32 - Sem saída

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***Victoria bufou com a presença de Osvaldo ali

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Victoria bufou com a presença de Osvaldo ali. Ela era uma mulher extremamente controladora inclusive quando fazia algo espontâneo como apresentar Heriberto a sua equipe e Osvaldo sabia que ela odiava que algo fora dos seus planos atrapalhasse esses momentos. Ao mesmo tempo, ela já não tinha mais um compromisso com ele, então o decadente ator não tinha motivos para evitar provocar um enfado em Victoria.

— Você sabe que esse assunto você vai tratar com meus advogados, não é verdade, Osvaldo? — Victoria reagiu tentando não descer do salto frente a seus empregados.

— Claro. — Respondeu ele com um risinho cínico. — Mas depois de dezoito anos de casamento, temos uma filha juntos, acho que merecemos nem que seja uma última conversa, não é mesmo? — O questionamento demonstrava que ele não estava disposto a desistir.

Heriberto se remexeu e encarou o homem que parecia fazer questão de atrair toda a atenção. Victoria fez um sinal para Antonieta que, rapidamente entendeu o que ela queria e dispersou os funcionários antes de conduzir Osvaldo para a sala de Victoria. A estilista olhou para Heriberto que parecia ter ido do céu ao inferno em minutos.

— Eu sinto muito por isso. — Ela lamentou com um olhar que demonstrava todo o peso de sempre haver carregado o mundo nas costas. — Osvaldo não tinha o direito de interromper esse momento.

— Não se preocupe. — Suspirou Heriberto voltando a encarnar aquele homem compreensivo que era tão encantador. — Apesar de haver sido um padre e entender mais de casamentos que de divórcios, eu sei que não é nada fácil. Você quer que eu te acompanhe a falar com ele?

— Não, não, não! De nenhuma maneira. — Ela foi categórica. Sem se importar com a presença de Lucy em sua mesa, repousou seus braços sobre os ombros dele e sorriu. — Vá para seu trabalho, nos encontramos no fim do dia no hospital depois da fisioterapia. Quero que tenhamos uma noite à altura desse momento. Pode deixar que, com Osvaldo, eu me entendo.

Ele sorriu de volta e a beijou discretamente antes de se retirar. Aquela sensação de ansiedade e apreensão era palpável, mas compensada e suavizada pela também evidente sensação de amor correspondido no ar. Foi a primeira vez que Victoria realmente acreditou que o amor era capaz de fortalecê-la, como se ela tivesse ao menos começando a acreditar que todas aquelas marcas que ela havia carregado consigo por toda a vida pudessem ser superadas.

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Osvaldo estava terminando de se servir de café quando ela entrou na sala. Ele parecia muito calmo e Victoria sabia não só o que ele queria como que ele era perigoso por demonstrar aquela tranquilidade. Deu a volta e sentou-se na cadeira da presidência e lhe dedicou aquele olhar que deixava claro que ela queria que suas ordens, ainda que não tivessem sido dadas, fossem cumpridas. Ele, apesar de entender o que ela queria, permaneceu de pé, encarando-a como se estivessem em igualdade de condições exasperando-a.

— Você sempre desfrutou muito dessa cadeira, não é verdade, Victoria? — Ele iniciou a conversa atacando com sarcasmo.

— Claro! Eu batalhei dia-a-dia durante muitos anos por ela. Qual seria o sentido de batalhar tanto por algo e não desfrutar quando foi conquistado? — Ela respondeu à altura.

— Não acho que seja por isso. Você não desfrutava do cargo em si, mas do status, do prestígio. Não por acaso queria ser tratada como a presidente também em casa ou em qualquer outro lugar. Ainda que eu seja o ator, foi você quem sempre quis ser a estrela.

— Eu nunca quis nada que não me pertencesse por direito, tudo de que eu fiz questão eu consegui com meu trabalho e dedicação. E, sinceramente, ainda não consegui entender onde você quer chegar com essa conversa que pensa que me atinge, mas, acredite, você está desperdiçando munição. Vá direto ao ponto, Osvaldo! Meu tempo é muito valioso e você sabe disso.

Osvaldo deu dois passos em direção à mesa de carvalho. Por dois segundos pareceu hesitar, mas logo colocou as duas mãos sobre a mesa e fuzilou Victoria com aquele par de olhos castanhos carregados de ódio e desejo de vingança.

— Você me arruinou! — Atacou. — A denúncia de Kelly me jogou na lama e, se não fosse por algumas economias, eu não teria sequer onde viver.

— Eu sinto muito. — Victoria respondeu com cinismo. Osvaldo podia sentir naquele risinho de canto de boca que ela ficava feliz que ele admitisse seu fracasso. — Sendo você um ator tão talentoso, tenho certeza que vai dar a volta por cima e logo vai ser convidado para alguma produção... milionária.

— Obrigada por acreditar no meu talento, mas eu não posso esperar. — Ele disse sentando-se finalmente de frente para ela. — Principalmente porque eu tenho de onde tirar, não é mesmo?

— Do que você está falando? — Victoria entendeu a ameaça e não gostou de vislumbrar tudo o que teria que enfrentar pela frente.

— Desta empresa! Quando nos casamos, você era a fracassada e eu a pessoa com condições para te ajudar...

— Como você ousa falar assim? — Questionou Victoria possessa levantando-se. — A essa empresa eu levantei sozinha...

— Isso não é verdade. Eu investi uma boa soma em dinheiro logo que você começou. Dinheiro que você usou para comprar equipamentos e contratar funcionários.

— Onde é que você quer chegar, Osvaldo, fale de uma vez! — Ela perdeu completamente a paciência.

— Se você não me fizer uma contra-proposta muito boa, eu vou pleitear a propriedade de parte da Casa Victoria na Justiça. E, por termos sido casados por dezoito anos, você sabe que vai perder. Eu quero dinheiro, Victoria, muito dinheiro, ou você deixará de ser soberana nesta empresa. — Victoria o encarou cheia de ódio, mas seu olhar não o intimidou. — Tome um tempo para pensar, converse com seu amante, reflita e depois me procure. Eu confio que você vai tomar a melhor decisão.

Sem saber de onde, ela conseguiu segurar todo aquele ódio até que Osvaldo se retirou da sala dela. Mas logo pegou um vaso e o viu estilhaçar-se após seu impacto com a parede depois de ser arremessado com toda força por ela. Definitivamente não estava preparada para que Osvaldo a ameaçasse daquela maneira colocando-a contra a parede.

Havia sabido encarar tudo: o abandono de Heriberto, a ausência e as traições de Osvaldo durante os últimos anos do casamento, o fracasso daquela relação, o acidente com sua mão, um recomeço incerto com o homem que havia sido seu primeiro amor, mas jamais estaria preparada para perder sua empresa, jamais! Sem a Casa Victoria ela não era nada, não sabia viver sem seu império.

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Estranha SensaçãoWhere stories live. Discover now