Capítulo 18 - Juntos

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18 anos atrás.

No ano de 2118, no estado de Washington, uma doce menina nascia: Annie, em um período de transição da biotecnologia. Se no futuro poucas pessoas conseguiam ter acesso a essa tecnologia, antes era pior ainda. Raras conseguiam, justamente por estar em fase de iniciação praticamente, e por isso era extremamente cara.

Annie e sua família viviam felizes, nunca haviam passado apertos. Ela era uma criança alegre e energética, que sempre brincava com amigos na escola e com seu pai em casa, que era seu melhor amigo. E foi seu espírito aventureiro que a condenou: ao brincar em um terreno traiçoeiro enquanto seus pais não estavam olhando, a pequena acabou se acidentando gravemente, e foi esse acidente que condenou sua vida. Com apenas seis anos, Annie passou a conhecer o inferno.

Foi necessário implantar partes robóticas em seu corpo, especialmente em seu coração, justamente um dos locais mais caros de robotizar, pois senão seu coração não iria aguentar o estilhaço. Isso fez sua família entrar em uma dívida pelas partes robóticas tão grande que chegou a um ponto que tiveram de vender a casa que moravam e se mudar para o Arizona para quitar a dívida. Na nova casa que compraram, as condições eram horríveis, pois seu pai agora não tinha mais um emprego com salário decente e isso afetava a própria relação familiar de Annie.

- Cala boca! Quem manda nessa porra aqui sou eu! - Dizia o pai de Annie, apontando o dedo na cara da mãe e logo depois dando um tapa nela que a faz cair. O pai novamente voltava bêbado para casa após um dia estressante de trabalho que não gerava renda nenhuma. Annie, após seu acidente, sofria constantes agressões de seu pai, que batia nela e em sua mãe caso esta tentasse impedi-lo ou o confrontasse.

- Por favor... Ela não tem culpa de nada... - Logo após dizer essa frase, a mãe de Annie é puxada pelo pai pelos cabelos e em seguida jogada contra a parede da cozinha.

- Ela não queria isso!? Então agora ela pode aguentar qualquer queda, qualquer machucado, não é mesmo, Annie!? - E logo após terminar sua frase, o pai dá um tapa que faz Annie, que estava no cantinho, encolhida, ir ao chão. Seu pai se preparava para faze-la sofrer mais, porém foi impedido pela mãe, que o agarrou e o derrubou. O efeito do álcool passava após isso, e o pai se levanta, olha para as duas e diz:

- Foda-se, vocês só servem para extorquir meu dinheiro, vocês não merecem o que eu faço por vocês. - Dizendo isso, o pai sai da cozinha e vai para outro cômodo.

Annie apenas chorava encolhida, enquanto sua mãe também, mas a abraçava e tentava consola-la ao máximo.

- Vai ficar tudo bem filha... Vai ficar tudo bem... - A mãe dizia com lágrimas em seus olhos.

- Por que mamãe...? Por que o papai me odeia...? Ele era meu amigo... - Annie soluçava e chorava. Por ser uma criança, não entendia porque seu pai, talvez aquele que ela era mais apegado, aos poucos foi se tornando mais frio e cruel com ela e agora ainda a agredia sem ela ter feito nada. Essas palavras fizeram a mãe da menina chorar ainda mais, abraçando-a mais forte.

Cenas como essa se tornaram comuns na vida de Annie. Estava sempre com hematomas pelo corpo, assim como sua mãe. Seu pai voltava apenas de noite, então, pouco a pouco, a menina foi se distanciando do parente, apenas com sua mãe ela conseguia se sentir bem. Por causa dos abusos sofridos, Annie foi se tornando mais reclusa e quieta. Não conseguia fazer amigos na escola, suas notas não eram boas, e, somando ao fato de ela ser uma ciborgue, sofria bullying constantemente. Annie chegou a dizer para sua mãe que não queria mais ir para escola. Com dor no coração, sua mãe disse que ela deveria aguentar um pouco.

Passado um tempo com essa rotina infernal em sua vida, novamente seu pai chegou um dia em casa, bêbado, indo descontar sua raiva em Annie. Ela estava no cantinho da cozinha, brincando com um bichinho de pelúcia. Acabou recebendo um soco de seu pai, que a fez cair no chão. Ela estava apenas aguardando a surra eminente, porém sua mãe nesse dia não aguentou mais, pegou uma faca e fincou na barriga de seu pai.

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