23 - Avalanche de surpresas

635 50 58
                                    

Amiga, mais um capítulo de sua história, aproveita! dehsilva9408
Te amo 💖

***
Bernarda, inicialmente estranhou muito a visita de Ana Joaquina. Aquela beata, além do ar caricato que os acessórios religiosos lhe conferiam, insinuou que poderia oferecer uma parceria irrecusável a ela, despertando sua curiosidade. Dentro de seu escritório, a velha olhou ao redor e deu um sorrisinho antes de comentar.

— Agora entendo a rivalidade de que fala a mídia. Estive na Casa Victoria recentemente e este lugar... — Deteve-se muito consciente do quanto queria alfinetar a estilista — não chega nem aos pés daquela empresa.

— O que você quer? — Reagiu Bernarda irritada. — Se veio até aqui para elogiar aquela vaca da Victoria, pode dar meia volta que eu não estou interessada.

— Calma, calma, eu só queria ver isso. — Voltou a sorrir a mulher. — Do que você é capaz para destruí-la e estou vendo que você não tem limites.

— E, como você pretende desestabilizar aquela imbecil? Ele teve roubados os croquis de seus modelos estrela, e ainda assim foi ovacionada com as peças reserva. Aqueles puxa-saco são capazes de se curvar a qualquer lixo que Victoria Sandoval assinar. — Comentou com amargura.

— Victoria está apaixonada por um homem. — Revelou a velha incomodada. — Um homem por quem ela já foi apaixonada no passado e a abandonou. Bernarda, eu vi como ela ficou no fundo do poço por ele. Você vai roubar esse homem de Victoria e vai atingir seu calcanhar de Aquiles para depois roubar-lhe sua casa de modas.

— Me parece uma ideia excelente. — Bernarda recordou sua capacidade de seduzir Osvaldo com um sorriso. — E quem é ele? Que homem é esse que eu vou roubar de Victoria?

— Seu nome é Heriberto. Heriberto Ríos Bernal. Meu filho que Victoria enfeitiçou para abandonar o sacerdócio. Ele é o homem que você vai tirar de Victoria Sandoval.

***
Victoria e Heriberto passaram os dias que se seguiram na eminência daquela viagem que Heriberto desconhecia e que os separaria. Passavam noites intensas e ardentes de sexo incansável e os dias ansiosos por voltarem a estarem juntos, fundidos abrasados no fogo da paixão.

A cada dia era mais difícil para Victoria ter prazerosos orgasmos e, com a endorfina que o sexo liberava em seu corpo, lamentar ter que abrir mão daquela paixão em prol de si mesma e de seu trabalho que ela acreditava amar acima de Heriberto. Vê-lo dormir depois de preenchê-la em completude provocava nela uma culpa com a qual ela ainda não havia aprendido a lidar, mas que não era capaz de demovê-la da ideia da viagem.

Heriberto não estranhava o quanto ela se mostrava disposta a que eles transassem até o limite da exaustão porque ele mesmo sentia a mesma necessidade de recuperar todo aquele tempo perdido, não tinha como saber que sua intenção era abandoná-lo para sempre, ainda que, com o coração cheio de culpa.

Naquela manhã, véspera da data marcada para a viagem, Heriberto estranhou a efusiva demonstração de carinho de Victoria ao se despedir depois da noite mais intensa que podiam ter tido. Quando ele desceu do carro dela, na porta do hospital, ela o chamou imediatamente e desceu também do veículo correndo até ele.

— Espera, amor! — Ela disse se aproximando e encarando os olhos dele cheia de culpa.

— Eu não me lembro de você me chamar de amor. — Observou Heriberto orgulhoso, com uma ingenuidade que a consumia.

— Eu nunca chamei. Nos faltam tantas, tantas coisas por viver, não é mesmo? — Ela disse levemente emocionada.

— Para isso temos toda a vida. Vamos recuperar tudo. — Ele afirmou acariciando seu rosto.

— Heriberto, eu quero que você saiba que, aconteça o que acontecer, haja o que houver tudo o que vivemos, o que sentimos, foi verdadeiro.

— Por que você está me dizendo isso, Victoria? Soa como uma despedida. — Heriberto comentou lamentoso.

— Porque eu nunca me senti tão viva e feliz em toda minha vida, meu amor e gostaria que você soubesse disso. — Ela se desarmou como jamais havia ousado fazê-lo.

