CAPÍTULO 33 - DANILO

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Acordo com o cheiro de Ana ainda em minha pele.

Ela não está mais ao meu lado, já se levantou, mas o cheiro floral que ela emana me lembra de que a última madrugada foi real. Que dormimos juntos, embolados na mesma cama. Que ela me chamou para perto. Que ela teve certeza. Tenho um sorriso estúpido em meu rosto conforme me espreguiço, agradecido pelo sol suave que entra pelas janelas. Hoje iríamos embora, mas eu tinha uma sensação boa sobre o que nos aguardava em casa. Uma amizade de fato. E talvez... Um dia... Se eu me mostrasse digno... Talvez Ana me aceitasse de volta. Mas ainda eram muitos "talvez". O mais importante era fortalecermos aquilo que havíamos reconstruído nessa semana, nossa amizade pura. Nosso companheirismo.

Levanto da cama, sentindo o cheiro de café que vem da cozinha e quase corro, pronto para ver o que Ana está tentando fazer. Digo tentando porque não acho que ela consiga nem mesmo ferver água sem colocar fogo na metade da cozinha. Eu rio antes mesmo de vê-la. Pelos xingamentos que ela solta, parece que a chaleira em sua mão é sua tia-avó Cecília.

- Eu posso saber o que essa pobre chaleira fez contra você para receber tantos xingamentos gratuitos? – Eu pergunto, encostando-me no batente da cozinha. Ana me encara, os olhos descendo por meu corpo com a faísca de desejo que eu amava. A intimidade de ontem fazendo com que suas bochechas corem. Eu esperava que ela não estivesse arrependida.

- Sabe o que eles deveriam ter nesse chalé? – Ela pergunta, colocando a chaleira com força na pia e xingando quando um pingo de água quente voou até seu braço. – Uma cafeteira elétrica!

- Algumas pessoas gostam do processo de fazer seu próprio café. – Eu digo, a empurrando para o lado pelos ombros, me encarregando de sua tarefa. O coador de pano está quase transbordando de pó de café.

– E você pelo visto gosta da ideia de não dormir por duas semanas e meia. – Eu brinco, enquanto tiro metade do que ela colocou.

- Como eu deveria saber? – Ela indaga, irritada. – Na minha casa eu coloco a cápsula e voilá, café dos deuses em quinze segundos.

Eu me delimito a rir do seu rosto vermelho. Ana odiava não saber fazer algo, a tirava completamente do sério. Eu termino de passar o café e entrego uma xícara sem açúcar para ela, como eu sei que ela gosta.

- Toma, esquentadinha. Você tem sorte de ter tantas pessoas italianas e cozinheiras ao seu redor, não sei como você sobreviveria.

- Deus inventou os aplicativos de entrega de comida por um motivo. – Ela diz, tomando um gole do café, me abençoando com sua expressão satisfeita.

- Os programadores não concordariam com você.

- Tenho certeza de que foi Deus quem colocou a ideia na cabeça deles. – Ela rebate, irônica. E eu apenas nego, rindo contra minha xícara.

Ficamos em silêncio, apenas aproveitando o vento fresco que entra pela janela, inspirando o ar perfumado, nos deliciando do líquido quente em nossas mãos. Não consigo tirar meus olhos de Ana, o cabelo bagunçado, o pijama simples, o rosto limpo. Absolutamente linda.

Ela me olha também. Os olhos primeiros questionadores, depois receptivos. Acho que ela pode ver todas as perguntas em meus olhos. As dúvidas e as certezas. Você está bem? Ontem foi real? Significou para você o mesmo que significou para mim? O que fazemos agora?

Ana parece absorver tudo, compreender, e eu fecho minha mão com força ao redor da xícara em pura expectativa quando ela abre a boca e começa a falar.

- Danilo, sobre ontem... – Ela diz, mas não tem a chance de continuar porque a porta da frente é aberta com força e o susto é tão grande que Ana derruba todo o seu café em si mesma, gritando conforme o líquido quente ensopa sua blusa, queimando sua pele. Eu nem penso antes de correr em sua direção e puxar a camisa para longe de seu corpo, apenas para desgrudá-la da pele, com medo de que ela se queime ainda mais.

QUEBRADOS - Irmãos Fiori: Livro II - COMPLETOWhere stories live. Discover now