19 - O amor é uma fraqueza

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Agradeço aos muitos comentários e a cada leitura que essa obra vem tendo. Já são 6k de leituras e cada uma de vocês é importante nesse processo, inclusive no processo de produção. Muito obrigada a todos.
Amiga, sua fic. Toda, toda sua. Te amo ✨💖 dehsilva9408

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Naquela manhã Victoria chegou à casa de modas um pouco mais tarde que o normal. A noite com Heriberto havia sido longa e ela se sentia tão feliz e completa que não lhe importou aquela pontualidade britânica que ela sempre havia exigido de todos justamente por ser a primeira a cumprir. Ela vivia cada sensação característica, e deliciosa diga-se de passagem, de uma grande paixão ao mesmo tempo de ter consciência de que aquilo ia de encontro a tudo que ela sempre acreditou e personificava tudo que ela sempre temeu.

Caminhava lentamente, como que por entre as nuvens, era quase como se flutuasse, ainda sentindo arrepios pelas carícias de Heriberto que pareciam ter ficado gravadas em sua pele como tatuagem. Ao mesmo tempo em que ela sentia tanta paz e completude que parecia que nada seria capaz de abalá-la, no mundo à sua volta se passava um furacão, mais precisamente na Casa Victoria que era o único mundo que lhe importava. Ela mal teve tempo de entrar em sua sala e foi praticamente atropelada por Antonieta que não tinha se recuperado de sua intempestiva mensagem daquela madrugada.

Victoria! — Disse com os olhos arregalados. — O que significa isso? — Mostrou o celular enquanto Victoria acomodava sua bolsa e se sentava calmamente.

Bom dia para você também, Antonieta. — Respondeu com seu característico sarcasmo. — Hoje não está um lindo dia? — Suspirou.

O que diabos está acontecendo com você? — Insistiu a amiga ainda mais assustada pela calma que Victoria jamais demonstrava. — Me manda uma mensagem no meio da madrugada, não responde às minhas ou atende às minhas ligações, chega aqui hoje atrasada e... esquisita. Pelo amor de Deus, Victoria, o que foi que aconteceu entre você e Heriberto?

Você sabe que eu não gosto de tratar assuntos pessoais no local de trabalho, Antonieta. — Recriminou-a como uma maneira de fugir de suas perguntas. — Não está acontecendo nada comigo e tudo segue como... sempre! — Cravou a palavra já sentindo seu coração gelar.

A mim você não engana com esse papinho. Eu sei que algo aconteceu com o padre aqui e para que você tenha chegado dessa maneira... — Disse com um risinho. — Victoria, vocês transaram? — Perguntou sem disfarçar a empolgação.

Fale mais baixo, Antonieta! — Reclamou-lhe Victoria sem conseguir evitar que um sorriso involuntário aparecesse em sua boca ao recordar aquele dia de paixão.

Oh, meu Deus, vocês transaram! Transaram aqui, Victoria? — Antonieta falou um pouco mais baixo, mas não menos empolgada. — Pelo amor de Deus, me conte tudo, cada detalhe e depois conversamos sobre essa loucura de ir para Miami.

Obviamente Victoria não resistiu ao convite de sua amiga porque estava quase explodindo de felicidade e precisava desabafar. E ninguém mais que Antonieta conhecia cada detalhe daquela história assim como a ela própria. Apesar de não ser capaz de admitir ela sabia, e Antonieta também que, naquele momento, ela precisava de sua amiga. Mais do que nunca.

***
Heriberto entrou em seu flat assoviando, sentindo o perfume de Victoria impregnado em suas roupas, suspirando a cada lembrança daquela ardente noite com aquela que sempre havia sido a mulher de seus sonhos. Colocou suas chaves sobre a mesa e começou a desabotoar a camisa. Sorriu abertamente quando recordou o momento em que Victoria havia feito isso quando foi surpreendido por aquela voz inconfundível que sempre lhe perturbava.

Você quer me dizer de onde você está chegando a essa hora, Heriberto? Onde, demônios, você passou a noite?

