Déjame dicerte

Nos perdermos

Suas palavras ecoavam em minha cabeça “Ele me chamou para ir pra Espanha” a cada vez que eu escutava sua voz dizendo isso meu coração doía mais e mais. 

Eu não entendia o que ela queria dizer, mas aos poucos tudo ia fazendo sentido. Hoje mais cedo ao escutar o Manuel dizendo que o Victor tinha ido viajar para a Espanha eu não sabia o que sentir, se raiva por ele ter ido embora sem falar a verdade para toda sua família, ou alívio. Eu sei era errado me sentir assim.

Mas ouvir da boca a Ana que ele a convidou, eu me sentia perdido, como a tempos eu não sentia.

Ana: Thiago me deixa explicar! – ela se aproximou e eu me afastei – Não faz isso por favor!

Eu não conseguia raciocinar, lembro exatamente de tudo que senti nesse dia. Do medo e do desespero, de me sentir um nada, de esperar sem notícias e da sua mensagem. Que me deixou em pânico, pois ela parecia uma mensagem de despedida.

Despedida!

Tudo fazia sentido agora, Ana ia embora com ele. Ia fugir como fez anos atrás, quando ela me deixou se nem se despedir.

Ana: Thiago....

Thiago: Tudo faz sentido agora – eu andei pela sala tentado me manter longe – Sua mensagem, você estava se despedindo de mim!

Ana: Por favor não é assim – ela chorava e eu só queria a abraçar – Não foi assim, eu posso te contar tudo.

Thiago: Agora? – não quis ser rude mais eu não consegui – Sabe como eu me senti nesse dia e como me senti ao ouvir aquela mensagem? – ela negou com a cabeça – É claro que não sabe!  Porquê estamos escondendo coisas demais.

Ana: Eu sei que sim Thiago – ela tentou mais uma vez se aproximar, mas desistiu ao ver o meu olhar – Estamos escondendo coisas demais. 

Eu sabia que muito era por minha culpa, estávamos nos perdendo e eu não sabia se um dia poderíamos nos encontrar. 

Thiago: Por muito tempo eu sonhei com você Ana – ela me olhou sentida – E quando enfim estivemos juntos eu me senti a pessoa mais feliz do mundo, pois a pessoa que eu amo sentia o mesmo que eu – eu já não conseguia controlar minhas lágrimas – Mas eu tinha medo – como doía admitir isso – Medo esse que só aumentou quando o Víctor soube de nós dois.

Ana: Eu não tinha ideia Thiago – ela tentava se acalmar – Eu não vi como isso te machucava, eu sou horrível.
 
Thiago: Não é – disse rápido – Como poderia saber se eu não disse? Se eu tinha tanto medo de te machucar? Se eu lutei contra tudo isso em vez de falar com você – eu tentava controlar minha respiração – Sabe como dói saber que eu passei o dia desesperado e você estava com ele? 

Ana: Eu sei, por isso não queria te contar – eu a conhecia – Me deixa falar o que aconteceu. 

Thiago: Não Ana – eu vi ela recuar – Eu não quero saber! Eu não quero mais saber – eu respirei fundo novamente – Não vê o que está acontecendo com nós dois?

Ela me olhava sentida e eu queria poder ir ao seu encontro e a abraçar, mas eu não podia, tudo em mim era dor, tudo em mim era tristeza. Ela estava lá com ele. E isso eu não conseguia entender. 

Ana: Por favor Thiago.

Thiago: Sabe Ana o que está me machucando não é você ter ido lá falar com ele – ela sabia que eu estava sendo honesto – Mas não me falar, não dividir comigo isso me destruiu e eu sei que tenho culpa nisso – eu olhei diretamente em seus olhos – Eu não posso mais viver assim.

Ana: Não Thiago não fala isso.

Thiago: Prometemos um ao outro não esconder mais nada e eu escondi – me aproximei – Escondi meu medo e meu receio, escondi meu ciúmes – ela ainda se mantinha calada – Como você escondeu de mim que estava com ele.

Ana: Eu não queria te machucar Thiago.