A intensidade de seus olhares, a vibração e o sentimento presente em suas palavras, a emoção daquele momento fizeram com que o clima ficasse tão tangível que o tempo e o espaço desapareceram. Não existia passado, não existiam mágoas e inseguranças, só existiam os olhos dele. Aqueles olhos que, apesar de tudo, tinham tanto efeito sobre ela, para bem ou para mal.

Heriberto, assim como ela, já estava completamente absorto naquela imensidão de sentimentos. Os dois se aproximaram, como se não pudessem mais guiar a si mesmos, sentindo o coração galopando dentro do peito e, sem que se dessem conta de como, suas bocas se encontraram em um inevitável e incandescente beijo de amor que também poderia ser uma despedida. Uma despedida insólita da qual só um deles tinha consciência.

***

Heriberto trabalhou naquele plantão como vinha trabalhando todos os dias: ansioso para que a noite chegasse logo e ele pudesse estar com Victoria. Haviam combinado de jantar fora aquela noite, ela havia pedido para que não dormissem juntos e ele cedeu sem saber que, na manhã seguinte ela pretendia encarar um vôo para os Estados Unidos.

Entretanto, no hospital, perto do fim do dia, ele recebeu notícias inesperadas e que seriam impactantes para Victoria. Os resultados de seus exames apontaram um diagnóstico que ele sabia que lhe afetaria de uma maneira aterradora e tudo que ele podia fazer era dizer-lhe imediatamente e brindar-lhe seu apoio incondicional.

Foi até a casa dela um pouco mais cedo do que o horário combinado e a empregada lhe avisou que ela estava reunida com alguns funcionários no escritório que, em algum tempo vinha receber-lhe. Ele a esperou na sala de estar e, logo após o fim da reunião, os empregados se despediram de Victoria e ele decidiu ir até o escritório cumprir aquela incumbência que ele sabia que pesaria.

— Você chegou cedo. — Cumprimentou ela com um selinho.

— Vim trazer o resultado de seus exames. — Ele mostrou os papéis em sua mão. — Victoria, eles demonstraram uma alteração. Sua mão, o acidente...

— O que você está dizendo Heriberto? — Ela indagou com aquele ar autoritário ao sentir que o que ouviria não podia ser bom pela cara dele.

— Você teve uma lesão séria nos ligamentos de sua mão direita Victoria. Uma lesão que exige um tratamento lento e algumas restrições. — Evitou os rodeios que ele sabia que Victoria odiava.

— Que tipo de restrições? — Ela inquiriu com o olhar fulminante.

— Você não pode mais desenhar. Nem manual, nem virtualmente. Não enquanto você estiver no tratamento para recuperação de seus tendões. — Ele disse aproximando-se dela para abraçá-la.

— Não! — Ela gritou empurrando-o. — Isso não pode ser verdade Heriberto, você está me dizendo essas coisas para me ter inútil e dependente a seu dispor, você está blefando!

— Victoria, eu sei que você está muito nervosa, mas como você pode pensar que para mim nossa história é um jogo de mentiras, blefes e enganos? — Ela indagou magoado. — Eu te amo! Te amo e vou estar ao seu lado para te ajudar a vencer essa adversidade.

— Amor! — Ela exclamou com sarcasmo misturado à uma dor ainda incompreensível. — Eu sabia que não devia ter fraquejado, que essa bobagem de amor só poderia trazer consequências como essas.

— Você não está sendo racional. Está me atacando porque sabe que precisa de mim como eu de você. Victoria, eu vou ficar do seu lado. Tudo vai estar bem. — Dessa vez ele conseguiu se aproximar e ela não resistiu ao abraço.

Chorou nos braços de seu homem enquanto o telefone do escritório tocava ao que ambos ignoraram dedicados à esse momento. Heriberto acariciava os cabelos de Victoria quando a secretária eletrônica atendeu o telefone e a voz animada de Fer quebrou aquele momento.

— Mãe, eu acabei de vir de sua casa e está tudo certo, a governanta já arrumou tudo. Estamos te esperando amanhã aqui em Miami com tudo exatamente como você gosta. Nesses três meses você não vai sentir a menor falta de casa.

***

Estranha SensaçãoWhere stories live. Discover now