Parte XXIV

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Bianca

Ao fundo tocava "problemas" da Ana Carolina em alto e bom som enquanto eu virava taça trás taça tentando esquecer aquela imagem tão vívida: Os olhos azuis de céu se transformado em um oceano de lágrimas diante de mim por minha incapacidade de agir sem acabar ferindo a alguém. Eu deveria saber que sendo como eu sou não poderia ousar manter alguém por mais tempo em minha vida que mais que uma noite.

Perto da taça que me deixaria agressiva Gi se levantou da cadeira onde tinha até então apenas se limitado a me escutar narrar os últimos acontecimentos da minha vida e meu desastre emocional e decidiu intervir derramando o líquido da taça em sua garganta todo de uma vez antes que pudesse.

- Eu não chamei você aqui para me impedir de encher a cara - Reclamei aumentando o volume da música, emtretanto, Gizelly apenas a desligou quando havia começado.

- E tampouco para que eu apenas olhasse. Vamos lá Bianca, nós duas sabemos o que está acontecendo aqui. É o momento que eu esperei minha vida inteira... - Falou Gi me olhando com os olhos ganhando emoção conforme se aproximava de mim com uma velocidade tão absurda que fui incapaz de refrear-lhe....

Fui envolvida pela furacão. Num maldito e idiota abraço de urso que não correspondi nem um pouco no início.

- Você está sofrendo por amor e isso é tãoooo lindo - Afirmou acariciando minhas costas como se eu fosse um bebê e posso garantir que jamais teria correspondido aquilo em uma situação comum.

Mas não era uma situação comum. Pressionada por tomar uma decisão que pudesse salvar meus negócios acabei magoando uma das pessoas mais importantes da minha vida.

- Ela não é meu amor. Não é nada meu - Disse baixinho me deixando ser
abraçada por minha amiga de tanto tempo, começando a chorar em seguida - Se eu apenas tivesse sido um pouco mais forte... - E arriscado tudo? Por alguém? A racionalidade e meu próprio coração guerreavam entre si desde o segundo que disse as palavras, mas a única conclusão até agora era que só eu saía perdendo escolhesse o que escolhesse.

- Você é a pessoa mais forte que eu conheço, mas ainda sim não deixa de ser uma simples pessoa. E como todas você falha e não tem nada de errado nisso, pelo contrário, se nunca errassemos nunca aprenderiamos a acertar. E só de você estar tentando eu tenho orgulho de você Bia, porque ao arriscar você deixa o mundo entrar e eu também aguardei muito por isso - Disse ela e eu envolvi meus braços em seu entorno cansada de tudo, mas sabendo que mesmo ao perder não estava sozinha. Porque vencer sempre não era possível, mas ter alguém ao lado tornava cada derrota suportável, como agora.

- Obrigada por estar comigo - Disse molhando sua jaqueta cara.

- Obrigado por não estar arrancando meu fígado - Devolveu e eu acabei sorrindo no meio das lágrimas dando por suficiente meu momento emotivo e também alcóolico. Não queria ter uma ressaca infernal amanhã depois de tudo.

- Não foi sua culpa. Para ser bem sincera desde o segundo que disse tinha por certo que Rafaella não iria se afastar pela aposta - Rafa tinha razão, no momento em que disse aquelas palavras eu era plenamente consciente do que causariam, pois era minha última medida para que se afastasse, que tivesse raiva de mim, mesmo no momento em que senti que poderia ama-la com mais loucura, porque sim, eu era o suficiente idiota para me dar conta de que em algum lugar em mim isso começava a tomar espaço, quando sua dor foi a minha assim que cruzou as portas de alumínio entre soluços me deixando com parte de si em meu ato desesperado.

- Não? - Indagou com certo alívio.

- Não. Sabemos o quão real é o que temos e que a aposta jamais influiu sobre isso. Eu sabia que isso a faria me ver como um monstro e iria preferir se afastar - Porque se tivesse raiva, porque se não me visse com a devoção que percebi de relance em seus olhos eu poderia levar isso a diante.

- Mas você não é um monstro - Falou acariciando meu cabelo com o cuidado de uma irmã.

