23.

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Abro os meus olhos lentamente e tudo à minha volta é turvo. A única coisa que consigo distinguir é a expressão preocupada de Lauren. Ela caminha até mim rapidamente e agarra na minha mão, levando-a ao peito.

"Pensava que te tínhamos perdido." A voz dela soa trémula e os seus olhos húmidos. Todas as memórias do tiroteio voltam ao meu pensamento é a última coisa que me lembro é de entrar no carro de Jackson.

"Ainda não foi desta." Rio-me levemente, mas a dor no lado direito do meu abdómen não me dá tréguas e faz-me contorcer.

"Tens que descansar." Lauren diz e passa a sua mão para cima e para baixo no meu braço. Consigo ver o cabelo comprido de Jackson através da pequena janela que me deixa ver o corredor do hospital. Do hospital? Ele trouxe-me mesmo para um hospital? Assim que ele entra no quarto, disparo todas as perguntas que me estão na mente.

"Estás a brincar comigo, Jackson? Trouxeste-me para um hospital! Tu és louco, como é que estás a pensar explicar o que se passou aos médicos, hm?" Quero falar rápido, mas, talvez devido aos medicamentos, as minhas palavras saem mais lentas que o normal. Jackson parece divertido pela situação, porque se ri com vontade da minha figura. "Isto não tem piada nenhuma!" Tento soar o mais ameaçadora possível, mas sem efeito. Bufo em frustração e desvio o meu olhar do seu, como uma criança a quem não se fez a vontade. "Onde está o Paul?" Volto a perguntar e ele abana a cabeça negativamente, divertido.

"Primeiro, isto não é um hospital. Ou melhor, é, mas não um hospital... legal." Ele diz e eu franzo o sobrolho em confusão.

"Então onde é que estamos?" Pergunto.

"Fora da cidade. Tentei trazer-te o mais rápido possível, felizmente chegámos a tempo. Perdeste bastante sangue, Alice." Ele olha-me nos olhos e suspira. "O Paul está bem, está noutro quarto, apenas para o Mac ter a certeza que está tudo bem com ele.

"Quem é o Mac?" Quase que não o deixo acabar de falar e ele sorri levemente enquanto Lauren se abraça a um dos seus braços.

"O médico." Ele diz e eu assinto. Podia jurar que estava num hospital profissional, tudo à minha volta se parece com um. As camas, as cortinas, até a pequena televisão que passa um programa de tarde aleatório. A minha mente viaja para uma altura normal da minha vida, em que apenas me limitava a ir para escola, sair com os meus amigos e voltar para casa. E agora, olhem para mim. Numa cama de um hospital clandestino com um buraco no meu corpo.

"Já falaste com o Log-" Sou interrompida pela porta  abrir. De trás dela sai um homem com os seus 40 anos, a barba perfeitamente aparada e um sorriso alinhado.

"Vejo que já estás de volta." Ele solta uma pequena gargalhada e eu tento acompanhá-lo, mas não consigo. Apenas assinto à sua afirmação. "Eu gostaria de falar contigo sobre a tua condição em privado." Mac olha especialmente para Jackson, talvez por ser ele a ponte entre nós os dois, e ele assente, pegando na pequena mão de Lauren, para a puxar para fora da divisão. Assim que eles batem com a porta atrás de si, Mac estende a mão para me cumprimentar. "Chamo-me Mac. Sou médico oficial, mas trabalho clandestinamente, com pessoas na tua situação." Ele responde a algumas perguntas que me tinham surgido e eu oiço com atenção.

"Já conhecias o Jackson?" Pergunto ao apertar a sua mão levemente.

"Já lá vão alguns anos." Ele solta uma pequena gargalhada nostálgica e eu sorrio levemente. "Já todos eles estiveram na mesma situação que tu. Ou pior ainda." Ele diz.

"Conheces o Logan?" Pergunto e ele sorri.

"Sim. Mas neste momento temos que falar sobre ti." O seu sorriso largo de antes toma conta de sua expressão e eu decido não perguntar mais nada. Ele caminha até à cabeceira da maca onde estou deitada e carrega num pequeno botão, para que eu me possa sentar ligeiramente. Contorço-me com dores e ele retira uma embalagem cilíndrica do bolso. "Já está na hora de tomares a medicação novamente. Vai ajudar-te com as dores." Ele diz. Hesito um pouco antes de estender a mão para que me dê os comprimidos. Decido pôr para trás das costas as minhas desconfianças, pior do que estou não posso ficar, de qualquer das formas. Tomo a medicação com um pouco de água que se encontrava na minha mesa de cabeceira e respiro fundo.

DespairWhere stories live. Discover now