Cap.87

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Flávia

Pela milésima vez naquela mesma semana, eu estava sentada em uma lanchonete fazendo o meu lindo papel de besta. Não tinha quase ninguém naquele local, era eu, um velho bêbado quase dormindo e o atendente.

   Estava me arriscando vindo em um local totalmente esquisito, e longe de visão de qualquer pessoa conhecida. Aliás, quem em sã consciência marca alguma coisa em um lugar como esse?

   Eu assisto muitos filmes e leio muito sobre serial killers, deve imaginar oque estava passando na minha cabeça.

   Imagina, um homem entra nessa lanchonete, começa a atirar em todo mundo. Sou levada como refém...

   Perdi meus raciocínios quando um carro parou na estrada. Um carro muito bonito, por sinal. O dono da lanchonete ficou surpreso, acho que quase ninguém vem aqui.

   Me virei. Um velho saía do carro. Quando entrou na lanchonete, arrumou seus óculos escuros e seu terno, enquanto andava na minha direção.

  — Você é a Flávia? A menina que marcou comigo? - Perguntou quando se aproximou.

   Por incrível que pareça, não senti uma energia boa vindo desse homem. Senti uma ânsia de vômito. Não sei se foi o seu perfume doce ou a coxinha que comi antes de vim para aqui.

  — Bem, oque você quer saber? - perguntou, logo depois que eu confirmei ser a Flávia.

  — Você conhece mesmo a menina da foto? Eu preciso que você me conte como posso encontrá-la.

  — Aonde você achou essas fotos? Qual motivo você está atrás dessa menina? Me diga, pra que você quer encontrá-la?

  — Por que ela é a irmã do meu marido, ele nunca chegou nem a conhecer sua própria irmã. Não teve a oportunidade nem de troca uma simples palavra com ela. Você não acha que ele deve pelo menos conhecer sua única irmã?

  — Acho que vocês deveriam não se intrometer aonde não foram chamados. Você, menina, é muito velha para brincar de detetive, não acha? Seu marido deveria te mandar parar, tomar uma ordem. 

   Ele tirou uma foto pequena do bolso do seu blazer, meio desgastada, e colocou na minha mão.

  — Isso é o mais próximo que você vai conseguir chegar nessa sua investigação. E me agradeça por te entregar essa foto.

   Era uma menininha, deveria ter cincos anos. Ela sorria e segurava uma boneca.

  — Você é o pai do Manoel né? O senhor deveria ter vergonha da pessoa que é. Nunca esteve presente na vida do seu filho. Eu fico tão feliz pelo o homem que o mesmo se tornou, ainda bem que não preciso da sua ajuda.

  — Flávia, não se meta comigo. Você deve me conhecer suficiente para saber o quanto eu posso ser ruim com as pessoas que querem atrapalhar os meus negócios. Deixe a minha filha em paz, ela não quer contato algum com o Manoel. Peço que tire aquela postagem, nada disso aconteceu, ninguém fica triste.

  — Você é um ser humano tão horrível. Sua filha deve sentir repulso do senhor. Quem não sentiria? Meu Deus, eu juro que tô tentando não chegar ao seu nível, mas, que diabos, eu não suporto você. Por tudo que você fez, eu não consigo olhar na sua cara e não sentir uma vontade enorme de vomitar.

  — Flávia...

  — Não, eu não quero escutar nada que venha de você. O senhor é nojento. Eu quero que o meu filho conheça toda a sua família, eu quero que ele conheça a sua tia. Inferno.

  — Não vai conseguir nada com isso. Não sinto pena nem de mim mesmo, imagina de uma criança. Vou falar pela a última vez, é melhor você deixar as coisas como estão ou vai se arrepender.

   O homem se virou e saiu do local, andando até o carro.

   Respirei fundo, tentando conter as minhas lágrimas de frustração.

   Paguei a comida e pedir desculpa por alguma coisa que causei. Entrei no carro, logo, despenquei em lágrimas por não fazer nada certo, por sempre estragar tudo.

   Olhei para aquele carro dando ré. Sem nenhum sinal de aviso, um caminhão se aproximava, cada vez mais perto do carro preto. Vi na frente dos meus olhos o carro saindo capotando pela a pista.

   Eu só conseguir pensar: isso só acontece comigo.

   Enquanto o senhor da lanchonete correu para olhar e o motorista do caminhão ligava para a ambulância, eu apertava com força o volante. Em um estado péssimo.

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