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Passo pelas divisões antes de chegar ao restaurante e tudo me parece distorcido. O que é que acabou de acontecer? É possível que a minha tia tenha sido assassinada. Repito estas palavras na minha cabeça, mas elas parecem não fazer sentido. Aliás, quanto mais o digo, menos sentido faz. Quem é que quereria fazer mal a uma mulher tão simples, tão fácil de amar? Não me cabe na cabeça, de maneira alguma.

Passo por Lauren apressadmente e, sinceramente, nem me lembro de lhe dizer nada. Sinto que estou num transe que não me deixa pensar corretamente. Só acordo quando oiço a sua voz, meio destorcida, a chamar por mim do outro lado da sala.

"Alice!" Finalmente oiço-a claramente, o que me faz despertar ligeiramente. "Parece que viste um fantasma!" Diz Lauren. Oh, se ela soubesse...

"Eu tenho que me ir embora." Digo rapidamente, as palavras atrapalham-se um pouco ao deixar os meus lábios e Lauren franze o sobrolho.

"O que se passa?" Pergunta com um tom preocupado bem presente na sua voz.

"Eu não tenho tempo para te explicar agora." Digo rapidamente, para que me pudesse despachar e ela assente.

"E se um dos chefes aparecer?" Ela questiona preocupada. Se há coisa que Lauren não é, é egoísta. Ele prefere mentir para ajudar o próximo do que ver essa pessoa mal. E é exatamente isso que lhe vou pedir para fazer.

"Avisa que fiquei doente, por favor." Agarro a sua mão junto ao meu peito e ela assente, novamente.

"Alice?" Ela diz, assim que eu me viro para me ir embora.

"Sim?" 

"Tem cuidado." Ela diz, os seus olhos carregados de preocupação. Lauren não é burra, ela sabe desde o primeiro dia que me meteu num mundo nada bonito e, em parte, penso que se sente culpa por isso. Por isso é que me avisou. Ela sabe do que estas pessoas são capazes. Simplesmente desta vez, os meus problemas têm a ver com a minha vida normal, para minha trizteza.

Corro pelo museu fora, atropelando algumas pessoas pelo caminho. O meu único objetivo neste momento é chegar à esquadra o mais rápido possível para que me expliquem o que raio se passa aqui. Assim que chego, vejo alguns polícias na rua, provavelmente na sua pausa, pois conversam entre eles, bastante animados. Apetece-me bater-lhes por ousarem rir num momento difícil como este mas, depois lembro-me: este é o meu momento difícil. Qualquer um deles vai voltar para casa esta noite e vai abraçar a sua família, jantar em conjunto. Por outro lado, ninguém se vai importar com a minha tia. Com o que lhe aconteceu. Com quem lhe fez isto. Afasto estes pensamentos da minha mente assim que chego ao balcão da receção. 

"Bom dia. Eu gostaria de falar com o agente McCarty, se possível." Falo da melhor maneira que consigo, tentando não desabar à frente de tanta gente. A senhora que me atente abana a cabeça positivamente, antes de pedir para me aguardar um pouco. Alguns minutos depois, um homem alto e encorpado aparece de dentro de um dos cubículos a que chamam escritórios neste sítios e dirige-se a mim.

"Senhora Williamson, obrigada por ter vindo." Não me lembro de me ter identificado, mas penso que o facto de saberem quem sou talve seja  um sinal de que estão a fazer o seu trabalho corretamente. Certo?

"O que aconteceu à minha tia?" Vou diretamente ao assunto. Não me interessam redundâncias, para ser honesta, tudo o que me interessa é descobrir que fez isto.

"Sente-se, por favor." Ele aponta para uma cadeira vazia e eu obedeço, sem tirar os meus olhos dele. Durante uns segundos, ele não diz nada e eu peço-lhe para que continue, com o olhar.

"Bem, como sabe a sua tia estava no hospital com uma concusão grave." Obrigada, capitão óbvio. Será que ele só me chamou aqui para me dizer o que eu já sei?

DespairWhere stories live. Discover now