Thiago: Mas machucou – falar isso me corroía a alma – Eu não consigo mais viver com esse medo Ana, confuso, sempre pensando se você pode ou não sentir algo por ele – eu chorava – Não sabe como eu me sinto mal por isso, por pensar assim, pois eu sei que você não brincaria comigo. Dói toda essa confusão. 

Ana: Eu nunca faria isso com você Thiago acredita em mim – ela se aproximou de mim – Por favor?

Fui ao seu encontro e segurei sua mão, meu coração ferido se encontrou com suas lágrimas de dor.

Thiago: Eu sei que não Ana – a abracei forte enquanto ouvia seu choro sentido – Eu sei que o que sente por mim é real e eu não duvido disso, mas não consigo mais viver assim – me afastei um pouco e olhei em seus olhos – O que está acontecendo com nós dois, tudo que estamos escondendo está fazendo mal e eu não posso mais Ana, tudo em mim dói e eu sinto muito. Mas o nosso namoro acabou – a abracei de novo enquanto chorávamos por tudo que passamos e que escondemos.

Ali em seu avanço eu chorei porque estava perdendo a mulher que eu sempre amei, que eu sonhava por tanto tempo. Machucava saber que nos queríamos, mas que era necessário isso. Eu sentia que que nos perderíamos para sempre se continuássemos assim.

Me soltar do seu abraço foi a coisa mais difícil a se fazer, olhar para ela e não consegui dizer que tudo ficaria bem era doído demais. Toquei seu cabelo e olhei tentando mostrar para ela que eu a amava, mas não sábia se tinha conseguindo. A mágoa e a dor me nublada e então eu a soltei e sai dali. Sem olhar para trás. Eu te perdi Ana. Eu te perdi!

O céu parecia escuro assim como o meu coração que não batia mais forte como antes, as lágrimas vinham e vinham trazendo para fora tudo que meu coração sentia.  Eu queria poder voltar lá e dizer que tudo ficaria bem. Eu queria dizer que sabia que ela me amava, pois eu sabia. Eu queria dizer que ainda não me sentia inseguro, mas eu me sentia e foi por isso que não deixei ela falar, eu sabia que precisava ouvir o que ela tinha a dizer. Mas o que mais me doía era que eu tinha medo de como ela estaria agora, eu queria voltar, mas pela primeira vez em minha vida eu não consegui. Eu não consegui, pois o que eu sentia nesse momento era muito mais forte a minha dor do que a necessidade de estar com ela e isso me destruía mais e mais minha alma.
O homem e amigo que sempre esteve lá não conseguia estar agora. O medo dela estar mal e precisando de ajuda não saia da minha mente. Eu não conseguia ir, mas eu não a deixaria sozinha, estava na hora de pensar em mim, de sentir tudo isso sem medo. E foi por isso que eu peguei meu celular e mandei uma mensagem para a única pessoa que antes da Ana sabia do meu medo de perde-la. 

Ao enviar a mensagem eu me entreguei a dor por completo, a dor de saber que ela tinha ido embora anos atrás, a dor de vê-la sempre falar dele. O medo de ter estragado tudo. A confusão de pensar que ela estava brincando comigo. E toda essa insegurança, o medo da desconfiança e como isso afetou nossa amizade. 

A cada soluço sentindo, eu pensava em sua mensagem e na sua voz dizendo que me amava e em como isso soava uma despedida. E a verdade em saber que ele a chamou para ir para a Espanha.  Tudo isso em minha mente me deixava tonto e confuso, mais o que me destruía mais era que o medo ainda existia. O medo ainda estava aqui e isso me mostrava que eu pedir. Mas uma coisa eu tinha feito que mudaria as coisas para sempre, eu estava enfim sentindo tudo, mesmo que seja toda essa dor, pela primeira vez em muito tempo eu me priorizei e isso mudaria as coisas de um jeito que nem eu sabia.

E em meio a um céu escuro eu chorei, pois nos perdemos.

O que eu ainda não sabia era que para nos encontrar, tínhamos que nos perder.