Capítulo 45

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Os dias voaram para Anahí e Alfonso, ele perdido entre documentos, ofícios e a mudança tão próxima, ela entre enjoos constantes, a confeitaria e terapia. A sessão com Samantha aquela tarde fora marcada de última hora já que Anahí não podia prever o dia que amanheceria bem e disposta a enfrentar a própria rotina. Diferente do habitual, a terapeuta deixou que ela falasse pelos cotovelos, absteve-se de qualquer comentário por mínimo que fosse, o motivo era óbvio, Anahí não reclamava, não enfatizara hora nenhuma sobre os problemas que poderiam surgir futuramente, principalmente no estado que estava. Não demonstrou medo, tristeza ou insegurança, ela estava pronta para enfrentar qualquer obstáculo, felizmente pronta.

Anahí: Você não vai falar nada? – Questionou intrigada após notar que os sessenta minutos disponíveis estavam próximos do fim.

Samantha: Eu também preciso ouvi-la vez ou outra. – Balançou os ombros e Anahí sorriu. – Não há nada mais terapêutico do que ouvir meus pacientes convictos que são completamente capazes de superar qualquer que seja a dificuldade.

Anahí: Eu disse isso a você? – Franziu o cenho.

Samantha: Disse quando afirmou que não seria um problema ficar umas semanas distantes do Alfonso, porque tens certeza que ele volta. – Ponderou, ajustando os óculos de grau. - E ele volta por você, porque a ama, você sabe disso agora, não sabe?

Anahí: Sim, ele realmente me ama. – Concordou.

Samantha: Ele conhece você, cada centímetro da sua alma... – Iniciou.

Anahí: Cada centímetro, praticamente todos os erros e acertos, e mesmo assim me ama. – Emendou a fala dela.

Samantha: E isso não faz dele seu objeto de cura e nem o torna responsável pela sua felicidade.

Anahí: Faz dele um homem que me merece.

Samantha: Exatamente. – Concluiu. – Agora você consegue diferenciar o relacionamento tóxico de um relacionamento saudável. – Gesticulou com as mãos enquanto Anahí acompanhava a linha de raciocínio. – Você sabe onde começa a violência seja física ou psicológica, sabe também como termina. Isso não te isenta de cair em outra rede de abuso porque são situações que não podemos prever, os sinais podem sim passar despercebido outra vez, existem muitas possibilidades para um manipulador. Mas o importante é que você tenha certeza que independente de quão fundo vá sempre existirá uma saída, e que nunca, jamais desista de si mesma.

Anahí: Eu não vou desistir. – Afirmou, convicta.

Samantha: Não desista, seja sempre forte e corajosa. Não por Arthur, por Alfonso ou nenhuma outra pessoa que possa vir fazer parte da sua vida, mas por você, essa é a sua história, o seu renascimento. Você chegou até mim refém dos seus traumas, arranque as mordaças. – Incentivou para ver Anahí deixar escapar uma lágrima solitária. – Aproveite a liberdade dos seus sentimentos, use-os sem medo.

Anahí: Obrigada. – Disse unicamente, não conseguia colocar em palavras o quanto estava feliz ao perceber como havia evoluído, e principalmente grata a Samantha, que fora primordial nesse processo. As duas trocaram um abraço carinhoso após aquela conversa e Anahí foi embora com a certeza que finalmente estava no caminho certo.

No resto da tarde Anahí resolveu ir até a confeitaria para se certificar que o empreendimento funcionava bem com sua ausência física, uma vez que precisou aderir o home office naquela semana tamanha indisposição. Desviou do percurso apenas para buscar no laboratório os resultados dos últimos exames que Bradley havia solicitado. Foi impossível conter o nervosismo ao receber em mãos aqueles papéis, afinal tudo poderia mudar drasticamente caso sua suspeita se confirmasse.

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