Um dia

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Olho para o trabalho terminado, a cor da parede continua o mesmo, mas as caixas já não existem mais. Vejo as velhas fotos misturadas com as novas, o guarda roupa deixou de ter roupas de uma adolescente, mas as roupas que estão aqui agora, ainda são coloridas, lembrando a garota que fui um dia.

Sorrio, mamãe disse que quando quiser vim passar uma noite ou uns dias, meu quarto estaria pronto para mim. De tudo que tinha aqui, o que mais me deixa feliz é o teclado do lado da cama, penso em todas as noites em claro compondo, em todas as vezes que escutei meus pais dizendo para tocar mais baixo. Ou até mesmo quando os pegava me observando.
 
Sinto vontade de tocar e me aproximo do teclado, começo a dedilhar algumas notas, era sempre assim, a música me tomava de um jeito tão especial, como diria minha mãe. Eu nasci para isso.

Me perco na melodia da música até notar minha mãe me observando, seu sorriso era doce e hoje livre de qualquer medo. Estávamos todos juntos de novo e isso era o que importava, termino a última nota e ela bate palmas. 

Alice: Saudades de te ouvir tocar – sorriu envergonhada – O chá está pronto, vamos?

Me afasto do teclado e vamos para a sala, ao chegar noto a bandeja com biscoitos e o chá que ela tinha acabo de preparar. Eu amava passar o tempo com a minha mãe.
 
Alice: Sabe dos Gutierrez? – mamãe queria saber como todos estavam, sua preocupação era genuína.

Ana: Alex está cada vez mais animado e voltando a fazer os seus vídeos – ela sorriu contente – Já pelo que sei, o Victor ainda está tentando se aproximar da Paula. 

Alice: Espero que ele consiga – ela colocou um pouco de chá para mim – Todos eles merecem, independente do que fizeram, eles merecem uma segunda chance de ser feliz.

Concordei com ela, todos erramos e merecíamos recomeçar, ainda não estava pronta para perdoar o Victor. Mas eu o queria feliz, ele estava aprendendo e tentando se reaproximar da família e pelo que eu sabia, estava começando a conseguir. Sabia que ele lutaria pra isso. 

Já o Antônio seguia preso e não demorou muito para ele confessar que também era um dos autores do vídeo, ele logo disse que o Marcos estava junto nisso tudo e uma investigação foi feita. Marcos tinha apagado quase tudo, mas ainda sim tinha algumas provas que o incriminava, ele era esperto, mas nem tanto assim. Além de ser demitido do Laix que nesse momento lutava para se reerguer, ele ainda estava respondendo por chantagem, difamação e pela lei do segredo de justiça. O que o Thiago me disse era que ele tinha sido preso, eu não sabia por quanto tempo ele ficaria lá. Já o Victor também teve que lidar com a justiça, mas como ele tinha perdido eu e seu irmão e levando em consideração a manipulação do seu pai e o seu depoimento, ele teria que prestar serviço comunitário.

Minha mãe ainda me olhava carinhosa, ela tinha um olhar pedido em amor e força.
 
Ana: Tá tudo bem mãe? – ela fez uma careta. 

Alice: Só estou orgulhosa do que se tornou e me perguntando se eu tive algo haver com isso – segurei sua mão.
 
Ana: Tem tudo haver com isso – bebi um pouco do meu chá – Sabe quando eu ainda estava na casa do Thiago lá no passado – ela me olhou interessada – Maria sempre me dizia que minha família tinha me criando muito bem, porque segundo as palavras dela, eu sou um ser humano incrível – rimos – Menos quando eu cozinho – falei desolada.
 
Alice: Ela está certa em tudo – fiz uma careta – Sabe te vendo tocar hoje, eu lembrei de quando você me falou que seria uma cantora de sucesso. 

Lembro com exatidão, eu tinha medo de não ter a aprovação deles, mas mamãe como sempre me olhou compreensiva e me perguntou se era o que eu realmente queria. Eu disse que sim e ela falou que não seria fácil, mas que sempre torceria por mim e que estaria aqui para o que precisasse.
 
Ana: O sonho era cantar em todos os lugares – disse me lembrando – Lotar estádios.

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