▫️▪️QUATORZE▪️▫️

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E deveriam estar todos, aqueles em meio a uma disputa de poderes, preparados para o golpe final.

Rosella me guia por entre os bosques e clareiras, me encantando com as cachoeiras iridescentes, que se assemelham às cortinas de luz e desaguam por escadarias montanhosas de uma tonalidade azulada. O mundo das rosas é, sem sombra de dúvidas, o lugar mais belo que conheci, do céu ao chão. Desde as suas árvores altivas e robustas, às rosas que dançam e cantam em homenagem a sua senhora. Elas me encaram admiradas, embora, um segundo após a surpresa de minha visita, se virem para aquela que possui tamanha e distinta beleza.


Contemplo cirandas de pedras no alto de montes verdejantes, assim como uma fonte de água cristalina que jorra em curvas perfeitas em sua cintilância. O silêncio entre nós é reconfortante, até porque eu não possuo palavras suficientes e que consigam expressar o tamanho da minha fascinação. A mão macia ainda segura a minha em um leve aperto, entretanto, o gesto me faz sentir acolhida. Uma luminância dourada atinge a minha visão e ergo o olhar em direção ao céu verde-água em tempo de ver o mínimo resquício do sol que nos aquece e acalenta, em meio as pétalas amarelas que o rodeia. Solon invade a minha consciência, assim como a angústia que cresce em meu coração ao lembrar das circunstâncias que me fizera partir tão depressa.

— Rosella, Solon está bem?— indago temerosa, no entanto, vejo surgir em seus lábios um sorriso e ela acaricia o dorso da minha mão com o polegar a fim de me tranquilizar.

— Sim. E já está ciente de que a senhorita está bem também! — informa para a minha surpresa, as irises enegrecidas focadas em mirar o horizonte.

— Como? — procuro saber, em meio a minha fonte inesgotável de dúvidas à respeito desse mundo, imaginando quantas camadas ainda existem para que seja possível decifrá-lo por completo.

— As rosas. São fofoqueiras na maior parte do tempo. — Sorrio com o comentário, visto ter experimentado e sido um alvo dos fuxicos delas.

— Eu vivo ali — diz ela, apontando para uma rotunda enfeitada com cordões de luzes brilhantes e roseiras que aparentam moldar a residência em buquês perfeitos.

Atento-me a avistar uma casa feita de folhas e histórias. Olhando para ela, mesmo que relativamente distante, posso ver que tudo aparenta deter uma perfeição admirável; da luz que adentra as colunas e reflete em um balanço, de cordões prateados presos em um acento de pedra azulada, às pétalas que pairam sobre o ar como se o vento não desejasse sair dali.

As folhas alaranjadas, de uma árvore próxima, caem ao seu redor formando um tapete denso sobre o chão e a única vontade que detenho é de me esparrar sobre ele e cair em um sono profundo. Me contenho, ainda sendo levada pela possessora que até então não me disse o que tenho que fazer para atravessar a sua cidade e invadir a próxima. O aroma das rosas se torna mais intenso nessa área, aparentando que todo o mundo exala uma fragrância coletiva e que esvai a cada segundo por um borrifador.

Vejo a rosa me admirar e soltar a minha mão. Elevando os meus braços e agindo tal como as outras fizeram no início. Aprecio os fios castanhos escuros se moldando perfeitamente por seus ombros e caindo sobre o colo, a graça com que ela se move e leva as borboletas consigo.

— O seu vestido não é dos mais bonitos, confesso. Preciso mudá-lo com urgência e é a hora dos biscoitos dos roseirais.

Franzo o cenho com certa indignação, avaliando todas às vezes que fui obrigada a ser a boneca de alguém de Elérgia.

— Por que, aqui, todo mundo quer me vestir?

 A cidade das Crianças Perdidas (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now