Parte XIV

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Bianca

Foi iniciada a semana anterior ao aniversário do Paris 6. Era nesse tempo que o bistrô se preparava para passar por promoções intensas e comemorações bonitas. Meu pai sempre sorria quando sua comida fazia sucesso e, como era algo raro, eu sempre buscava dar o meu melhor para que os doces pacientemente escolhidos fizessem ainda mais sucesso que em qualquer período do ano. Para isso, precisava de dedicação total de toda a equipe e ainda mais da Chefe que estivera empenhada em acrescentar um novo item que me tinha enlouquecida. Como ela não poderia tomar a dianteira por si própria, e dessa vez não por querer afastar-se de mim, mas sim porque precisava coordenar toda a cozinha, agora mais que nunca, de fato repassou a parte mais fundamental da criação do Tiramisù ao sua assistente: A execução.

Acontecia que, para nossa completa irritação, Manu era um caso perdido na culinária italiana quando pressionada como sabia que estava ao me ver recostada no balcão de braços cruzados enquanto Rafaella jogava-lhe palavras de incentivo. Nos preparativos para a semana daquela festa eu estava quase enlouquecendo e sinceramente não tinha tempo para isso.

- Você vai acertar isso esse ano ou vai esperar eu terminar uma graduação em gastronomia para que faça eu mesma? Preciso disso para essa semana e não para daqui a quatro anos - Perguntei a Manu definitivamente cansada com o suor escorrendo da face da mulher.

- Eu...Eu... - Começou a dizer, mas não terminou de falar nada, apenas engoliu em seco e olhou para a missionária maneira que faz as coisas pelo bem em sua frente.

- Ignore-a. Ela é impaciente e pode fazer você ficar um pouco para baixo. Mas não é isso que você precisa e sim de alguém que te instrua e acredite que vai conseguir - Ela disse isso a três tiramisús atrás e tudo o que ela havia conseguido era queimar o tiramisù, na outra bateu tanto o merengue que parecia próprio para bater um prego na parede antes que misturar-se ao creme de mascarpone e no anterior a esse mergulhou os biscoitos de champanhe tão intensamente no licor que parecia querer afoga-los, o que me fazia desconfiar se não participava de um comboio bem elaborado para levar a cozinha o mais pronto possível ao AA mais próximo de todos.

- Sabe do que eu preciso? - Até me desencostei do balcão. A mulher que sempre gaguejava quando dizia algo perto de mim enfim disse mais de três palavras sem tropeçar e isso era um evento - De mais licor - Mas era claro que precisava!

Com seu pedido Rafa se volta diretamente para mim com um olhar de quem pedia.

- Vocês que trabalham na cozinha - Eu disse, como se fosse óbvio e ela não conseguiu disfarçar a mudança de olhos que pediam favor para olhos que indicavam minha cretinisse e isso me irritou um pouco.

- Está bem. Mas você vem comigo para eu não errar o licor da aspirante a bartender - Falei girando nos calcanhares aguardando que fosse esperta o suficiente para me seguir até o depósito de bebidas.

Não o conferi em momento algum, mas quando paramos dentro do pequeno espaço retangular eu pude respirar seu perfume perto e soube que ainda resguardava alguma noção.

- Estou numa tarefa árdua que pretendo cumprir lá fora. Seria de grande ajuda que desde já você começasse a contribuir também - Disse me fazendo virar na sua direção naquele espaço, onde finalmente pude me dar conta de Rafaella desde o início daquele dia. Suas bochechas estavam vermelhas e ela parecia muito irritada com seus braços cruzados.

Ótimo - pensei sarcasticamente - porque eu estava numa situação parecida e num espaço tão pequeno isso provavelmente terminaria num atrito que não precisávamos agora e em horário de trabalho.

- Até você sabe que insistir nisso é como tentar tirar licor de pedra - Disse começando a caçar a maldita garrafa tentando evitar encarar muito a mulher dos cabelos castanhos ali e daquela forma - Porque é como terminaremos o dia se essa inimiga do bafômetro não começar a acertar - Eu avisei finalmente encontrando a garrafa bem atrás de onde parou Rafaella, tomando o cuidado de ultrapassa-la sem muito contato até pegar a garrafa que ela olhou com uma risadinha irônica e uma reviradinha de olhos.

Deliciosamente proibido  -  Versão RabiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora