21.

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POV Alice

O meu sofá nunca me pareceu tão confortável como agora. As grandes almofadas dispostas à minha volta fazem com que eu me sinta nas nuvens e os meus olhos começam a ficar pesados. Não me consigo lembrar da última vez que dormi uma noite inteira sem interrupções ou pesadelos a atormentarem-me. Assim que fecho os olhos para tentar dormir um pouco, o som dos nós dos dedos de alguém faz-me saltar levemente. Reviro os olhos dramaticamente e atiro os cobertores para o lado, murmurando alguns palavrões enquanto o faço.

Abro a porta ligeiramente e espreito para o hall de entrada, para ver quem é. O meu coração acelera quando vejo a luz refletir no piercing no nariz de Levi. Engulo em seco, sem saber o que dizer, mas, inconscientemente, abro um pouco mais a porta. Não consigo encontrar uma explicação para me sentir confortável ao pé dele, não depois de tudo o que ele já fez. No entanto, não consigo evitar.

"O que é que estás aqui a fazer?" Pergunto com a voz meio ensonada e ele esboça um pequeno sorriso nos lábios.

"Queria ver-te." Ele passa por mim se eu lhe dar permissão para entrar e não parece importar-se de todo com a minha indignação.

"Olha, eu não acho nada boa ideia estares aqui." Fecho a porta atrás de mim, mas não me mexo do meu sítio. Quero que isto seja rápido e que ele se ponha a andar o mais rápido possível.

"Porquê?" O olhar divertido dele deixa-me mal disposta. Ou Levi é mesmo muito pouco inteligente ou tudo e todos lhe passam ao lado.

"Queres mesmo que eu te responda?" Reviro os olhos e bufo em frustração.

"Sim." Ele encolhe os ombros, como se não soubesse do que é que eu estou a falar.

"Levi, por favor..." Imploro para que pare, mas ele não o faz.

"Diz-me porque é que não me queres aqui. Quero ouvir-te dizê-lo." Ele dá um passo em frente, deixando os nossos corpos a poucos centímetros de distância um do outro e eu, inconscientemente recuo.

"Porque me tens feito a vida num inferno desde o dia em que te conheci." Quero gritar com ele, mas a minha voz sai tão baixa que até eu tenho dificuldade em ouvir. Ele ri-se sarcasticamente e abana a cabeça. "O que é que tem tanta piada?" Franzo o sobrolho em confusão e ele morde o seu lábio, sem olhar para mim.

"Eu não consigo entender o que é que fiz de tão errado." Ele esbugalha os olhos e encolhe os ombros.

"Tu o quê? Levi por amor de D..." Fecho os olhos e respiro fundo, para me acalmar. A última que coisa que quero é acabar aos gritos, como sempre.

"Não consigo entender o que fiz de tão errado." Ele repete, o seu olhar sério posto no meu. Olho para o teto do apartamento e fixo o meu olhar numa pequena aranha que anda às voltas no mesmo, antes de voltar a olhar para Levi.

"Ora..." Sorrio ironicamente para o lado e reviro os olhos. "Entre as mentiras, as mortes, os esquemas e os crimes todos, não sei bem por onde começar." Faço de propósito para o olhar nos olhos para estudar a sua reação. É impossível que ele ache que não faz mal tudo o que me fez até agora. Levi não descola o seu olhar do meu e eu sinto-me... intimidade? Forço-me a quebrar o contacto visual e olho para um ponto longe dele.

"Se bem te lembras, fui o único que decidiu contar-te toda a verdade, fui eu quem te contou sobre o Paul, sobre a tua tia, tudo!" Ele junta as palmas das suas mãos ao falar e abana-as à minha frente. Nunca tinha pensado nisso. Ele tem razão, foi ele quem me disse sempre a verdade. Mas, mesmo assim, algo em mim me diz que eu não posso confiar nele. Qualquer pessoa que se dê com Eugene e Victor não merece confiança alguma. Quero dizer-lhe que nunca me disse que Paul estava vivo, mas não o faço. Até agora, só eu e Jackson é que sabemos e quero que se mantenha assim. E como disse, não confio em Levi.

DespairWhere stories live. Discover now