CAPÍTULO 29 - DANILO FLASHBACK

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- Tio Dan! – A voz da minha sobrinha de cinco anos chama, pulando em cima de mim no sofá com tanta força que perco o ar pela surpresa. Abro meus olhos, ainda sonolento pelo cochilo e encontro seu precioso rostinho sorridente pintado de dez cores diferentes e enfeitado com cinco adesivos de carrinhos. Sua peruca colorida e cacheada está torta, quase chegando às suas sobrancelhas e tenho tanta vontade de rir que engasgo tentando engoli-la. Suzana levava suas maquiagens muito a sério e não aceitava que rissem de suas obras de arte. Ela sorri mais para mim e apoia seu queixinho em suas mãos sobre meu peito, fazendo com que eu quase exploda de amor. Eu amava tanto essa pestinha.

- Papai está escondido no banheiro chorando. – Ela diz, mostrando preocupação em seus olhos castanhos gentis. – Mas prometo que não fiz nada, até comi aquela gororoba laranja que a vovó Victória fez no almoço hoje. – Suzana fala, consternada, apenas para tirar um dos adesivos de sua bochecha e grudá-lo bem no meio da minha testa.

- Não é nada com você, Suzie. – Eu garanto, endireitando sua peruca, para cobrir sua cabeça careca. Tento não pensar em sua doença, ou em seu tratamento, ou em qualquer coisa que envolva o câncer de Suzana, mas às vezes, em momentos como esse em que ela está sendo a força da natureza que ela é, era impossível não sentir o aperto comum no peito. – Ele provavelmente está apenas triste porque eu o venci no futebol de novo! – Eu digo, fazendo cosquinha em seu pescoço, ela ri e se contorce e eu derreto.

- Meu papai nunca perde nada! Ele é um herói indestrinível! – Ela grita e eu não aguento, começo a gargalhar.

- Acho que você quis dizer indestrutível, ó grande Princesa Colorida. – Eu digo, me levantando do sofá, ela se levanta e cruza os braços, arrebitando o nariz insolente para mim.

- Ele é isso também! – Ela garante, apenas para sair correndo, imitando um caubói. – Te amo, tio Dan! – Ela grita, completando com um yee-há animado. Eu rio, tentando acompanhar sua energia. Mas logo me lembro do que ela veio aqui me contar.

Alex está chorando em seu quarto. A separação de Nina e de suas filhas estava acabando com ele. Manter o segredo o havia custado boa parte da sua vida, e eu havia tentado avisar que ele precisava contar para Nina antes que fosse tarde demais. Era óbvio que ela entenderia se ele não tivesse deixado a situação chegar a um ponto tão extremo. Subo as escadas, e entro em seu banheiro, apenas para encontrá-lo lavando o rosto na pia. Ele está uma bagunça inchada e insone. Não digo nada, apenas encosto no batente da porta e deixo que ele respire.

- Estou bem. – Ele diz, secando o rosto. E acho que nem mesmo ele acredita, pois não me olha nos olhos.

- Sim, você com certeza está radiante de felicidade. – Eu digo ironicamente, apenas para ser fuzilado por meu irmão mais velho em toda a sua potência.

- Não me faça te socar. – Ele ameaça, passando por mim. Eu o sigo em silêncio.

- Ela vai te perdoar, Alex. – Eu digo, frustrado, triste por ver meu irmão nessa situação. Perder alguém que você ama da forma que ele amava Marina – como eu amava minha Ana – era uma dor fodida demais. Alex para ainda de costas para mim, e quando se vira em direção, seus olhos estão transbordando de lágrimas novamente.

- Ela não vai. – Ele diz, afundando o rosto em suas mãos, chorando de verdade. Eu fecho a porta para que Suzie não ouça nada, mas sei que ela está no jardim com minha mãe.

- É claro que vai, Alex. Ela precisa de tempo para pensar e processar o que você fez, mas eventualmente ela vai te perdoar. – Eu garanto. – Vocês são uma família. Se amam demais para deixar isso ser perdido assim.

- Eu deveria ter contado antes. – Ele diz, soando tão arrependido que ignoro minha vontade de ser irônico novamente.

- Deveria. – Me limito a dizer.

- Ela acha que eu a traí. Não me deixou explicar nada.

- Alex, você andava com a Mylena em seu pescoço para cima e para baixo, usou Mylena para fazer ciúmes na Nina, sabia do ódio que Marina sentia dela e do nada ela descobre que ela não era apenas uma ex-namorada insuportável, mas a mãe da sua filha, um elo indestrutível e você escondeu essa relação, escondeu sua própria filha dela por todo o tempo em que vocês estiveram juntos. – Eu explico, tentando fazer com que veja o lado dela também. – É óbvio que ela vai se sentir traída. Humilhada. Vai sentir que não era digna da sua confiança, que tudo foi uma grande mentira para você.

- Mas ela é minha vida! – Alex diz, chorando mais.

- E é exatamente por isso que no momento certo vocês vão conversar, ela vai te ouvir e as coisas vão voltar para o lugar. Mas você precisa ser paciente. Ela acabou de sofrer um acidente, passar por uma cirurgia, perder o cara que ela amava e se tornar mãe de duas crianças no mesmo dia. É demais para qualquer um.

- Eu só queria estar lá por ela. Eu preciso dela, Danilo. – Alex diz, tão consternado que não sei o que fazer além de abraçá-lo. É esquisito no começo, mas ele passa seus braços por minhas costas e chora apoiado em meu ombro. Respiro fundo, tentando controlar minhas próprias emoções por ter visto Ana novamente, por tudo aquilo que se perdeu, pela bagunça em nossa família. Meu irmão precisava de mim e isso era tudo que importava no momento.

QUEBRADOS - Irmãos Fiori: Livro II - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora