Magic Shop • Jenlisa

Double Pain.

                                 JENNIE

O relógio marcava 5:37 da manhã. Isto significa que estou tentando dormir faz exatos trinta e sete minutos, mas como é totalmente nitído: não consigo. Estou rolando no colchão - no espaço onde não tem cadernos e canetas - esperando ao menos um cochilo porém meu cérebro não está a fim de me dar isso. E também, como poderia? O nervosismo em falar com a minha mãe está me consumindo aos poucos, se prendendo em todas as minhas raízes e fazendo um imenso estrago no meu interior. Sei que devo conversar com ela mas um lado meu não quer. Esse lado - que julgo ser grande demais - não quer entende-lá, ouvir seu lado da história ou ao menos dirigir a palavra à ela, ele só quer sentir raiva. Raiva por tudo o que estamos passando nessa droga de casa, por essas brigas estarem afetando Ella e à mim e o quão isto está me prejudicando mais do que o esperado no colégio. Quero dizer, quando foi a vez em que me atrasei tanto para fazer os deveres? Nunca havia feito os trabalhos num dia antes da sua data de entrega, não sou assim.

O domingo passou voando, para o meu desagrado. Tive a impressão que as horas do dia foram diminuídas e quando me dei conta, faltavam somente alguns minutos para meia-noite e isso significava o ínicio de mais uma semana. Foi nesse momento que me lembrei de algumas atividades que precisavam ser entregues na segunda de manhã e passei a madrugada as fazendo, finalizei tudo cinco horas da madrugada. Ainda tinha materiais escolares largados na minha cama, tive preguiça de guarda-lós por querer tanto dormir nem que fosse por uma hora. Mas isto claramente não ocorreu, então precisarei ir para o colégio virada. Me sentando na cama, esfrego o rosto repetidas vezes e retiro o edredom das minhas pernas para assim as colocar sob o chão e me arrastar até o banheiro. Como eu queria voltar para o sabádo à tarde... ainda preciso pensar em algo pra mostrar minha gratidão à Lisa, mas o que dar para alguém que já tem tudo? Onde leva-lá? É impossível negar o quão Manoban foi gentil comigo, sem ter obrigação nenhuma me consolou mais de uma vez e ainda levou à mim e Ella para um passeio inesquecível.

É óbvio que no meu interior ainda tem o temor de tudo estar acontecendo novamente. Afinal... eles são assim. O tipo dela é exatamente assim. Atraentes, gentis, cheios de gracinhas com segundas intenções e terrívelmente fatais. Mas, talvez eu possa dar um braço a torcer e ser amiga dela. Lisa parece ser daquele tipo de amigo que revira o mundo para te fazer bem. E bem, ela anda provando de forma excelente que não é uma canalha. Talvez não seja. Ou somente finge muito bem. De qualquer forma, irei tentar não ser muito rude e não julga-lá me baseando em minhas experiências desastrosas do passado.

— Ruby?

A voz de minha mãe se fez presente no quarto, nem sequer ouvi ela bater na porta. Murmurei um "estou no banheiro" em resposta e poucos segundos se passaram até ver a sombra da cabeça da mulher aparecer no meu campo de visão. Já estava dentro do box fechado e a água encharcava meu corpo aos poucos, não tive vontade de abrir a porta para ve-lá direito.

— Estou fazendo o café. Quer melado ou chocolate nas panquecas?

— Não estou com fome.

Respondi de forma áspera até demais. Eu não queria estar agindo assim, não queria estar tomando um partido mas... me dói tanto saber o que Wendy anda fazendo pelas costas do meu pai, que parece tão chateado com todas essas brigas...

— Não irá comer nada antes de sair? — a surpresa era evidente em sua voz. — Está se sentindo bem?

— Sim. Posso tomar banho, mãe? — retruquei sem nem pensar e ela se calou por alguns segundos.

— Pode! Me desculpe.

Com esse murmúrio, ela some do banheiro e eu escuto a porta do quarto bater. Aperto os meus olhos fortemente, não deveria ter sido tão estúpida com ela, eu... esse conflito entre os meus sentimentos está me deixando impulsiva e totalmente confusa. Estou irritada e decepcionada com minha mãe mas definitivamente eu não tenho o direito de trata-lá dessa forma. Nunca havia sido tão desrespeitosa.