5.

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Assim que acabo de dar o dinheiro ao estafeta, levo o saco com a nossa comida até à mesa de jantar e pouso-o na mesma. O aroma inconfundível da comida chinesa invade as minhas narinas, o que me faz sorrir.

"Logan." Chamo-o, porque ficou no quarto enquanto eu vim à porta. Oiço os seus passos na minha direção, enquanto procuro nas gavetas da cozinha alguns talheres e copos, nos armários. Ponho a mesa e, assim que acabo, Logan já está ao pé de mim.

"Depois de comer, vou ter que sair." Ele diz, sem expressão na sua cara.

"Okay?" Respondo, incerta de qual seria a resposta que ele estava à procura. "Sabes que não tens que me dizer quando vais sair e assim... não é como se fôssemos um casal." Encolho os ombros e ele olha para mim, enquanto se senta.

"Certo." Ele ri-se. Não consigo decifrar o seu objetivo com esta conversa, mas, sinceramente, não quero saber.

"De qualquer das formas, eu também tenho coisas para fazer." Digo. Não, não tenho.

"Tipo o quê?" Ele pergunta, eu remexer a sua comida no prato.

"Como eu disse..." Coloco uma garfada do meu chop suey na boca. "Não somos um casal. Não te devo explicações." Dou de ombros. Ele olha para mim, mais uma vez, sem expressão na cara.

"Tu tens a noção que ainda me deves, certo?" Ele pergunta, um sorriso irónico plantado no seu rosto. A minha expressão cai. Não achei que ele me fosse cobrar por algo que fez voluntariamente.

"E tu sabes que eu não tenho dinheiro, certo?" Rio-me sarcasticamente e abano a cabeça negativamente.

"Eu nunca falei de dinheiro." O sorriso continua na sua cara. Ugh.

"Nem penses que me vais levar para a cama." Levanto-me rapidamente do meu lugar. Honestamente, esta conversa está a deixar-me bastante confortável.

"Eu nunca disse isso." Ele ri-se, provavelmente por causa da minha reação. Fico em pé durante uns segundos, mas depois, volto a sentar-me.

"De que é que estás a falar, então?" Mantenho-me afastada da mesa, com as mãos no meu colo.

"Aquilo que quero desde o início." Ele volta a comer.

"Não." Respondo apenas, um olhar firme nos meus olhos. Se há coisa que sempre disse que não faria, era traficar droga. É quase impossível alguém safar-se a fazê-lo. Ele não olha para mim, mas eu continuo a encará-lo.

"Então vamos ter que achar outra maneira de te tornares útil." Ele encolhe os ombros. "Sabes, cada um dos membros do nosso grupo, tornou-se membro por necessidade, porque precisava de algo. E todos tiveram a mesma reação que tu, sem exceção. Mas no fim de contas, dá dinheiro e traz companhia. Nós somos uma família." A sua expressão parece suavizar, o que me diz que ele está a ser sincero.

"Uma família bastante disfuncional, diga-se de passagem." Reviro os olhos, ao lembrar-me de tudo o que aconteceu desde que os conheci.

"Por vezes, sim." Ele ri-se. "Mas temos-nos uns aos outros e ninguém fica para trás." Ele sorri.

Nunca soube o que era uma família a sério e a ideia não me parece muito má. Mas a que custo? Se algo corre mal, as nossas vidas acabam ali. Não me posso dar ao luxo que isso aconteça.

"O que se passou com os teus pais?" Logan pergunta, enquanto levanta ambos os pratos da mesa.

"Bem... eles faleceram num acidente de helicóptero, eu era bastante pequena." Recolho o resto da loiça de cima da mesa e coloco na máquina de lavar. Logan apenas assente, para que eu continue a falar. "Não me lembro deles, tudo o que vi foi em fotos." Sorrio levemente. Eu não fico triste com a sua morte, nunca os conhecia. Como é que é suposto ficarmos triste por alguém que nunca conhecemos?

DespairWhere stories live. Discover now