PRÓLOGO

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2 anos antes


Eu sabia pelo ar do apartamento que algo estava errado.

A casa estava silenciosa demais e Danilo escutava música o dia inteiro, até mesmo para dormir.

Eu deveria ter virado as costas e ido embora.

Eu havia ido ali para me desculpar pelo que havia dito, mas eu poderia fazer isso outra hora.

Não tinha que ser às duas da manhã de um sábado, onde a maioria das pessoas está enchendo a cara e dançando até se acabar. Ah, os velhos tempos...

Mas não, eu quis ter ido até lá, porque eu era idiota e apaixonada demais para dormir brigada com Danilo. O apartamento não era muito grande de forma que com vinte passos eu chegaria até o quarto.

Tudo estava muito escuro, exceto pela luz que escapava fracamente pela fresta da porta do quarto dele. 20 passos. Que me separavam da Ana inteira que eu costumava ser, da quebrada que eu era hoje.

19 passos. Tudo ainda parece a mesma coisa.

15 passos. Eu ouço um sussurro. Isso me arrepia dos pés até a cabeça. O nó em minha garganta dificulta minha respiração.

10 passos. Agora o som é concreto. Pessoas estão falando. Eu tremo.

8 passos. São risadas. Parecem ser risadas de mulheres.

5 passos. Um gemido chega aos meus ouvidos. É Danilo, agora eu tenho absoluta certeza, eu não confundiria aquele som que ele fazia quando estava com tesão demais para pensar nunca.

4 passos. Meu cérebro já sabe o que está acontecendo atrás da porta que me separa do meu passado. Me recuso a acreditar. Danilo não faria isso comigo. Não, ele não faria. Meus olhos estão queimando.

3 passos. Sei que vou chorar. Não quero chorar, mas é mais forte que eu, meu coração está sendo esmagado e a cena atrás da porta a minha frente irá mudar tudo.

2 passos. Não estou pronta. Saia daí! Corra! Você não quer entrar nesse quarto! Ana Cecília Maldonado, saia desse apartamento agora! É o que meu coração está gritando. Mas continuo no mesmo lugar.

Os sons são claros como cristais, há mais de duas pessoas lá dentro. A dor já é pulsante, e meu cérebro me implora para que eu entre e acabe com aquilo de uma vez. E é isso que eu faço.

Eu dou dois passos rapidamente e escancaro a porta.

A visão é perturbadora e sei que jamais esquecerei isso. Danilo está deitado no meio da cama, nu. Sei que ele está bêbado, muito bêbado, pela forma que sua cabeça está pesada e um sorriso bobo fixo em seus lábios. Mas não é isso que me chama a atenção, são as outras três mulheres loiras e nuas que nem percebem minha presença. Uma está beijando o pescoço de Danilo, outra segura a mão dele contra seu seio, e a terceira, uma loira de corpo escultural, ela está com seu membro entre as mãos. Revezando os movimentos manuais com a sua boca. Eu estou congelada. Sentindo cada parte do meu coração queimar até virar cinzas. As lágrimas escapam dos meus olhos e o soluço escapa sem que eu pudesse impedir. As três mulheres  param o que estão fazendo e a surpresa em seus rostos é tão falsa, que eu choro mais.

Danilo mal se move para compreender porque os toques e beijos pararam. Ele está muito mal. Seus olhos estão opacos e flutuam entre mim e as mulheres. E por um instante a lucidez recai sobre seu corpo e ele franze o cenho.

- G-gatinha? – Ele chama, com a voz embolada. – porque você parou de me chupar? – Ele perguntou e é aí que eu quebro de verdade. Ele me confundiu com a loira que chupava seu pau. Ele a chamou de gatinha. É demais para mim.

Toda aquela situação, a visão dos quatro corpos nus, tudo só me esmaga mais. Então eu engulo a seco e eu corro.

Corro o mais rápido que posso e me tranco no carro.

Espero dez segundos, uma parte de mim ainda esperançosa, mas Danilo não vem.

Eu acelero e vou embora.

QUEBRADOS - Irmãos Fiori: Livro II - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora