Hora 2.

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Rafa definitivamente não era o que eu esperava. Quando Julia disse que havia arrumado uma carona com um dos seus colegas de classe alguém de sua idade, alguém divertido que iriamos ouvindo música e comendo besteiras, mas quando aquele prius parou na porta da minha casa me surpreendi ao vê-la. Julia não falou que era a mãe de um dos seus colegas, não me disse que seria dentre todas as pessoas, ela.
 Claro que eu já conhecia Rafaella, era famosa na nossa cidade com seus livros sobre como criar filhos e culinária; ela estava em todos os sites quando eu procurava alguma receita, ou nas portas das livrarias... Ela estava exatamente em todo lugar, mas não imaginava que estaria ali parada na porta da minha casa me esperando. Era algo que eu jamais havia imaginado. Ou sonhado. Mesmo que uma vez logo quando ela lançou seu primeiro livro eu tenha sonhado com ela.
 Mas agora, vejo que ela é apenas uma mãe solitária. Assim como eu. A viagem teve seus imprevistos quando tivemos que parar em um motel na beira da estrada para fugir da chuva, por mais relutante que ela estava, tomei a frente e peguei um quarto para nós, tirei a roupa e fui tomar banho, não vou negar que senti os olhos dela em mim enquanto me despia, nem quando ela entrou no banheiro para me entregar a toalha que havia pedido.
 Eu já havia reparado na sua beleza quando ela apareceu pela primeira vez nas entrevistas do jornal matinal, ou nas fotos das revistas enquanto eu estava na fila para pagar o almoço apressada para voltar ao escritório. Mas agora ela sem maquiagem ali na minha frente com uma toalha na cabeça e um roupão branco de motel que eu pude ver de verdade quem é Rafaella.
 Seus olhos de um verde intenso porém tão claro que parecia de vidro, seus longos cabelos louros e sua pele dourada de sol. Seu rosto parecia esculpido por anjos, mas sua altura parecia de uma guerreira amazonas, era enorme, assim como o sorriso que ela deu quando pedi para dançar, os olhos se fechavam de tão grande seu sorriso.
 Foi difícil conseguir que ela viesse até a hidromassagem, e compreendo que nem todas as pessoas estariam acostumadas comigo, sem pudor, estando pelada no dia que nos conhecemos, mas somos mulheres em uma situação única e não poderia deixar de aproveitar uma hidromassagem só por isso.
 Rafa sentou na espreguiçadeira na minha frente, depois de eu insistir que precisávamos nos conhecer, mas ela mal olhava para mim, seu rosto vermelho mostrava que ela estava incomodada com algo, talvez comigo. Então preferi começar a falar eu mesma já que ela de certo não começaria um assunto.
-Não sei se a Ju te falou, mas meu carro quebrou. Por isso precisei de carona.
-Meu filho falou, era aquele fusca que vi na sua garagem?
-Sim, ele mesmo, eu sei que está na hora de troca-lo, mas tenho tanto apego nele.
-Qual a história dele?
-Eu o comprei saindo da faculdade, estava aos pedaços e não funcionava. Mas Ju sabia bastante sobre carros então toda noite quando eu chegava do meu trabalho eu cozinhava algo ou simplesmente pedíamos comida e ficamos na garagem até duas da manhã concertando e conversando.
-Ju é seu marido, pai da sua filha?
-Não. Eu ri imaginando o que ela iria pensar se eu falasse quem era Ju. –Nem um nem outro.
-Como assim?
-Julia nasceu anos depois, quando Ju e eu terminamos conheci Marcelo, o pai dela.

 "Foi tudo lindo no começo eu me apaixonei perdidamente por ele, sabe? Íamos a várias festas juntos, era como se meu mundo todo tivesse mudado por ele. Casamos muito jovens e sei hoje que eu só aceitei casar com ele pois não tinha superado Ju totalmente, não me leve a mal, eu amei o Ma de verdade, mas não era algo saldável desde o início eu me perdi completamente nele, enquanto ele continuava o mesmo de sempre, me apaixonei por ele porque era o que eu precisava depois de um relacionamento caseiro. Marcelo era a minha liberdade, fiz coisas ao lado dele que jamais havia pensado em fazer com Ju, ou qualquer outra pessoa que estive, mas quando engravidei eu mudei, já não queria mais sair para festas, eu tinha uma vida para cuidar."
 Rafa agora me olhava, seu olhar era hipnotizante, demorei para voltar a falar.

 "Com seis meses, nos separamos ele disse que precisava de um tempo para repensar nosso amor.
Mas sabe de uma coisa? Amor não se repensa. Amor se sente.
Voltando do trabalho alguns dias depois de Marcelo sair de casa, encontro Ju, na porta da minha casa me esperando para conversar seu rosto estava pesado e triste, quase esquelético, quando me contou que ainda me amava que desde que havia descoberto que eu havia casado e estava grávida não conseguia parar de imaginar que essa era para ser a nossa vida. Nosso bebê. E ali com Ju eu senti tudo o que eu queria ter sentido desde a descoberta da gravidez com Marcelo.

One Day. (Girafa)Where stories live. Discover now