capítulo 03

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Apanhei meu uniforme no varal e enfiei a blusa pela cabeça enquanto tentava abotoar a calça jeans.
Eu odiava esse uniforme cor de rosa que me fazia parecer uma coisa estranha, sei lá, eu parecia um tipo de enfeite de aniversário de criança. Podia jurar que já vi algum enfeite assim em um dos aniversários que fui com a Bel.

Por falar na Isabel, dava para vê-la fechando a mochila branca da escola muito concentrada.
A minha filha era linda, ela tinha belos olhos Castanhos ( como os meus ), mas havia herdado os cabelos loiros do pai, sem contar que tinha o nariz arrebitado dele, mas não tinha problema, ela era especial. Era perfeita.

Terminei de ajeitar a blusa e prendi o cabelo no topo da cabeça de qualquer jeito e comecei a jogar dentro da minha bolsa as contas que eu precisava pagar, as chaves do carro velho que eu comprei por uma barganha, espelho, batom, pó, celular, remédios para dor - afinal nunca se sabe quando pode passar mal, sem contar que a Bel podia precisar.  E depois de verificar tudo, peguei meu violão.

- Mamãe, a escola vai fechar! - Bel gritou da sala. - Vamos!

7:00hrs.

Merda. Merda. Merda.

Sai correndo do quarto e nem me atrevi a beber o café que preparei; peguei a mochila da Bel e abri a porta com a mão livre.

- Escovou o dente? - Perguntei.

Ela passou pela porta e parou no corredor estreito.

- Sim! - E me mostrou seu largo sorriso de dentes brancos e meio tortos.

- Pegou o lanche?

- Peguei.

- Guardou os lápis de colorir?

- Guardei.

- Penteou os cabelos?

- Penteados!

Tranquei a porta e coloquei a chave no bolso da calça. Me virei para minha filha e ergui uma sobrancelha.

- Fez o dever de casa?

Ela desviou o olhar e sorriu.

- A tia Sofya disse que ia me ajudar mais tarde.

Estreitei os olhos.

- Promete?

- Prometo, Mamãe.

A observei por alguns segundos, mas eu sabia que era verdade. A Sofya sempre a ajudava. Infelizmente eu não tinha tempo para fazer tudo isso e, apesar de achar que estava perdendo um tempo precioso que nunca voltaria, eu precisava dos dois empregos.

- Vamos, pequena, se não você chega atrasada. - Falei e depositei um beijo na testa dela.

- De novo, né mamãe?

Rolei os olhos e a empurrei de leve para dentro do elevador.

Às vezes ela falava demais.

••• •••

Depois que deixei Bel dentro da sala e levei algumas broncas da diretora pelo atraso, dirigi até a livraria.
O trânsito não era muito engarrafado no tráfego até lá então não precisei me estressar com um possível atraso. Era até tranquilo.
Estacionei nos fundos da loja e desliguei meu fusca azul.

- Certo, vamos lá Shivani, mais alguns dias e você terá dinheiro o suficiente para viajar para as ilhas Maldivas! - Falei para mim mesma.

Era uma forma de iludir meu inconsciente e fazer ele me ajudar a trabalhar melhor.

Assim que passei pela porta de vidro da livraria senti o ar gelado do ar-condicionado misturado ao cheiro gostoso de livros.
Eu amava esse lugar, só não gostava de trabalhar nele.

𝐏𝐨𝐫 𝐚𝐦𝐨𝐫; 𝐌𝐚𝐥𝐢𝐰𝐚𝐥 / 𝐒𝐡𝐢𝐯𝐥𝐞𝐲Onde histórias criam vida. Descubra agora