▫️▪️Prólogo▪️▫️

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Lembranças de dezessete anos atrás…

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Lembranças de dezessete anos atrás…

Quando criança, meus pais me deixaram sozinha em casa. Eu estava com medo e assustada, visto jurar que havia alguém olhando para mim em todos os cômodos em que passava. Então, em minha vã tentativa de não permanecer sozinha, abri os dois portões que me protegia e garanti a mim mesma que encontraria os meus pais e ficaria a salvo. Ignorando o quão perigoso poderia ser para uma criança perambular pelas ruas sozinha.

Tinha por volta dos cinco anos, os cabelos escuros, a pele pálida e os dedos tão gélidos que poderiam pertencer aos cadáveres. O ar da manhã estava fresco, embora eu visse a nebulosa nuvem de areia que cobria todo o bairro; similar a natural neblina causada pela suspensão de gotículas de água.

Não havia ninguém na rua e, ainda assim, dei o meu primeiro passo de encontro às altas calçadas. O vento sussurrava em meus ouvidos uma melodia que deixava claro o seu interesse em me guiar de volta para casa, mas eu, em toda a minha inocência, estava disposta a sair e trazer comigo alguém, qualquer pessoa capaz de expulsar os que considerava desconhecidos.

Caminhei por tanto tempo que não consegui decifrar o quanto. Os meus pés descalços sentiam o calor brando dos paralelepípedos e tentavam se adequar as partes em que eles faltavam; às vezes terra, às vezes cacos de vidro em seu lugar. Portas fechadas, janelas cobertas por grades de ferro e o silêncio, esse era o meu único amigo.

— Mamãe? — chamei tão alto que poderia ter despertado algum cachorro que se abrigava em um dos alpendres dos vizinhos, contudo, nem sequer ouvi um bramido. — Mamãe? — gritei mais uma vez, embora ninguém abrisse a porta para ver quem, em seu desespero, clamava por sua mãe.

A nuvem de areia cobriu os meus olhos e, para evitar a ardência, os fechei pondo as mãos sobre a face como proteção. Quando novamente os abri fora para colidir com o anonimato. Ela era peculiar em seus trapos, as vestes tão puídas que me pergunto se não sentia frio nas noites de intenso inverno.

— Aqui não é o seu lugar, volte para casa, criança!— dissera a senhora, segurando os meus finos dedos e me guiando para uma direção oposta a qual estava indo.

— Onde estou? Quem é a senhora? Nunca a vi.— dissera eu, em uma coragem infantil, quando nem ao menos conhecia todos os moradores daquela região. No entanto, a meu ver, ela era confusa. Detinha olhos amarelados, mãos calejadas e a pele de um tom acinzentado. Seus cabelos eram de um branco atípico, aparentando que sempre houvesse sido assim e não provocado por uma reação causada pelos anos.

— Elérgia não é para crianças feito você! Aqui não é bem-vinda, criança.— revelou, porém a minha criança não a entendia.

Por que não era bem-vinda em meu próprio lugar? Todos sabiam quem eu era e também conheciam os meus pais. Olhei os arredores, sabendo que aquele era o meu bairro e na rua acima se encontrava a minha casa, embora ali não se chamasse Elérgia. Isso, eu tinha certeza.

Rua 01, n°228, bairro Aurora. Um campo de futebol à minha direita e casas pequenas e coloridas à esquerda. Essas eram as coordenadas para nunca me perder dos meus pais.

O tempo parecia estar diferente, porém não possuía destreza para descobrir qual a razão. Eu tinha apenas cinco anos, no entanto me recordo disso mesmo tendo se passado dezessete anos. Havia um único problema em todo o roteiro que me fazia recordar daquela cena tantas vezes e que me causava um arrepio na espinha. Depois de parar e observar o nada eu simplesmente esqueci, não havia nenhum fragmento em minha memória ou qualquer vestígios do que ocorreu depois disso.

Depois de toda a conversa com a senhora de Elérgia, como havia voltado para casa? Era uma pergunta sem resposta, nem mesmo os meus pais souberam me responder, pois, para eles, em nenhum momento eu havia saído de casa. Eles me encontraram dormindo

Não me recordo de ter fugido do lugar, dado a volta para minha residência e muito menos de ter vivido, realmente, aquele dia. Entretanto, ele continua aqui, repassando em minha memória feito um filme, como se um dia eu fosse compreender o seu porquê, como se um dia eu precisasse voltar lá… em Elérgia.

 Entretanto, ele continua aqui, repassando em minha memória feito um filme, como se um dia eu fosse compreender o seu porquê, como se um dia eu precisasse voltar lá… em Elérgia

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 A cidade das Crianças Perdidas (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora