15.

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Encolho o meu pequeno corpo o melhor que consigo atrás da roda do carro. Ainda estou confusa com a imagem que acabo de ver à minha frente. O meu tio e o Levi? Juntos? Com o chefe do Logan? Que raio é que se passa aqui. Decido ligar imediatamente a Logan, que me atende depois do segundo toque.

"Estou cheio de fome, porque é que nunca mais apareces?" Ele diz em tom de brincadeira.

"Logan, eu não posso falar alto, mas acabei de ver o Levi a sair da casa do meu tio, com ele e com o Victor." Sussurro para o telemóvel e olho à minha volta, para garantir que ninguém me ouviu. O que eu menos preciso neste momento é que eles dêem conta da minha presença.

"O quê?" A voz dele soa confusa do outro lado da linha, mas eu não tenho tempo para explicar.

"Vem cá ter, por favor. Estaciona o carro longe, depois eu explico melhor." É tudo o que digo, antes de desligar a chamada. Não sei ao certo o que pretendo com o meu pedido, mas se não for agora que descobrimos algo, nunca será. Os três homens continuam presos no mesmo sítio, enquanto cada um tem um cigarro na mão. O que eu não dava por um cigarro neste momento. Tento manter a minha mente afastada da minha vontade súbita de fumar e rezo para que Logan chegue rápido. Apesar de ser o meu tio, alguém de família e o Levi, de quem eu gostava bastante até há uns dias, acho que nunca me senti tão insegura na minha vida. Oiço os homens despedirem-se, mas vejo dois carros a deixar o local. É a altura perfeita para entrar em casa e ver se descubro alguma coisa. Pelo menos, agora sei o que procurar. Assim que vejo os dois carros afastarem-se no horizonte, corro baixada até à porta do que um dia chamei de casa. Rodo a chave na fechadura e o aroma familiar invade instantaneamente as minhas narinas. Tomo uns minutos para deixar que o meu cérebro o processe. Mesmo depois de tanto tempo sem a minha tia, a casa ainda cheira a ela, o que me faz, de certa forma, ficar triste. Sinto tanto a sua falta.

As luzes estão todas apagadas e eu acendo apenas aquelas que sei que não se conseguem ver da rua. Assim que começo a vasculhar as pilhas de papéis que encontro, oiço alguém bater à porta e o meu coração pára de bater. Caminho até à porta e pego num candeeiro que encontro pelo caminho. Se alguém entrar, eu acerto-lhe com isto.

"Alice?" Oiço a voz de Logan do outro lado e solto um suspiro que não me tinha apercebido que guardava. Abro cuidadosamente a porta e espreito, para ter a certeza que não está ninguém a olhar. Dou espaço a Logan para que entre e respiro fundo.

"Tenta encontrar alguma coisa que aches que é importante." O meu cérebro não pára e por momentos esqueço-me que ele não está a perceber nada do que se está a passar. Era de esperar que tendo um negócio dele, sendo o que é, ele fosse mais perspicaz. A confusão na cara de Logan diz-me que tenho razão e eu reviro os olhos. Não sei porque me sinto tão impaciente hoje, mas não consigo levar este assunto de ânimo leve. O que quer que raio se passe aqui, não é bom, muito menos legal e eu estou a ir de arrasto para o meio disto. Respiro fundo para me tentar controlar antes de falar.

"O meu tio está metido nisto, certo?" Ele assente, já que já tínhamos chegado a esta conclusão em sua casa. "Pelos vistos, o teu chefe também não é inocente e agora o Levi está aqui! Não percebes? As pessoas com que te tens dado, sabe-se lá há quanto tempo, estão, claramente, envolvidas no que se passou contigo em criança!" A sua cara cai quando ele assimila tudo o que eu acabei de dizer. Não deve ser fácil alguém aperceber-se que tudo o que conheceu até agora foi uma mentira. Logan foca o seu olhar num ponto longe de mim, o seu lábio puxado entre os seus dentes. Não diz nada, o que me está a afligir. Apenas começa a vasculhar por entre o que encontra no seu caminho. Começo a fazer o mesmo, uma vez que não me parece que vá opted mais nenhuma resposta da sua parte. No meio das folhas, encontro provas para todo o tipo de crimes que vi listados nos ficheiros da polícia. Está aqui uma mina de ouro para quem quiser sair impune com um crime, basta trocar isto por imunidade e está livre. Este pensamento debate-se na minha mente e eu não acredito que não tinha pensado nisto antes.

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