Parte VI

1.1K 117 26
                                    

Bianca

Quando vi Rafaella cruzar a porta de alumínio meu primeiro instinto foi querer cuida-la, o que me assustou automaticamente.

Tudo bem sentir um pouco de desejo, uma dose diminuta de atração, afinal eram sentimentos que eu conhecia bem, não era como estar caminhando num campo minado como um maldito bomberman, era estar segura.

Mas cuidar...

Eu nunca quis cuidar de ninguém, mas quis cuidar dela e isso me deixou sem reação, ou melhor, com a única que eu conhecia que era a defesa ao ataque.

Eu me fechava e lutava contra, repulsava até que virasse parte da poeira que eu varria para debaixo do tapete da sala da minha casa, lembrando sempre o que Rey me dizia.

Entretanto, mesmo repetindo aquelas palavras, elas não entravam na minha cabeça, portanto, ao fim do dia eu apenas tinha um desejo pungente de socar a cara de quem disse que uma mentira dita várias vezes se tornava verdade, porque não importava que eu estivesse dizendo isso pela milésima vez a caminho da sua maldita casa longe como um inferno, não fazia sentido para mim deixar de querer cuida-la, não quando saber que ela estava sozinha me atormentava mais do que eu diria fora da minha cabeça.

Obviamente eu tentei convencer Manu que fizesse isso por mim, que viesse se certificar que Rafaella estava bem, mas sua mulher havia começado a sentir fortes dores naquela noite e faltava pelo menos um mês para que seu filho nascesse e ela estava desesperada, chorando como uma criança, assim, fui incapaz de utilizar da chantagem de dizer que ou o faria ou perdia o emprego que estava na ponta da língua, me recolhi e tomei o carro até parar a frente do afronte as normas regulamentadoras que ela chamava de prédio.

- Isso não te faz fraca - Repeti para mim mesma. Mas o que me fazia?

Não respondi, não quando avistei um velhinho bigodudo atrás de um balcão na recepção do prédio, pois precisava utilizar de toda minha concentração.

- Boa noite senhor - Eu disse em um tom melodioso muito atípico a mim, tanto que apenas o reconhecia.

- Senhora - Corrigiu. E eu quase saí com o meu típico "que?", mas me contive, não era da minha conta que seu bigode chinês era do tamanho da Ásia inteira.

- Senhora... Gostaria de saber em qual apartamento mora Rafaella Kalimann - Demandei segurando a sopa entre as minhas mãos com mais força enquanto aguardava ter sido amável o suficiente para obter a informação.

- Desculpe... É parente dela? - Perguntou com rispidez e soube que não me deixaria entrar facilmente.

- Sou uma prima - Menti e ela me encarou por trás do bigode, sério.

- E há algum documento no qual eu possa confirmar? - Perguntou batendo o pezinho pequeno como se inspirasse medo.

Você só sabe o quanto uma mulher pequena enfurecida é engraçada quando encontra uma menor que você nesse estado.

Bem...

Respirei fundo.

- Por favor... Não seja ruim - Pedi fazendo um biquinho fofo que normalmente funcionava, vez ou outra até Reynaldo caía.

- Não - Mas aquela mulher parecia irredutível, tanto, que acabei perdendo a paciência e guardando no bolso do casaco a Bianca fofa.

- Exijo falar com o síndico desse lugar, ele vai adorar saber a maneira que está tratando suas visitas - Falei em tom cortante.

- Eu sou a síndica - Devolveu no mesmo tom e eu a encarei com os olhos apertados, quase os fechando, e ela não sabia ainda, mas quando eu fazia isso eu me tornava a própria síndica... do inferno.

Deliciosamente proibido  -  Versão RabiaWhere stories live. Discover now