Pela língua

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Rafaella

- Manu como sempre ótima. Seu Tiramsù foi crucial nessa conquista, portanto é bastante digno do meu reconhecimento - Começou Bianca ao reunir a equipe para elogiar-nos pela conquista de mais uma estrela no bistrô o que na verdade tinha muito mais a ver conosco do que com o Tiramsù de Manoela.

Afinal, nossa paixão cada vez mais desenfreada vinha resvalando de um jeito positivo no trabalho, nos amávamos como descompensadas quando caia a noite e assim que subia o sol estávamos mais que inspiradas para o trabalho, ela na administração e eu na cozinha cordenando a equipe e evitando desastres como o primeiro Tiramsù há uma semana atrás.

Mas era claro que eu deixaria os créditos a quem corresponde, muito embora tivesse uma parcela nessa conquista, eu e a mulher que garantia meu humor.

Bianca seguiu as rasgações de seda pelos sous-chefes, depois pelo Garde-manger, pelo Aboyeur e todos os ajudantes também.

Ao fim, após todos os devidos enaltecimentos aguardei minha vez com toda paciência e ansiedade para saber que coisas tão boas ela reservava para sua chefe e amante, mas seu silêncio após o último agradecimento ao último assistente foi ensurdecedor. E não somente para mim.

- Eu daria um dedo, mais ainda, uma mão inteira para saber o que ela tem de tão grave contra você - Declarou Manu e quis dizer que sem mão não conseguiria fazer seus tiramisùs com a mesma facilidade, mas estava ainda tão tomada pela mágoa que não manteria qualquer conversação coerente hoje, ao menos com ninguém que não fosse o alvo específico das minhas claras verdades: Bianca Diaba Andrade.

Assim, sem hesitar um segundo, me encaminhei a passos decididos ao seu escritório sob os olhares dos Pâtissiers curiosos.

- Se eu perceber, por um único segundo, um único olhar que seja no que estou prestes a fazer vocês vão acabar o dia pedindo para nunca mais ver um Crème Brûlée na frente de vocês de tantos que vou obrigar que façam para aprender a cuidar das receitas e não da vida dos outros - Eu disse sem um pingo de emoção, que fosse raiva ou amabilidade, na voz, com meu conhecido tom de comando.

Em poucos segundos todos voltaram as suas funções como até antes de Bianca vir amargar meu dia.

Entrei em sua sala soltando fogo pelos olhos somente para dar de cara com uma Bianca muito tranquila sentada sobre sua mesa apenas de saltos altos e nada mais no corpo.

Era a própria personificação do pecado: Um rabo de cavalo frouxo que deixava seus fios negros escaparem do amarre, uma maquiagem fraca evidenciada por um rosa suave que cobria seus lábios pequenos mantendo o campo de visão por tempo demais dali até o pescoço que dava lugar a um colo de tirar o fôlego, pois era um estágio antes dos seus seios salpicados propositalmente pelo dito Creme que tinha em uma das mãos, porque a outra estava apoiada atrás de si impulsionando ainda mais seu dorso para frente, oferecendo-os na minha direção, como um contraste as pernas fechadas embora ali também estivesse desnudo, como se disesse que aguardava por mim, mas que não seria fácil obter o que me dava.

Com isso, automaticamente meus olhos queimaram muito mais, mas outro tipo de fogo.

Fogo Rafa, digo, foco!

- Porque fez isso? - Perguntei evitando olhar diretamente para sua imagem, ainda mais quando seus dedos rodopiavam sem piedade no pote vermelho sobre sua mão, tirando dali seu doce, tão primitivamente quanto fazia entre minhas pernas.

Por falar nelas, as fechei automaticamente.

- Porque achei que deveríamos comemorar o êxito em grande estilo - Relembrou o motivo da minha vinda e quase pulei em agradecimento pelo pequeno balde de água fria que jogou em meu corpo, embora não tivesse apagado nem 50% do fogo.

Deliciosamente proibido  -  Versão RabiaWhere stories live. Discover now