Capítulo 13

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De manhã, com calças de couro pretas, botas e camiseta justa verde água, me sentindo muito feliz com minha aparência, adentrei o auditório da UMR e me sentei no lugar de sempre esperando meus amigos. Ou melhor, Enzo. O restante eram amigos dele que me aturavam apenas por minha inteligência, que sempre lhes garantia altas notas nos seminários.

— É você mesmo? – Enzo me encarava boquiaberto.

— Para de palhaçada! É claro que sou eu, seu mané.

— Bem, pelo menos a grosseria continua a mesma. – Ele gargalhou, se sentando ao meu lado.

— Valquíria? – Joshua, amigo do Enzo, chegou arregalando os olhos para mim. Seguido do bando todo de patetas, todos me olhando embasbacados.

— Lembrou que tenho nome? – Ergui a sobrancelha para ele com um meio sorriso. Afinal, o bando todo me chamava de magricela, mal desenvolvida, raquítica etc. há anos.

— Você está...

— Tentando prestar atenção à palestra que já começou, caso não tenha notado. – O interrompi, provocando.

— Senta aí, Joshua. – Enzo revirou os olhos para o amigo – Agora é tarde para desfazer anos de gracinhas idiotas, zé ruela.

— Mas... – Denis, ao lado de Joshua começou.

— Mas nada. Eu avisei que vocês iam se arrepender das brincadeiras de mau gosto. – Enzo riu.

— Calem as bocas, merda. – Mandei o mais baixo que consegui.

Me concentrei na palestra e Enzo, apesar de cochichar várias vezes com os amigos do lado dele, também se concentrou no palestrante.

Me surpreendi que as três palestras, normalmente sem fim, terminaram muito mais rápido do que o normal. Em outras palavras, o que geralmente levava seis horas, hoje durou apenas duas. Agradeci mentalmente pois os olhos que se voltavam para mim, vez ou outra, de todos os lados estavam me incomodando. Enzo era o único que estava agindo normalmente comigo.

— Graças aos deuses, por hoje acabou. – Não pude deixar de comemorar quando a terceira palestra terminou.

Mas minha alegria durou pouco. Rosa subiu ao palco para nos informar que nosso almoço seria no refeitório da faculdade, agora, pois teríamos um estudo de campo a ser realizado em seguida. O que nos levaria ao hangar e de lá, por uma nave da faculdade. Todos os presentes, estudantes e médicos formados seriam levados ao povoado de Shelsia.

Um surto estranho estava assolando o povoado e deveríamos atender e ajudar os residentes do local pelo restante do dia de hoje e amanhã. Este seria nosso trabalho final desta convenção e valeria nota. Me controlei para não xingar muito alto e Enzo não sabia se ficava bravo com a notícia ou se ria de mim.

Seguimos com o programado e três horas depois pousávamos no dito povoado. Só então tivemos uma noção do motivo da UMR nos designar para esta tarefa.

— O que diabos está acontecendo aqui? – Joshua, fez a pergunta que rondava a mente de todos nós.

— Não sabemos. Não é o vírus, essa é nossa única certeza. – O Dr. Lorson, um de nossos professores da UMR informou a todos – Não conseguimos ainda identificar a razão destas pessoas não reagirem aos medicamentos e tratamentos. Aparentemente não é letal, pois estamos trabalhando com eles há quase uma semana e ninguém ainda veio a óbito.

Olhei atentamente para as pessoas doentes e notei as manchas na pele de um dos pacientes que ergueu a camisa para o médico que o consultava e não me contive.

— Temos trabalho e rápido a ser feito aqui, Dr. Lorson. Essa doença é letal sim, só está sendo retardada pelos tratamentos ministrados pelos médicos.

Valquíria MaresWhere stories live. Discover now