ou até mais que eu – no mesmo instante:


"— Prometo, garota. "


Promessas foram feitas para serem cumpridas, ou não? Com certeza a mesma convicção que eu tenho não é a mesma que Anahí tinha. Ou tem, não posso saber. Fazem anos desde aquela ligação, aquela maldita ligação carregada de declarações e promessas.


Desejei, e não foi pela primeira vez naquele dia, estar em qualquer lugar do mundo que não fosse ali, rodeado daquelas paredes brancas e gélidas. Até mesmo a emergência me parecia mais atrativa, ao menos enquanto estivesse correndo de um lado para o outro lutando para auxiliar um coração a continuar batendo, não estaria pensando em Anahí e em toda a bagunça que trouxera consigo, desestabilizando o que eu pensava ter de controle próprio.


Inferno. Não consigo tirá-la da cabeça, muito menos deixar de escanteio todas as dúvidas que surgiram assim que sai, deixando-a sozinha naquele leito, depois de atendê-la e me certificar de que estaria bem. Aconteceu tudo tão rápido e tentei reagir como o profissional que era, mas não dava para simplesmente ignorar o fato de que ela estava aqui, anos depois, as mudanças claras, ainda que o maldito cheiro de frutas vermelhas me parecesse tão familiar. E era. A odiava mais por isso também, e principalmente por voltar assim do nada, sem explicações e sem que eu estivesse preparado. Ok, talvez nunca estivesse mesmo e aceitava minha derrota, mas continuar por perto, mirando seus olhos azuis confusos ao notar que era eu quem estava ali, foi demais pra mim.

O Preço de um SonhoWhere stories live. Discover now