- E tampouco uma garota boa. Mas não gostaria de ser, se pudesse - Porque por mais que gostasse dela eu ainda gostava de mim e não trocaria os erros que me fizeram assim, mesmo os que me levaram a agir incorretamente com ela porque mesmo minha insensatez me conduziu até ali.

- Eu penso que vamos além do bem e do mal. Nem tudo é preto ou branco. Para isso, por exemplo, existe o azul e ainda bem porque você sabe como fico mal de branco - Sorri diante do seu comentário e ficamos um tempo em silêncio depois disso, apenas apreciando o contato puro uma da outra. Sem que me cobrasse a aposta que sabíamos que perdi.

- O que vai fazer amanhã? - Perguntou quando a soltei de mansinho, sentindo que deveria deixar ser confortada mais vezes enquanto estivesse triste e não porque resolvesse, um abraço não era solução, mas era uma boa forma de colocar a cabeça no lugar, se colocando nos braços de alguém, transferindo um pouco do peso.

- Estava pensando em maneiras de evitar a Rafaella - Falei enxugando os olhos. Eu não suportaria que me olhasse com a mágoa que esperava que tivesse em relação a mim.

- Bianca... - Repreendeu.

- É o melhor - Afirmei. Porque se não estivesse querendo ver o diabo mais que a mim eu sei que teria paz o suficiente para acabar com toda essa situação sem prejudicar a nós duas. Se eu soubesse que não estava aguardando meu beijo eu poderia protege-la de tudo, sem jogar qualquer peso sobre ela, sem dar qualquer motivo para que eventualmente se fosse.

A verdade era que havia em mim um pequeno medo de deixar que estivesse comigo enquanto eu mais precisava, foi quando minha mãe se foi, foi quando também meu pai. E com medo de que se fosse eu mesma me encarreguei de que assim fosse, porque só assim poderia ainda manter-lhe perto, mas não o bastante para se envolver por pessoas tão ruins.

Eu a protegeria de qualquer coisa no mundo, até dos meus próprios demônios se necessário e se isso implicasse deixa-la longe eu teria que suportar.

- Para quem? - Perguntou Gizelly.

- Gi... - Impedi que continuasse me questionando, não precisava inventar maneiras de ficar com ela e manter tudo a salvo ao mesmo tempo, eu não conseguiria.

- Está bem. Não vou me envolver, mas saiba que para o que precisar estarei aqui de dar puxão de orelha até abraço - Falou bagunçando meus cabelos enquanto meu olhar recaia pacientemente sobre o calendário marcado da cozinha, não podendo ser mais antônimo ao meu estado de ânimo a publicação da revista ocorreria ainda naquela semana o que me obrigava a, no mínimo, colocar um vestido bonito e abrir um champanhe com meus funcionários que tanto mereciam aquilo depois do inferno que todos nós passamos por esses resultados.

- Para o que eu precisar? - Perguntei e Gi voltou a assentir.

- O quanto entende sobre organização de festas? - Perguntei com pouco ânimo para isso, mas sabendo que precisaria faze-lo.

- Eu já saí com uma cerimonialista e uma animadora de festa infantil - Fiz uma careta. Mas no momento não havia lá coisa muito melhor, do contrário, teria que fazer eu mesma.

- Está bem. Está dentro, mas que não passe pela sua cabeça aparecer no bistrô, não quero Rafaella incômoda  com sua presença - O que ele pareceu ignorar completamente se apegando apenas ao último.

- Você se importa muito com ela, não é? - Quis saber, já sabendo.

- Mais do que é seguro. É difícil dizer assim, fora da minha cabeça, mas eu não consigo continuar fingindo que não está acontecendo Gi. Eu sinto que ao mesmo tempo que vou percebendo que a amo estou afastando-a de mim e me dá muito medo - Porque mesmo que eu dissesse a mim mesma que estava fazendo o melhor que podia a verdade era que cada vez que seu rosto vinha a minha mente eu duvidava de várias coisas, mas nesse segundo, no mais absurdo de todos a certeza que me cabia era que a deixei ir no exato segundo em que me dei conta de que a amava...

Deliciosamente proibido  -  Versão RabiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora