Olho para o relógio pela milésima vez e deixo escapar um suspiro exausto. Jackson já devia ter aparecido há meia hora e, até agora, nem sinal dele. Não consigo evitar que a preocupação tome conta do meu corpo, quando me lembro de com quem estamos a lidar. Pouco depois de começar a sentir o formigueiro familiar da ansiedade no meu peito, vejo o seu cabelo comprido ao longe e o seu sorriso amigável. Um peso enorme sai-me dos ombros e eu levanto-me do passeio onde estava para o cumprimentar.
"Estás pronta?" Ele diz, antes de quebrar o contacto comigo. Apenas assinto e mordo o meu lábio inferior levemente. Estou pronta fisicamente, mas, mentalmente, cada um dos meus neurónios me grita para que fuja e nunca mais apareça. Mas neste momento, não posso ser egoísta ao ponto de deixar que o meu medo tome conta de mim. O Paul precisa de mim e é nisso que tenho que me concentrar. Jackson passa-me para as mãos a mesma arma da última vez e eu engulo em seco ao pegá-la. Os seus olhos encontram os meus e ele assente, como forma de me assegurar que vai correr tudo bem.
"O Logan?" Pergunto e Jackson suspira.
"Eu não lhe disse que vínhamos aqui." Ele desvia o seu olhar do meu por breves segundos.
"Como assim não lhe disseste? Ele disse-me que lhe tinhas contado tudo." Passo os meus dedos pelo meu cabelo e suspiro pesadamente. Se Logan descobre que estamos aqui e o que vamos fazer, ele máta-nos aos dois.
"Okay, mas não disse. Ele não pode aparecer aqui, Alice." O seu olhar é sério e o meu confuso.
"Porque não?" Pergunto e Jackson ignora-me para carregar a sua arma com algumas balas soltas que tinha no bolso. "Jackson!" Chamo-o e ele bufa.
"O que achas que lhe fariam se o vissem aqui, hm?" Ele arregala os olhos na minha direção e eu encolho-me no meu lugar, fazendo-o suavizar um pouco a sua expressão. "Se o Victor o apanha aqui, ele mata-o, Alice. Sem dó nem piedade. E eu não aguentaria um dia nesta Terra sem ele." A emoção na sua voz é clara e eu assinto.
"Tens razão." Passo a minha mão sobre o seu braço e ele sorri levemente. Nem eu conseguia aguentar se algo de grave acontecesse a Logan.
"Agora temos que ir." Ele diz e eu guardo a minha arma no mesmo sítio da última vez, para o seguir. Jackson conduz-nos pelo mesmo caminho da última vez, mas, antes de chegarmos ao corredor onde vimos Paul, ele puxa-me para uma pequena sala do nosso lado esquerdo.
"Onde é que vamos?" Sussuro e ele faz-me sinal para falar mais baixo, como se fosse possível.
"Vais ter que entrar nas condutas." Ele aponta para uma pequena porta na parede, quase encostada ao chão. Só podem estar a brincar.
"Porque é que não vais tu?" O pânico na minha voz é mais que aparente e Jackson revira os olhos.
"Porque tu és a única que cabe ali dentro." Ele volta a apontar e eu suspiro. Infelizmente, ele tem razão. Respiro fundo algumas vezes antes de me colocar de cócoras, para abrir a porta da conduta. Olho de novo para Jackson antes de entrar, que me lança um sorriso encorajador. Certo. Aqui vou eu para a minha morte quase certa. "No primeiro cruzamento que encontrares, viras à direita e depois à direita novamente. É a primeira porta que encontras." Repito as suas palavras na minha cabeça para não me enganar.
"Como é que sabes que ele vai mesmo estar naquela sala?" Pergunto, antes de entrar totalmente no pequeno espaço.
"Ele está lá, confia em mim." Ele pisca-me o olho e eu começo o meu caminho. Sigo todas as instruções de Jackson à letra, para ter a certeza de que não me engano. A última coisa que quero é acabar com a minha cabeça a espreitar dentro da uma divisão em que esteja Victor ou algum dos seus homens. Respiro fundo antes de colocar o meu ouvido sobre a parede metálica ao meu lado, para tentar perceber se está mais alguém na sala para além de Paul. Quando não oiço nada, abro a pequena porta o mais silenciosamente que consigo. Consigo ver Paul com a sua cabeça caída para a frente e os seus pulsos atados por trás das suas costas à cadeira em que está sentado. O meu coração parte-se com a imagem diante dos meus olhos. Paul está tão magro, com nódoas negras e cortes espalhadas pela sua face e corpo. Ele mal repara na minha presença mas, quando o faz, as palavras não saem da sua boca.
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Despair
RomanceJá consigo ouvir as sirenes da polícia. O que vai ser de nós? Alice é uma jovem mulher infeliz, que vive com os seus tios. O seu tio, um criminoso que ninguém consegue apanhar. A sua tia, uma doce mulher, que, por mais que tente, não consegue ver a...