Você não me conhece

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Consultório Persona

12/05/2017 - Consulta XII

***Horas adicionais***


Ao estacionar o carro, não fazia ideia de onde estávamos. Apenas desci, mesmo que ainda estivesse relutante. Li o nome do local:"Hemlagat Bistrô? Sério que ele me trouxe para jantar?" Um sorriso discreto quase se formou no meu rosto, porém, contive-me. Entramos no restaurante e, lógico, não poderia ser qualquer um. Tinha que ser o que fosse absurdamente mais caro e luxuoso. Por que ele sempre faz isso? Revirei os olhos. Nada na vida desse cara pode ser simples. Sempre tem que promover uma grande alegoria para qualquer coisa que faz, como se tudo fosse um grande show ou evento.

— Não é necessário fazer reservas com antecedência? — palpitei tentando achar uma desculpa para irmos a outro lugar.

— Sim — concordou ao passarmos pela porta. — Mas esse restaurante é meu — esclareceu enquanto caminhávamos em direção a recepção.  

 Rolei os olhos para cima.

 — Sr. Kim!!! — cumprimentou uma das funcionárias. — Há quanto tempo não víamos o senhor?! É uma honra recebê-lo novamente — dizia enquanto o auxiliava a tirar seu casaco.

 Esse tipo de frescura me dá nojo. Coisa de gente rica. Jamais vou entender. Não são capazes de tirar o próprio agasalho. 

 — Sua mesa já está pronta. — Ela nos acompanhou até uma área reservada, isolada das outras pessoas. Aparentemente, aquele local pertencia exclusivamente ao Taehyung. 

Revirei os olhos mais uma vez. 

Sentamos em uma mesa, ficando um de frente para o outro. Peguei o cardápio sobre a mesa e comecei a ver as opções de pratos. Estava achando um absurdo o valor de cada um deles. Um garçom se aproximou e perguntou se já havíamos escolhido: 

— Você quer beber alguma coisa? — Taehyung me perguntou.

— Não — respondi seco enquanto ainda me escondia atrás do cardápio. 

— Tudo bem.  Ainda vamos decidir os pratos — avisou olhando para o garçom. — Quero um Château Blanc, 1947. Traga só isso por enquanto, até escolhermos o menu, por favor.  

 — Que merda é essa? — perguntei inexpressivo, referindo-me ao nome estranho que falou. 

— Um vinho... Dos melhores — respondeu pegando o cardápio. — Eu sempre vinha comer aqui. Quase todos os dias, mas já fazia um temp- 

 — Por que você sempre faz isso? — interrompi irritado. 

— "Isso" o quê? — questionou sem descolar os olhos do menu.  

— Tentar me impressionar! — Joguei o cardápio sobre a mesa, cruzando meus braços. 

Ele subiu seus olhos até minha direção.

 — Sério?! — Riu soprado.

 — Me exibindo seu carro importado; pedindo essa porcaria de vinho que custa mais do o que eu recebo em um ano; pulando muros e quebrando vidros com o cotovelo como se fosse a coisa mais natural do mundo. — Ele ouvia atentamente, reclinando-se na cadeira. — Me trazendo nessa sua porcaria de restaurante para comer esses pratos que custam o valor de quase um carro popular. E como se não bastasse, tem que acrescentar que comia todos os dias aqui, só para deixar mais claro ainda todo o dinheiro que você tem... O que mais?! — enumerei inconformado.  

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