Parte XXII

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Bianca

Hadson, Felipe, Lucas, Petrix e Guilherme haviam sido uma pedra no sapato dos Andrade mesmo antes que eu nascesse.

Marcos, meu pai e irmão mais velho dos cinco, viveu um inferno em suas mãos e ao falecer os deixou para mim como herança tão rechonchuda quanto os bistrôs.

Para fins de bom entendimento não entrei em guerras judiciais, estava abalada devido a morte do meu pai e sinceramente não me interessava viver entre o Brasil e a França atormentada de tanto trabalho, por mais que o apreciasse. Dessa forma, entramos num acordo de que poderiam cuidar das filiais na França enquanto eu me limitaria a cuidar da brasileira o que, em minha cabeça, não tinha qualquer falha, pois sequer precisavam se dar ao trabalho de aprender meu idioma ou de conviver com a mulher que tudo que fez de errado foi isso, nascer mulher, o que os incomodava a tal ponto que mesmo diante do nosso acordo eu não conseguia me ver em paz, tendo que acompanha-los vez ou outra querendo se meter em minhas decisões e não, não somente porque me subestimavam, mas porque entendiam que quanto mais me diminuiam por meu gênero mais eu respondia com grandes resultados que os tinha cada vez mais ávidos por tomar até a pequena parcela do que me coube, aquela parcela que a cada ano se tornava a parte mais robusta daquele império, o que os enfurecia e também tentava.

Portanto, ao longo dos anos busquei afastar-me de qualquer motivo que os fizesse chegar próximo de conseguir tomar o que era meu, porque sim, era uma possibilidade existente, com "O negócio será seu sempre e quando for capaz de cuidar dele" no testamento dava margem a essa interpretação e eu sabia que eles também tinham percebido isso e o usariam assim que pudessem, como agora, mesmo sem dizer nada parados próximos das portas de alumínio naquela cozinha silenciosa.

Rapidamente eu retirei minhas mãos das de Rafaella, sentindo o frio de não ter mais seu toque, mas um arrepio na espinha muita mais significativo por não ter avaliado a gravidade das minhas atitudes. Em momento algum ao estar com ela lembrei dos meus tios e esse, definitivamente, foi meu maior erro. Se uma coisa tornava o amor nocivo era sua ampla capacidade de ser confundido com uma porção do esquecimento.

E sim, agora teria que voltar a discutir sobre uma suposta bruxaria, porque não era possível que eu não tivesse tomado algo forte o suficiente para me conduzir até aqui, até o momento que o clube dos cinco me olhava com tamanha ironia e eu me sentia pequena ao encara-los cada vez mais de perto de passo a passo em que eu tentava melhorar minha imagem.

Acabaram de descobrir que eu fazia coisas inadequadas no trabalho e que essas coisas inadequadas eram com uma mulher.

A Bianca do passado teria me aplaudido pelo segundo, mas me recriminava pelo primeiro.

- Bom dia - Disse em um perfeito francês com o rosto mais brando possível. Se havia uma única possibilidade de tanta gordura que consumiam não só ter entupido artérias, mas também seus ouvidos eu desejei que acontecesse agora.

- Melhor para você que para nós
não? - Disse Petrix mantendo uma risadinha na comissura dos lábios como os outros quatro, não precivasa de nenhum outro sinal, como não quis acreditar por um milésimo de segundo, eles sabiam.

- Muito, eu diria. Porque se essa chefe é tão boa no quarto como é na cozinha... - Comentou Lucas e eu cerrei meu punho, controlando-me para não ensinar-lhe como tratar uma mulher, mas ponderando ao fim por considerar que uma agressão de nada melhoraria minha situação.

- Vocês estão no meu bistrô e aqui dentro eu exijo respeito para mim e para os meus funcionários. Do contrário, terei que pedir com toda a educação que se retire - Avisei aos dois, mas esperando que atingisse bem os cinco.

- Seu? Apenas sempre e quando for capaz de cuidar dele. Ou me equivoquei? - Relembrou o mais ardiloso e controlador dos cinco, Hadson.

- Meu. E até o último dia que for eu dito as regras e uma delas é que em hipótese alguma admitirei que destilem seu machismo como se fosse algo normal. Não aqui - Respondi mantendo o meu tom calmo.

Deliciosamente proibido  -  Versão RabiaWhere stories live. Discover now