Que mão gelada, Sr. Kim

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Consultório Persona

13/03/2017 - Consulta VI


Boa noite, doutor.

Eu preciso te contar sobre a minha semana... Esse Kim Taehyung é uma verdadeira piada.

Bom, eu sei que eu deveria falar mais sobre mim... Você tem razão. Parece que quando eu venho aqui, minha vida se resume só a falar para você sobre esse pirralho.

"Pirralho" sim. Eu sei que ele é mais velho, mas se comporta como uma criança mimada. E eu vou falar dele, até porque não estou a fim de falar sobre mim, ainda mais depois que aconteceram algumas coisas comigo que ainda não consegui processar. Só vou me abrir sobre isso quando eu me sentir à vontade e, nesse momento, não estou a fim de falar sobre esse assunto.

Então, senhor psicólogo, vou te contar por que ele me fez rir e divertiu minha semana.

Nós estávamos viajando para Tóquio e tudo corria bem, mas no final do trajeto, depois que cruzamos a Ilha Ulleung, parece que estávamos bem no meio de uma tempestade. Para mim, é normal. Eu já estou acostumado com turbulências. Não era a primeira, nem a segunda. Acho que já até perdi as contas. Eu não me assusto com isso. Para mim, era só mais uma.

Eu estava no corredor, recolhendo uma garrafa de champanhe de volta para o troller. Olhei para o lado e notei Taehyung completamente tenso, sentado em sua poltrona. Ele tentava prender o cinto, completamente sem sucesso. Parecia não ter habilidade alguma com aquilo. Eu achei uma cena hilária! O "Sr. Inabalável" parece que tem sim uma fraqueza:

— Sr. Kim... O Sr. tem medo de voar de avião? — Tentei me controlar para não rir da sua postura que deixava isso claro. Nitidamente ele estava nervoso com a situação.

Quando o chamei, parece que o despertei de uma espécie de hipnose enquanto ele tentava afivelar o próprio cinto. Olhou-me confuso até conseguir colocar em contexto a minha pergunta.

— Nã- não, não... Claro que não! — respondeu se acomodando na poltrona, claramente fingindo que estava tudo bem.

Ri soprado diante de tal cena ridícula. Tentando passar essa imagem de machão de novo? Balancei a cabeça, me aproximei do seu acento e engatei o seu cinto. Não falei nada, nem ele. Não sei se Taehyung estava sem graça ou se estava grato por tal gesto. Ele só ficou me olhando enquanto eu fazia.

Depois voltou a ficar em transe, olhando para lugar nenhum, como se assim pudesse evitar de olhar as nuvens carregadas e os relâmpagos através da janela ao lado.

Virei-me para voltar ao meu trabalho.

— Você não deveria sentar e colocar o cinto também? — palpitou tenso. — Quer dizer- Esse é o procedimento padrão, não é?! — esclareceu tentando disfarçar a sua preocupação em que aquele avião caísse.

Apenas ri do seu medo em que todos morrêssemos ali. Cruzei o corredor levando o carrinho embora.

Minutos depois. quando voltei, ele praticamente estava hiperventilando, contendo-se para não pular de susto a cada momento que ouvia o barulho dos raios daquela tempestade, enquanto o avião sacodia por causa da turbulência.

— A-a... gua... — resmungou alguma coisa completamente inaudível e indecifrável.

— Quê? — perguntei confuso franzindo as sobrancelhas.

— Á-água... — gaguejou engasgado, tirando a máscara do rosto.

— Ah... Você quer água? — deduzi e ele apenas assentiu positivamente com a cabeça.

Three MinutesWhere stories live. Discover now