Capítulo 3

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Não levou cinco minutos e Mayara voltava com outra maca pelo elevador. Assim que ele se abriu, peguei a lateral da maca dela.

— Essa aqui está pior. – Ela avisou, sem sair do elevador e este se fechou.

Corri com a maca para a sala que a Dra. Lins indicou e ao chegar lá olhei a paciente. Ela estava desacordada. Tinha inchaços por todo o rosto e seu braço estava em um ângulo pouco natural.

Olhei pela porta e a Doutora estava ocupada com a moça que chegou antes, então me aproximei da maca e comecei a apalpar a paciente. Registrando o que avaliava. Quando cheguei no braço, o coloquei na posição certa, puxando para o ângulo adequado. Olhei à volta e localizei uma tala em uma estante na parede, corri até lá, a peguei e prendi no braço da mulher. Apalpei seu abdômen em busca de hemorragias ou ossos quebrados e nem notei a Dra. Lins atrás de mim.

— Qual sua avaliação? – Ela me assustou.

Pulei no lugar, me virando para ela e fiquei vermelha.

— Não precisa se constranger, vejo pela tala bem colocada que sabe o que está fazendo. Logo, qual a avaliação? – Ela sorriu para mim.

— Várias lacerações, fratura na mandíbula, duas ou três costelas quebradas e o braço também. Não há inchaços aumentando ou enrijecimentos, então acho que não tem hemorragias internas. – Respondi, ainda um pouco constrangida.

— Muito bom! – Ela elogiou, enquanto refazia minha análise com suas próprias mãos – Vamos fazer um escaneamento para ter certeza quanto aos órgãos internos. – Ela piscou para mim – Inteligência. – Ela chamou e uma voz eletrônica respondeu pelos autofalantes das paredes.

— Sim, Dra. Lins?

— Escaneamento completo da paciente da sala 3.

Levou cerca de três minutos.

— Trinta e duas lacerações superficiais, contusão ocular, mandíbula fragmentada, úmero esquerdo e costelas do lado esquerdo sete, oito e nove fraturadas. Negativo para hemorragias internas. – A IA (Inteligência Artificial) informou.

— Obrigada. – A doutora dispensou a IA, se virando para mim – Está melhor do que aparenta, não se preocupe.

— Eu sei. – Contei.

— Interessante. Você entende muito mais disso do que a maioria dos adultos que conheço. – Ela sorriu – O soldado que a trouxe disse que você não tinha para onde ir... – Ela falava mais para si mesma do que para mim.

Ela olhou atentamente para mim de novo e voltou a falar.

— Por que não lê o regimento dos institutos de saúde de Zarov, Valquíria? Tem um exemplar físico na minha sala. Sabe onde fica, assim que terminar de tratar desta paciente e informar os parentes das duas na recepção do térreo vou até lá. O que acha?

Assenti, sem alternativa. Ela me olhava com tanta empolgação, que simplesmente não consegui protestar. Segui para a sala dela e procurei na estante enorme da lateral da sala. Não foi difícil encontrar.

Me sentei no sofá da sala dela e comecei a ler o regimento. Levei mais de meia hora para chegar a parte do manual que me fez entender a empolgação da doutora.

Segundo as informações, qualquer indivíduo que não tivesse residência, família e condições de pagar por seus estudos, poderia se inscrever em um instituto de saúde como voluntário residente. Em troca de trabalho no local, teria alojamento e alimentação, bem como tempo disponível, fora de seu turno, para estudos que seriam custeados pela coroa, como forma de pagamento pelo trabalho se bem executado, conforme relatórios do médico chefe responsável pelo referido instituto.

Valquíria MaresWhere stories live. Discover now