CAPÍTULO 22 - ANA FLASHBACK

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"E se achar que tudo está perdido

Eu estarei contando meus demônios, yeah

Esperando que tudo não esteja perdido..."

Everything's not Lost - Coldplay




Eu não acreditava na dor.

Quero dizer, eu sabia que a dor era real. Uma série de ligações neurológicas que faziam com que nossa corpo se sentisse uma merda.

Mas eu não acreditava nesse tipo de dor emocional que eu estava sentindo. Não acreditava que estar apaixonada por alguém poderia doer tanto. Posso sentir cada fibra do meu coração se esticando até arrebentar, apenas para pegar fogo e virar cinzas. Não consigo pensar racionalmente, não consigo me levantar dessa cama, não consigo respirar sem que a constatação mais pesarosa de toda a minha existência: meu coração estava partido. Completamente partido e eu não sabia o que fazer com todos esses pedaços espalhados dentro de mim, pelo chão da casa, embolados em meus cabelos sujos.

Havia me colocado em lugar tão vulnerável com Danilo, havia lhe entregado tanto - havia lhe entregado tudo - e agora, sendo invadida por cada pedaço de sentimento amargo, triste e cruel não sei como seguir em frente. Não sei como viver, e sorrir, e existir nesse corpo e nessa vida quando tudo está entrelaçado a ele. Quando compartilhamos a mesma família, a mesma cidade, o mesmo planeta.

Como entender o que tinha causado esse rompimento tão brusco, essa traição tão desleixada e podre? Eu simplesmente não conseguia ligar os pontos. Aquele era o meu Danilo? Era aquele homem que havia conseguido derrubar minhas muralhas e me fazer acreditar que eu merecia ser feliz? Era aquele homem que fazia com que eu me sentisse viva?

A resposta era a mais infeliz possível: eu não o conhecia. Não fazia a menor ideia de quem era aquele homem esparramado em nossa cama, sendo tocado por mãos que não eram minhas. Me desrespeitando da forma mais baixa possível.

Esperava que toda essa tristeza fosse substituída por raiva o mais rápido possível, porque eu sabia que isso iria acontecer. Eu me obrigaria a acontecer. Eu sabia lidar com a raiva, com o ódio, com a renegação. Mas essa tristeza? Essa dor profunda que faz até respirar ser difícil? Eu não iria aguentar. Eu não aguentaria.

- Já chega! - A voz do meu melhor amigo fala, entrando em seu quarto - onde estou hospedada a uma semana - Seu tom está claramente irritado, mas a preocupação escorre por seus olhos dourados.

- Você vai levantar da cama, tomar um banho e comer um prato de comida decente. - Ele ordena, puxando a coberta para longe do meu corpo. Volto o meu olhar para a parede ao lado da cama, e continuo na exata mesma posição, sem força e nem coragem de me mexer. O colchão se afunda do meu lado e sinto a mão de Daniel alcançar a minha. Não consigo olhar para ele também. Sei que seus dedos machucados foram descontados no rosto de Danilo, e odeio que meu coração se preocupe com seu estado.

- Cérebro, olha para mim. - Meu melhor amigo pede, sua voz estremecendo. Sei que estou deixando todos mortos de preocupação e isso só me envergonha mais. Nina já havia me ligado três vezes e eu não tive coragem de atendê-la. Não conseguiria mentir pra ela e não podia estragar sua família, ela odiaria Danilo, todos o odiariam e não podia ser responsável por isso.

- Por favor, Cérebro. - Daniel pede, mas ainda não me movimento. Não tenho forças nem para me virar na cama, quem dirá mastigar e esfregar meu corpo. - Ana... - Ele chama mais uma vez, e é só quando ouço um soluço que me viro assustada. Meu pink tem o rosto escondido entre as mãos e seus ombros sacodem conforme o choro toma todo o seu corpo.

QUEBRADOS - Irmãos Fiori: Livro II - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora