Hora 3

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-Conheci João quando tinha 15 anos, na banda da igreja.
Gizelly esperou que eu continuasse, sabia que ela iria me julgar, normalmente as pessoas  julgam quando falo que sou o que sou e não estou preparada para o julgamento dela. Por algum motivo queria impressiona-la. Respirei fundo e apenas deixei as palavras saírem da minha boca.
"Ele era o baterista, normalmente em uma banda o baterista sempre sofre porque ninguém lembra dele, mas eu só tinha olhos para ele com seu cabelo enorme, nem parecia que era da igreja, eu fazia parte do coro, não era a voz principal e nem queria ser.
Não nos falávamos muito. Aliás, ele mal falava lá dentro, as pessoas falavam muito que ele parecia uma menina que deveria cortar o cabelo, mas ele não se importava, não muito. Quando fiz 17 anos, fiz minha primeira viagem pela igreja, me tornei aprendiz de missionaria. Fomos para algumas cidades, levando sempre a palavra do senhor, ajudando com comidas e fazendo o que se faz, fiquei em uma pensão junto com ele. Éramos só nós, então não tinha como não conversar, acabamos nos tornando amigos e ao fim do nosso ano missionário, no meu aniversário de 18 anos ele pediu para namorar comigo."
-Viu! Que bonitinho seu primeiro namorado.
-E único.
-Esse João é o seu marido?
-Sim. Gi tentou não demonstrar surpresa.
-Pouco depois de começarmos a namorar ele foi para fora do pais estudar passou quase dois anos lá. Quando voltou o pai dele deu uma casa para nós tranquei a faculdade de psicologia que eu estava fazendo, e bom. Ele me pediu em casamento e eu aceitei. Pouco depois nasceu o Junior.
-E estão desde então, queria ter a sua sorte de achar alguém tão... Perfeito.
-Não somos perfeitos. Longe disso...
Pensei em hoje de manhã, em como tenho sentido nosso casamento se desgastar através dos anos.
-E a fama? Como isso tudo começou?
-Bom com a chegada do Junior, sendo mãe nova e de primeira viagem, eu não sabia muita coisa do que fazer, então comecei a anotar algumas das dicas que me davam e funcionavam, receitas saudáveis para quando ele começou a comer, os comportamentos que ele tinha e como não surtar com tudo aquilo sabe? Principalmente adolescência, sempre conversei bastante com ele, e sempre falei que ele tinha que tomar cuidado com o mundo.
"Mas ele sempre foi muito livre, Junior não é da mesma religião que eu, nem mesmo o João segue a religião, mas eu ainda faço trabalhos missionários. Também coloquei no livro como prosseguir sendo de religiões diferentes. Foi meio que um diário tudo. E com Junior quase terminando a escola e o João quase fora de casa o tempo todo, comecei a editar e criei um blog, algum editor me achou e quis publicar. De primeira não quis, mas ele falou que seria um sucesso, aceitei mais para rir dele, porém foi o que ele disse.
Fiquei assustada com toda a fama repentina, o que foi muito bom, não é que eu precisasse do dinheiro a maioria dele eu guardei para construir escolas e levar médicos para famílias carentes.  Meu editor então pediu para eu escrever mais e mais. Então vieram os dois seguintes, tenho um para ser publicado mês que vem de coletânea de histórias que eu contava para ele dormir.
E hoje estou tentando fazer um que não seja de ajuda, que seja simplesmente... Uma história sabe?"
-Uau, já sabe sobre o que vai ser a história?
-Ainda não, queria um romance, sempre gostei muito de ler romances, mas nunca consegui escrever um, talvez por eu ter tido apenas o João é como se eu não tivesse uma... Não sei dizer.
-É como se você não tivesse experiencias?
-Não. É como se eu não tivesse me apaixonado tão intensamente, não me leve a mal, eu amo meu marido, mas estamos casados a mais de vinte anos, não é como se ainda tivesse paixão entende?
-Entendo, isso é muito triste.
-Eu sei.
Me senti horrível ao falar isso, mas infelizmente era o que estava acontecendo. Eu amo meu marido com todas as forças, mas sinto saudade de me apaixonar de sentir todas as coisas que deveríamos sentir.
-Na verdade. Falei -Acho que nunca estive perdidamente apaixonada.
Gi ficou quieta apenas me olhando, ela sabia que eu precisava desabafar e por algum motivo ela era a pessoa que eu poderia finalmente me expressa em voz alta.
-Com ele foi tudo tão... Não sei a palavra talvez confortável?
"Eu nunca precisei lutar por ele. Nunca senti como se ele estivesse me ignorando ou não sei, essas coisas bobas de romance sabe? Com as milhares de borboletas no estomago, ou... as noites em claro pensando nele. Tudo aconteceu meio que só porque ele estava ali e eu estava ali, como se não tivesse alguém melhor e nem um dos dois nem ao menos quis procurara alguém melhor."
-É muito ruim pensar isso do próprio marido?
-Claro que não Rafa, na verdade é super normal.
-Normal?
-Sim, não deveria ser tão normal.  Suas palavras faziam com que eu me sentisse péssima. -Deixa eu te explicar melhor...
Gi pensou e respirou fundo, antes de voltar a falar pegou na minha mão e me olhou nos olhos.
-Isso é normal devido a sua religião, você casou muito nova, e realmente pode ser que os dois só tenham ficado juntos porque estavam ali, mas não significa que você não o ame, nem que não seja digna de uma paixão, aproveite que você não se sentiu perdidamente apaixonada como nos filmes ou livros que você gosta e coloque em palavras o que você queria que fosse sabe? Crie uma paixão avassaladora da forma que você Rafaella gostaria de viver.
Uau, suas palavras martelaram em minha mente, ela não soltou minha mão, ao contrário ela segurou fazendo carinho com o dedão. Senti meu corpo se arrepiando.
-Acho que a coisa mais interessante que aconteceu comigo, nem foi exatamente comigo, eu sempre vou para África, tenho uma ONG que ajuda já disse isso?
-Sobre a ONG sim, mas não que você vai para África!
-Bom algumas vezes por ano eu vou para lá, e alguns anos atrás minha irmã Marcela foi junto, foi algo muito bom sabe?
"Fizemos vários trabalhos, e enquanto eu me apaixonava pelas crianças, ela se apaixonava pelo meu segurança, passamos 3 meses lá, e na hora de voltar ela me disse ficaria, que era pra eu levar a mamãe e o papai e que eles casariam Fiquei sem entender, mas voltei e peguei meus pais, quando voltamos tinha ela estava com roupas típicas tão lindas, varias das crianças que eu me apaixonei estávam lá nos esperando, foi tão incrível e tão gostoso, foi uma cerimônia linda, me emocionei tanto.
Acredito que tenha sido mais bonito até que o meu próprio casamento, os dois estavam com roupas brancas e dourada, e todos os convidados com roupas coloridas, como era no fim da tarde tinham tochas no chão, e atrás deles o lindo pôr do sol laranja e vermelho! Foi a cena mais linda que eu já vi."
-Nossa deve ter sido a coisa mais linda!  Meu sonho viajar para fora, conhecer a África.
-Um dia eu te levo. Senti a forma como a frase saiu da minha boca, Gi me olhou um tanto estranha e senti meu peito apertar, pigarreies, sentindo a garganta seca.
-Minha família é muito unida sabe?! Principalmente depois que me mudei pra cá muito nova.
-Como se você fosse muito velha agora né Rafa?!
-De fato não sou.
- E como eles reagiram com seu casamento nova?
-Minha irmã Marcela não concorda até hoje, acha que eu deveria ter esperado mais, conhecido mais gente, meus pais na época achavam perfeito, ele é um bom rapaz e na época era um jovem com a cabeça no lugar diferente das pessoas da nossa idade sabe?!
"Fora que, como já disse vim para a cidade muito nova, então sempre fui muito madura e independente,  aos 14 anos estava morando sozinha em uma cidade grande como essa, meus pais confiavam, aliás, confiam em mim bastante. Então quando falei que havia encontrado uma religião e um homem que me deixassem confortável eles aceitaram de cara!"
-Meus Deus muito novinha, o que veio fazer aqui assim tão criança?
-Você vai rir. Tentei desviar o olhar dela, sentindo meu rosto queimar.
-Prometo que não!
-Tentar ser modelo e fazer um curso de teatro.
