Cap.88

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Menor

Fiquei desesperado quando a Flávia ligou falando que estava no hospital. Porra, essa garota só coloca o dedo aonde, com toda certeza, vai da merda.

Vesti a primeira roupa que vi e fui para hospital. Puta merda, para aonde ela foi sete da manhã? Foi colocar comida para os animais na fazenda?

Foi alguns minutos de viagem, quando eu cheguei lá, a Flávia estava sentada na recepção com o corpo toda tremendo.

Me sentei ao seu lado, puxando o seu corpo em direção do meu.

— Eu acho que matei uma pessoa... - Ela sussurrou. Como assim ela matou uma pessoa e não sou eu?

— Nossa, oque rolou?

— Para, menor. Não é hora de brincar. - Ela se soltou do meu aperto e arrumou o coque. Depois, me olhou seria demais. — Eu... eu acho que matei o seu p-pai.

— Nossa, você me fez um favor. - Coloquei o seu cabelo atrás da orelha, beijando o canto da sua boca.

— É sério, menor. Isso é muito sério.

— Eu tô falando sério, pô. Esse homem já tá morto muito tempo no meu coração, não é que agora vai ter um enterro que vai ser diferente.

A Flávia parou um pouco de tremer, entretanto, ainda olhava para as mãos. Ela estava meio que fazendo uma dança com os dedos.

— Calma, meu amor. Esse estresse todo não faz bem para o bebê e nem para você. Quer um pouco de água? - Ela negou com a cabeça.

O médico parou na nossa frente. Ele começou a falar sobre o estado do Paulo, eu nem conseguia escutar. Só olhava para o chão esperando aquilo acabar para poder comer a minha pizza.

— Quer ver ele? - Perguntou, fiquei meio apreensivo, mas, decidi ver o filho da puta.

   Entrelacei meus dedos com os da Flávia, sentindo eles gelados. Abracei seu corpo, pedido para ela se acalmar. Não tem para que ficar com medo de um doador de esperma.

   Quando entramos no quarto, os olhos do homem veio na minha direção. Ele estava bem diferente desde da última vez que o vi.

   O médico saiu do quarto.

  — Meu filho, fico tão feliz que você tenha voltando. Fico tão feliz. Você, meu filho, será dono de tudo que é meu agora. - Ele falou com um pouco de dificuldade.

   Vou te falar, é cada coisa.

  — Senhor, me desculpe, mas eu não quero nada que venha do seu nome. Nada. Fico muito feliz por isso, entretanto, já estou construindo a minha vida, sem a sua ajuda, mais uma vez.

  — Meu filho, mas... está tudo no seu nome. Você que vai herdar tudo, é o certo a fazer.

  — Claro, agora me diga. Essa "herança" iria ficar para mim mesmo se eu aparecesse aqui? Eu não quero nada.

   Me virei para sair. Quando coloquei as mãos na maçaneta, o velho chato falou:

  — Está tão mudado, não reconheço mais a criança que me pedia para comprar doce quando voltasse do trabalho.

  — Será que é porque isso aconteceu á vinte e um anos atrás. Vamos Flávia, você não queria conhecer a minha irmã? Daqui a pouco, a mesma tá por aqui. - Acenei para a menina que estava no canto do quarto, sabia que era a minha meia irmã, mas, por Deus, eu esqueci o seu nome.

   Saí do quarto, vendo o médico conversando com uma mulher. Ela não estava tão preocupada quando entrou no mesmo quarto que eu saí.

  — Puta que pariu, essa mulher é a tua irmã? - Minha esposa perguntou, concordei com a cabeça, ainda chocado.

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