capítulo 10

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- Senta um pouco, por favor. - Bailey me pediu enquanto puxava uma cadeira.

Havíamos ido até uma cafeteria que ficava do outro lado da rua e era conhecida por seus cafés artesanais. Eu nunca tinha podido ir, mas esperava provar algo bom que me acalmasse.

- Então você é o dono da livraria? - Perguntei sem rodeios.

Ele sentou à minha frente na pequena mesa redonda e balançou a cabeça.

- Não exatamente. Minha mãe é a dona e eu acabo sendo o dono por tabela. - Franzi o cenho sem entender muito bem aquilo, então ele prosseguiu: - Bom, deixa eu explicar melhor. Minha família é dona da rede de Livrarias May, porém eu me desliguei desse mundo assim que minha esposa e filho faleceram, então eu larguei tudo e resolvi me dedicar à outras coisas como viajar, ler para crianças e... Viver.

Era até fofo. Um pouco louco, mas fofo.
Alisei a pequena toalha que cobria a mesa e o avaliei com o olhar.

- Então o que você estava fazendo lá?

- Eu tinha ido buscar uns papéis da contabilidade. Apesar de eu ter me desligado ainda faço alguns trabalhos de contabilidade por fora, já que minha mãe pouco se importa com isso. Sobra pra mim.

- Eu vi sua mãe uma única vez, mas nunca tinha te visto por aqui e olha que já faz uns oito anos que trabalho nessa livraria.

Ele riu.

- É que eu vivia na nossa filial do estado vizinho e resolvia tudo de lá mesmo. Mas agora tudo mudou e cá estou eu! - Ele ergueu as mãos e deu de ombros. - Acho que... O que você está pensando?

Balancei a cabeça ainda perplexa com tudo aquilo.
Ele era quase meu chefe.

- Isso tudo é tão louco. - Soltei o ar pela boca. - É algo que eu nunca iria imaginar.

Dava para ouvir as conversas em volta e o som das xícaras encontrando os pires. Assim que nosso pedido chegou acompanhado de biscoitos, me vi fechando os olhos e apenas sentindo o aroma do café.

Luciano havia tentado me beijar... Ele queria me beijar.

Abri os olhos bruscamente com o coração batendo na garganta.

- O Luciano....

- Eu vou ter uma conversa com ele. Fique calma. - Bailey me garantiu. - Eu não vou permitir que aquele imbecil te incomode novamente. Não vou.

Concordei veementemente com a cabeça e deixei que sua mão tocasse a minha por cima da mesa.
Aquilo me deixava incrivelmente segura.

- Obrigada mesmo. De verdade. Você foi quase um herói.

Um tom mais brincalhão tingiu seus olhos castanhos.

- Quase? - Provocou.

Pousei o cotovelo na mesa e dei de ombros casualmente.

- É que essa camisa havaiana acaba com aquela coisa de super-herói e tal.

Ele desceu os olhos para a camisa de botões e passou a mão pelo tecido cheio de estampas florais.

- Não acha estilosa? Eu tenho mais umas vinte dessa. - Falou tentando parecer ofendido.

Acabei caindo na risada com aquela péssima atuação e era como se uma carga imensa tivesse saído dos meus ombros.

- Tudo isso? Que Deus nos proteja desse seu gosto! - Gracejei e isso o fez sorrir.

- Você é tão malvada, sabia?

Encarei seu rosto e meus olhos foram parar em seus lábios que estavam úmidos pelo café.

- Malvada? - Balbuciei.

Bailey usou a mão que estava em cima da minha para desenhar um caminho imaginário pelo meu braço.

- Muito. - Sorriu e me olhou nos olhos. - E eu até que gosto.

Por favor, pare de olhar para os lábios dele.

°°° °°°

Depois de todo o ocorrido, Bailey me disse para ir embora e tirar o resto do dia para descansar.
Eu aceitei porque não tinha estômago para voltar e ver a cara do Luciano, se bem que eu amaria estar lá e vê-lo levando umas boas verdades naquela fuça de monstro.
Mas eu precisava de tempo para digerir tudo e pensar.

Decidi então caminhar um pouco pelo parque que ficava uns quinze minutos dali e que estava sempre bastante movimentado.
Era bom respirar aquele ar puro e sentir a brisa gostosa do começo da tarde.

Me sentei em um banco de cimento e observei enquanto algumas mães passavam com seus carrinhos de bebê pela calçada, tão sorridentes.
Fechei os olhos e até consegui sentir a sensação do passado. A sensação de quando tudo se ruiu para que voltasse a se reconstruir assim que a Bel nasceu.

Minha mãe havia sido inflexível assim como meu pai e nem sequer pensaram duas vezes antes de me expulsaram de casa, foi terrível.
Foi como se para a Bel nascer e eu viver toda essa vida de agora, eu tivesse me despido de uma pele antiga e vestido uma nova.

Foi difícil. Difícil demais.

Mas... Mas eu não me arrependo. Não mais.

- Uma moça tão bonita com um olhar tão triste.

Ergui a cabeça rapidamente e meus olhos esbarraram em um senhor que devia estar na casa dos sessenta, e que muito se assemelhava a um daqueles senhores de filme. Todo bem arrumado. Eu até diria impecável. E ainda estava carregando um lindo buquê de rosas brancas.

- Eu estou bem. - Falei.

Ele riu e ajeitou seu chapéu.

- Eu não te conheço, mas queria te dar um conselho, posso?

Que mal faria, hein?

- Claro, pode falar.

O Senhor pareceu ganhar uma luz especial de tão feliz que ficou com as minhas palavras e logo em seguida se pôs a falar.

- Não se prenda ao passado, não vale à pena. Eu tenho certeza que você está cheia de momentos felizes para viver, basta que você se permita.

Mal noto que estou respirando de forma pesada e lenta.
Pisco os olhos algumas vezes e deixo um sorriso nervoso escapar dos meus lábios.

- Eu só queria que fosse fácil assim...

Ele sorriu de forma gentil e me estendeu uma rosa branca que eu prontamente aceitei.

- Você só precisa confiar. Confie.

Sorri para ele e desci o olhar até a rosa.
Era linda, perfumada e estranhamente peculiar. Era surreal como uma beleza daquela podia existir, me dava vontade de pôr em alguma fórmula especial e guardar para a eternidade.

- Essa rosa.... - Minhas palavras ficaram suspensas no ar ao me dar conta que o senhorzinho havia ido embora.

Estranho...

Senti meu telefone vibrar no bolso e o peguei. Era uma mensagem.
Destravei a tela e sorri imediatamente.

[ 1 mensagem não lida] "Não briga com a Bel, mas ela me deu seu número outro dia. Eu só quero saber se você está bem. Bailey."

Continuo encarando a tela por alguns minutos até que por um segundo, um mísero segundo, as palavras daquele senhor fazem sentido.

"Se permita"

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[🥀] permitem-se à amar a pessoa certa!

[🤧] como ceis tão?? Não sei se posto mais um capítulo hoje.... tô pensando ainda kk

[⭐] não se esqueçam de dar a estrelinha aí. Amo vocês, até o próximo capítulo;)

𝐏𝐨𝐫 𝐚𝐦𝐨𝐫; 𝐌𝐚𝐥𝐢𝐰𝐚𝐥 / 𝐒𝐡𝐢𝐯𝐥𝐞𝐲Where stories live. Discover now