▫️▪️DOIS▪️▫️

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Querida, não vá por aí. É perigoso! Esse lugar persegue os seus medos...

A casa parecia ser a mesma. Estava tudo em ordem. Não que eu imaginasse que alguém poderia entrar nela, no entanto não se sabe por qual razão as crianças estão desaparecendo e muito menos quem é “o culpado” que está por trás disso. SonhosTalvez, seja apenas isso. Um louco sonho sem fim. Um devaneio em meio a realidade estranha em que vivemos.

Analu segue para seu quarto e põe bitty para dormir em sua cama. O urso amarelado, e com um dos olhos negros quase caindo da face, aceitou a oferta sem pestanejar ou, pelo menos, a voz grossa que a menina tenta fazer para falar por ele se calou naquele momento. Não sei dizer se ela está assustada, o seu semblante prossegue sereno como no início da manhã e vez ou outra ela volta seu olhar para mim como quem quer saber se está fazendo o certo.

— O bitty está sonolento hoje? — questiono para encorajá-la a conversar comigo.

Suas mãos buscam o cobertor fino e floral para cobrir a película até a cintura, algo que ela aprendeu ao me ver fazer o mesmo com ela todos os dias.

— Sim, ele disse que está ê... ê... qual a palavra mesmo para quando estamos cansadas, Sosô? Eu esqueci — questiona com um dos dedos sobre o queixo, similar a quando estamos com dúvida, e sinto um aconchego, um calor crescente em meu peito, ao perceber que sou necessária; ao constatar que de certa forma lhe ensino algo, apesar da nossa vida conturbada.

— Exausto? — respondo fingindo dúvida.

Ana faz que sim, meneando a cabeça positivamente, e segura minha mão enquanto nos encaminha para fora do seu quarto.

— Sim, sim. O bitty tá muito exausto — assegura enquanto solta a minha mão e caminha serelepe em direção a cozinha.

— E você, está exausta? — questiono, porém sei que sua resposta será negativa. Dificilmente ela fica indisposta antes das dezenove horas e, além ser muito cedo, mal saímos de casa.

— Não, Sosô, mas acho que agora tem que ser a manhã das meninas e o bitty é um menino muito bagunceiro! — responde, explicando a razão para o descanso iminente do pequeno urso.

O sorriso não deixa de habitar os meus lábios, é divertido ver a sua animação apesar do caos. É bom estar com ela, mesmo sabendo que não deveria e que a irresponsabilidade, por faltar hoje no serviço, me custará caro.

— Tudo bem e o que quer fazer? — busco saber, pois desejo retirar as últimas informações da sua memória, visto que a minha, a todo momento, se recorda das palavras secas do locutor.

— Brincar no parquinho, tia — diz ela — Prometeu que amanhã me levaria, mas já que estamos aqui… podemos aproveitar — tenta explicar com as mãos cruzadas e as pernas inquietas em balançar para lá e para cá.

O céu visto fora de casa continua em seu mais perfeito gris, no entanto não seria esse um problema para nós, principalmente quando não é todos os dias que posso ter a sua companhia em tempo integral. Devemos aproveitar cada segundo que temos, pois amanhã ela pode já estar adulta demais para sair comigo.

— Claro, mas terá que me prometer que não sairá de perto e muito menos correrá para as partes mais escuras do parque.— aviso e a menina cruza os dedos sobre os lábios em sinal de juramento.

Com isso, vou para o meu quarto, mudo a minha habitual farda por um vestido leve e florido, e troco as sapatilhas escuras por sandálias de cordão. Busco a sua bolsa e ponho uma garrafa com água e alguns biscoitos salgados que sei que ela ama. Confiro se todas as persianas estão devidamente fechadas e, para não haver qualquer dúvida sobre nossa segurança, fecho com chave todas as portas que separam os cômodos.

 A cidade das Crianças Perdidas (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now