-Modelo eu entendo, afinal olha só você linda demais!
Gizelly me olhava  de cima a baixo, me senti nua, e por um instante gostaria de estar.
-E conseguiu?
-Não, fiz alguns trabalhos, mas nada muito famoso. Como já disse, encontrei João muito cedo, talvez se eu não tivesse largado tudo para ser esposa e mãe?
Como seria minha vida se as coisas fossem diferentes? Talvez eu não tivesse Júnior, talvez ele fosse outra pessoa ou talvez, eu não tivesse nenhum filho, sem filho não teria meus livros, e hoje não estaria aqui, com essa mulher maravilhosa.
Gizelly nadou por toda a hidro, mesmo com as bolhas, com alguns movimentos eu conseguia ver seus seios, as vezes sua bunda, e por mais que eu tentasse, não conseguia desviar os olhos dela e de sua beleza.
  Seu corpo não é igual ao das revistas, ou até mesmo ao meu, mas parece aquelas obras esculpidas pelos melhores escultures famosos, a forma como a água beija seu corpo, como a espuma toca-lhe a pele, tentando encobrir o que ela parecia querer deixar amostra. Senti ciúmes da forma como tudo ali parecia envolvê-la, menos eu.
Eu poderia, tirar o roupão e entrar com ela, mas eu poderia toca-lá da mesma forma? Eu poderia senti-la da mesma forma?!
Me levantei rapidamente, o que eu estava pensando?! Rafaella você é uma mulher casada, fui ao banheiro deixei Gi me chamando, minha voz não saia e mesmo que saísse iria falar o que?! Estou me sentindo mal pois estou pensando em quão perfeita você é nua?! Meu Deus não!
Fechei a porta do banheiro e me olhei no espelho, me vi pálida e com o olhar espantado, joguei água no rosto algumas vezes antes de sentar na privada e colocar a cabeça entre os joelhos, o que com a minha altura sempre foi algo muito difícil de fazer.
O que está acontecendo Senhor? O que está acontecendo comigo? Porque meu coração tá tão rápido e minha mente não consegue parar de pensar naquele corpo. Meu deus porque não consigo parar de querer sentir sua pele macia na minha?
-Rafa?
Era só o que faltava, ela batendo na minha porta agora, tentei falar que saia em um minuto mas a voz falhou.
-Rafa eu estou com fome, vou pedir hambúrguer você vai querer?
Não conseguia responder, abri a porta e ela estava parada na porta, o cabelo na toalha e o roupão de volta escondendo sua nudez, respirei fundo e disse que sim.
-Ótimo, não aguento mais de fome.
Gizelly se jogou na cama, pegando o telefone ao lado e discando o número da recepção. Deitei ao seu lado na cama e encarei a televisão, mas Gi não conseguia ficar parada, parecia que tinha formiga na bunda, deitou de lado com as pernas em cima de mim, enquanto conversava ao telefone.
-Quero dois hambúrgueres tamanho família, com duas batatas completas a parte, e um guaraná grande.
Suas pernas ainda com algumas gotas de água balançavam em mim como se pedindo por carinho, com receio, pousei minhas mãos em sua pele macia, sentindo minha boca secar.
-Vai querer sobremesa? Ela olhou para mim, mas eu não conseguia responder. -Sim, quatro por favor.
Gizelly respondeu por mim, eu sabia que ela estava pedindo uma quantidade absurda de comida, mas, parecia estar impossibilitada de falar algo, apenas fiquei ali, observando suas pequenas pernas em mim, a pele macia, o roupão se elevando na coxa, entre aberto no peito, seu cabelo escorrido molhado para fora da cama, parecia uma criança com a cabeça pendurada para fora da cama, pelo espelho conseguia ver seu rosto vermelho com todo o sangue subindo pra cabeça.
-Vai ficar com dor da cabeça se continuar assim.
-Credo parece eu falando com a Júlia quando ela era pequena.
-Sinto muito.
-Cadê a comida? Estou com fome!
-Gizelly você acabou de pedir, uma quantidade para um exército, vai demorar ainda!
-Eu sei! Mas... Ela bufou, se esticando na cama e colocando a toalha na cabeça de volta. -Quer ver um filme?!

One Day. (Girafa)Where stories live. Discover now