CAPÍTULO 42 - ANA

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Família olha com admiração
Batalhas decoram o chão
Ondas suavemente acariciam o litoral
Em lugares que nós não andaremos
Crianças choram e riem e jogam
Lentamente o cabelo ficará grisalho
Nós vamos sorrir pra terminar cada dia
Em lugares que nós não andaremos

Places we won't Walk – Bruno Major





As luzes eram fortes demais.

Insuportáveis.

Mas a cama era macia e confortável.

Tentei abrir os olhos de novo, agora piscando para me adaptar a iluminação do quarto branco e impessoal em que eu estava. Olhei para meu corpo, observando os curativos ao redor do meu braço e quase pulei de susto ao sentir um incomodo no pescoço. Um acesso venoso. Meus braços deveriam mesmo estar uma bagunça.

Tento mexer meus pés e minhas mãos e consigo. Tudo parece no lugar. Tudo parece no lugar. Mas diferente. Perdido. Quebrado. E é assim que eu me lembro. As memórias me assolam em uma velocidade quase sufocante, me atropelando sem pena.

Meus pais, os acidentes, Théo, Danilo... Danilo... Meu Danilo.

Meu coração quase para quando me lembro de nossos últimos momentos juntos, seu te amo sussurrado, seu corpo protegendo o meu, o fogo nos abraçando.

E minha mãe. Minha mãe no epicentro daquela explosão.

Morta. Queimada. Assassinada.

Assassinada por meu irmão.

Não percebo quando começo a chorar. Na verdade, não me dou conta de que estou berrando, soluçando, gritando, sufocando dentro de mim mesma. O trauma e choque caindo de uma só vez sobre meu corpo. Eu tremo inteira e me jogo para fora da cama, sufocada.

Sufocando... Estou sufocando. Não consigo respirar.

O quarto é invadido por uma multidão. Todos os meus irmãos, Alex e as crianças, meu pai, Mama e Seu Heitor, Victória e Carlos, Cadu, Mariana, Maria Clara, e até mesmo Petúnia e Margarida. Todos estão aqui, se empurrando para chegar até mim. Mas não consigo fazer nada.

Estou ocupada demais gritando e chorando e sufocando. O ar não chega aos meus pulmões.

Mortos. Estavam todos mortos.

Daniel é o primeiro a chegar até mim e ele soluça, chorando também, enquanto tenta me acalmar.

- Cérebro. – Ele sussurra, sua voz sufocada por seu próprio choro. Ele tenta me segurar mas me debato.

- Não consigo... – Eu tento dizer, segurando minha garganta. – Não... Consigo...

- Ela não consegue respirar, porra! – Gabriel diz, todos eles me olhando desesperados, lágrimas nos olhos, expressões sombrias.

- Vou chamar o médico. – Mama diz, saindo correndo.

- Deite ela na cama. – Meu pai ordena, empurrando sua cadeira de rodas. – Ela está em choque. Tire as crianças daqui.

Alex parece hesitante de sair, mas recebe um olhar de Nina e sai do quarto com Violeta e Melissa. Fico grata por isso porque não quero que elas vejam isso.

Daniel não hesita em me pegar no colo, beijando minha cabeça com cuidado ao me depositar na cama. E eu choro mais. Tudo que consigo fazer é chorar.

- Aninha. – Marina fala, chorando ao pegar minha mão. – Aninha, calma. Você está bem. Você está bem. – Ela sussurra, entre lágrimas, beijando minha mão. Sua barriga inchada pela gravidez a impede de se inclinar completamente na minha direção.

QUEBRADOS - Irmãos Fiori: Livro II - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora