▫️▪️DEZESSETE▪️▫️

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E o medo lhe fazia adverso. Enquanto para todos era um sentimento que aprisionava, para ela era o combustível para seguir adiante. Enquanto muitos pés se viam a retrair, os dela aprendiam a voar…
 

As máquinas prosseguem em me arrastar pela avenida. Não sei por quanto tempo permaneço na tentativa de me soltar das mãos de ferro e ferrugem, no entanto, não consigo nada além de puxões e marcas arroxeadas sobre os punhos. O ódio cresce em mim como a noite se estende acima de nós, tão escuro e amedrontador que poderia sentir a sua escuridão me invadir.

As máquinas são rápidas, ainda que travem em alguns percursos, como se seguissem instruções dos caminhos que deveriam seguir, mas levasse tempo até processar as informações de controle. A cidade se encontra vazia, sombria e lodosa. O cinza misturado com o feiume das habitações, das placas descascadas e das flores murchas em canteiros esquecidos. A consciência pesa, em um doloroso sofrimento, por jamais ter percebido o quão estranho era esse lugar, o qual sofrido era a vida das pessoas que tentavam subsistir ao seu modo.
 
A ventania alimenta as suas rajadas e um cartão voeja sobre a minha visão periférica e vejo a face de Analu, de todas as outras crianças estampadas como se nada fosse. Crianças desaparecidas, dizia ele em letras garrafais, mas não detinha nenhuma outra informação sobre quem se encontrava atrás delas. O peso do metal sobre os meus pulsos torna-se mais intenso e avisto, tão longe quanto qualquer outra fortaleza, a muralha de pedra altiva e fortificada, sem aparência de portas ou qualquer entrada. Contudo, agora, eu sei que existe uma abertura lá, da mesma maneira que existia em todas as cidades anteriores.
 
O sinal da torre clareia o céu em um tom escarlate e constato que o locutor já seguiu para o seu refúgio, no qual esconde a sua verdadeira identidade: o possessor de uma cidade sem esmero.
 
Ainda arrastada por um caminho tortuoso e pedregulhento, sou levada para uma propriedade abandonada ao lado da torre da rádio, foco a visão ao encarar tudo a minha volta; a fortificação dos muros, o jardim sem cuidado ao lado esquerdo, as câmeras de vigilância que acompanhavam o movimento das máquinas. O vento sibila à nossa volta, sinto as mãos gélidas e os braços dormentes, desejo o instante em que possa enfim abaixá-los.

Gravo todas as portas e janelas, desejando que em algum momento exista a possibilidade de fuga, por mais que não seja fácil. A porta de entrada range ao abrir e sou levada para a parte subterrânea que fica entre corredores que cruzam três vezes para a direita e cinco para a esquerda, abrindo o que parece ser um alçapão. Sou jogada sem qualquer cuidado e não esperava que fizessem diferente.

Sinto o machucado em meus cotovelos, por ter me amparado neles ao quase cair de costas e vejo o chão friorento me cumprimentar. Me aprisionam em uma cela única, com grades largas e um cadeado incapaz de ser quebrado com um impacto insignificante. Sento-me cansada, as pernas formigando por andar tanto tempo, os braços pesarosos por conta de ser erguida em uma altura considerável. Eles não se atentaram em levar a minha mochila, então aqueço os braços ao abraçar a pelúcia que se faz minha única companhia.

O silêncio ganha a disputa, não ouço o rangir de pés mecânicos ou a voz de qualquer pessoa e me ponho a considerar quais as possibilidades que possuo. As horas correm e os olhos pesam sobre as pálpebras que aparentam carregar toneladas e, no fim, quando não me resta qualquer outra alternativa, após dias de tamanha fadiga, a exaustão me suga por completo e me levo gradativamente a dormir…

 As horas correm e os olhos pesam sobre as pálpebras que aparentam carregar toneladas e, no fim, quando não me resta qualquer outra alternativa, após dias de tamanha fadiga, a exaustão me suga por completo e me levo gradativamente a dormir…

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 A cidade das Crianças Perdidas (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now