— Mãe? O que você está fazendo aqui? Como conseguiu esse endereço? Como conseguiu entrar em meu apartamento? — Heriberto ainda estava chocado com a aparição de sua mãe como se fosse um fantasma

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Mãe? O que você está fazendo aqui? Como conseguiu esse endereço? Como conseguiu entrar em meu apartamento? — Heriberto ainda estava chocado com a aparição de sua mãe como se fosse um fantasma.

Não me faça perguntas sem ter respondido às minhas! — Exigiu Ana Joaquina.

Você não precisa que nenhuma dessas perguntas sejam respondidas, apenas uma. A que você não me fez. — Disse Heriberto respirando fundo e sentando-se no sofá em frente à poltrona que ela ocupava. — Eu já não sou um padre, mãe. Renunciei ao sacerdócio para sempre.

Você enlouqueceu? — Gritou a beata levantando-se transtornada. — Heriberto, sua vida pertence à Deus! Você só está vivo por causa da promessa que um dia eu fiz a ele. Mas eu sei bem o que foi que te descarrilhou, ou melhor, quem! — Afirmou com ódio.

Mãe, eu sou um homem de quase quarenta anos. Um homem a quem você já não tem o direito de controlar. Todos nós estamos vivos pela bondade de Deus e ninguém precisa seguir uma vida religiosa sem vocação para demonstrar sua gratidão.

Você só está dizendo essas coisas por causa dela! Eu te vi no desfile dela, é por Victoria Sandoval, não é? — Indagou aproximando-se de Heriberto que se levantou e se afastou.

Mamãe, eu sinto muito, mas não vou cair em seu jogo. Eu não me descarrilhei, pelo contrário. Finalmente, pela primeira vez em minha vida, quase aos quarenta anos eu estou conseguindo trilhar o único caminho que devo trilhar: o meu! — Disse como que liberando-se de um peso. — Não tente me convencer de suas próprias verdades porque eu já não sou um garoto. Você já sabe a verdade, já sabe, não sei sob que métodos, meu endereço e até descobriu uma maneira de entrar em meu apartamento. Hoje eu já não tenho nada mais a te dizer! — Finalizou Heriberto pegando suas chaves e voltando a sair.

Ele sabia que Ana Joaquina não se convenceria com tão poucas palavras. Além disso, que ela soubesse sobre Victoria colocava aquela nascente relação em risco. E, definitivamente, ele não estava disposto a permitir que ninguém, absolutamente ninguém, interferisse na oportunidade que ele tinha de viver aquela paixão que estava arraigada nele até os ossos.

***
Me explique! Me faça entender qual o sentido em que você me diga tudo isso, demonstrando muitas borboletas em seu estômago e tenha me mandado essa mensagem à noite, Victoria? — Antonieta questionava já sabendo a resposta.

Antonieta, isso não está em discussão. Eu não posso e não vou me apaixonar como uma adolescente boboca. Você sabe que a mão de ferro para conduzir esta empresa é a minha marca registrada e que a Casa Victoria é minha vida. Eu jamais vou permitir que qualquer coisa me faça cair no ostracismo como aconteceu com aquela imbecil da Bernarda de Iturbide ou qualquer outra mulher que se permitiu fraquejar. — Explicou Victoria sem titubear.

Victoria, você passou anos afetada pelo abandono desse homem, pela covardia dele em não assumir um relacionamento com você depois de se entregar. Você vai mesmo ser capaz de fazer a mesma coisa com ele? — Apesar de conhecer Victoria, Antonieta não conseguia acreditar.

Isso pouco me importa, Antonieta! Aliás, é um motivo mais para que eu vá para Miami. Depois de tudo que esse homem me fez, ele é a última pessoa que merece minha consideração e que eu desvie o foco de meu trabalho que é o mais importante para mim! O amor é uma fraqueza, Antonieta. Uma fraqueza que não vai me seduzir!

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Estranha SensaçãoWhere stories live. Discover now