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São 7 da manhã e o meu despertador toca. Aquele ruído infernal enche o meu pequeno quarto, o que me faz remexer na cama. Desligo-o rapidamente, para acabar com a minha tortura.

Os meus olhos mal abrem enquanto faço o caminho para a casa de banho. Ao longe, oiço a minha tia remexer em loiça na cozinha. Ela é a primeira a levantar-se todos os dias, para preparar tudo para o meu tio levar para o trabalho e acaba também por me preparar o pequeno almoço.

Salto para o chuveiro, um pouco mais desperta e tomo um banho rápido e bem quente, uma vez que estamos em dezembro e está bastante frio lá fora. Assim que acabo o meu banho, acabo de me arranjar e saio para a cozinha.

"Bom dia tia." digo, antes de lhe dar um beijo na bochecha.

O aroma dos ovos mexidos que está a preparar invade as minhas narinas, fazendo-me sorrir.

"Cheira tão bem."

"Bom dia Alice. Os teus estão prontos dentro do microondas, para não arrefecerem." diz ela, enquanto aponta com a espátula meio suja para o microondas e sorri.

Ponho um pouco de café previamente feito numa caneca e depois pego no prato de ovos mexidos e em talheres e levo tudo para a mesa.

"O teu tio deve estar a dormir ainda. Vai atrasar-se outra vez." diz ela, enquanto revira ligeiramente os olhos. Não digo nada, apenas assinto, enquanto começo a comer.

Poucos segundos depois, ouvimos o barulhos das botas do meu tio, enquanto caminha na nossa direção.

"Não digas nada, Alice. Por favor." pede a minha tia, com os olhos arregalados na minha direção.

"Tu sabes que isto não pode continuar assim, não sabes?" pergunto retoricamente, ao que ele me responde com um encolher de ombros. É sempre a mesma coisa.

"Bom dia." oiço a voz grave do meu tio entoar pela cozinha. Não lhe respondo.

"Bom dia, Eugene." diz a minha tia, enquanto esboça um pequeno sorriso nos lábios.

"Então e tu, não dizes nada?" diz na minha direção. Já estava à espera.

"Não." forço um sorriso e desvio novamente o meu olhar para o meu prato. Ele grunhe, mas não me diz mais nada. Pega no seu prato já preparado e senta-se ao meu lado na mesa.

"Onde vais hoje?" pergunta sem olhar para mim.

"Trabalhar. Alguém tem que pagar as contas, não é verdade?" olho-o nos olhos, enquanto mastigo. Esboço um sorriso irónico nos lábios e Eugene não diz nada.

Segundos depois, sinto um punho bater fortemente contra a mesa, o que me faz saltar no meu lugar e os meus talheres caírem para o chão. Rio-me um pouco.

"Mas quem é que tu pensas que és, hm?" diz demasiado perto da minha cara. Sinto o seu bafo carregado de álcool da noite anterior contra a minha cara, o que me faz encolher um pouco.

Reviro os olhos à sua pergunta. Quem é que penso que sou? Uma mulher de 20 anos que, em vez de aproveitar a vida, trabalha e trabalha e trabalha para pagar pelos TEUS vícios. Essa é quem eu sou. Mais uma vez, não lhe digo nada.

Coloco a loiça que sujei na máquina, dou um beijo à minha tia e pego na minha mala e casaco.

"Não esperes por mim. Vou chegar tarde." pisco-lhe o olho e saio de casa, finalmente.

Assim que fecho a porta atrás de mim, vejo o autocarro aproximar-se da paragem mesmo em frente. Agarro a minha mala com força enquanto corro rapidamente até ao mesmo. Felizmente cheguei a tempo.

DespairWhere stories live. Discover now