CAPÍTULO 44 - ANA

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Dois meses depois...


Não mude
Você significa tudo para mim
E eu espero que você brilhe uma luz que me cubra
Meu amor por você cresce quando estamos separados
Nós podemos construir nossa própria família
Um dia nós iremos...

Forever Ago - Woodlock





Corro meus dedos pela pele cicatrizada das costas de Danilo, tomando todo o cuidado que posso para não acordá-lo. As cicatrizes disformes em sua pele agora estavam quase completamente curadas, o que era um alívio para todos nós. O sol entra pela janela, enchendo nossa cama de luz dourada e quente e Danilo dorme ao meu lado com toda a sua serenidade.

Hoje faziam exatos dois meses desde o nosso acidente, a morte da minha mãe e a morte do meu irmão e tudo estava caminhando da melhor forma possível. Após a liberação de Danilo do hospital nem pensamos muito antes de virmos diretamente para o meu apartamento, que era nossa casa agora. Eu sabia que seria difícil para ele voltar para sua casa onde tantas tragédias e perdas e mentiras haviam habitado.

Desde que ele havia acordado no hospital, não passamos nem mesmo um dia separados, havia tanto tempo para ser recuperado, e depois de tudo que havíamos perdido parecia simplesmente idiota ficarmos longe um do outro. Ele era todo o meu coração e sabia disso.  Juntos éramos mais fortes, juntos éramos imbatíveis. Ele era o meu felizes para sempre, tudo o que eu sempre quis e hoje percebo o quanto ter enfrentado tanta merda apenas nos aproximou mais, me mostrando o homem incrível que eu já sabia que ele havia se tornado, mas nunca pude presenciar diretamente.

Havia sido quase instintivo para mim voltar para terapia novamente quando finalmente as coisas de acalmaram. Eu acabaria me afogando na culpa e no peso de tudo o que havia acontecido sem ajuda profissional e fiquei muito feliz quando Danilo decidiu me acompanhar, voltando as suas sessões também. Era necessário depois de tanto.

Nossa família havia enfrentado mais problemas, desafios e dificuldades do que qualquer pessoa acreditaria e não havia vergonha em nenhuma em precisar de ajuda para processar minhas perdas, traumas e as consequências que tive de encarar quando finalmente tudo se abateu sobre mim. E graças a Deus que estava dando certo. Eu não estava recuperada, bem longe disso. Demoraria um tempo antes que eu conseguisse olhar para trás e sentir qualquer coisa além da tristeza e do remorso, mas agora eu conseguia respirar novamente, viver a minha vida e amar sem medo, o que era mais do que eu poderia pedir.

Meu pai vinha sido uma grande parte da minha recuperação, me visitando praticamente todos os dias e de fato tentando entender a pessoa que eu me tornei – e que ele não conhecia. Com a morte da minha mãe, ele tinha ficado sozinho e minha lição havia sido aprendida: o tempo é curto demais. Então estava me permitindo abraçar a oportunidade de construir um relacionamento com o homem que ele também vinha se tornando. Após a dispensa das cinzas da minha mãe no mar, apenas com nós dois presentes, consegui finalmente perdoá-los. Saber que minha mãe estava morta e que não haveria uma segunda chance para nós duas ainda me machucava, mas infelizmente eu não poderia fingir sentir todo o luto pela perda do amor materno que ela nunca me deu. Algumas coisas nascem e morrem como são, e isso é algo com o que precisamos fazer as pazes. Aceitar a natureza das coisas é um ato de amor também e encontro forças para seguir em frente sabendo que a amei da melhor forma que eu podia, assim como ela fez e isso era o suficiente.

A morte de Théo ainda era algo que eu tentava digerir. Toda a sua existência nesse planeta foi carregada com tristezas e perdas e não ter conseguido salvá-lo de si mesmo ainda me causava pesadelos. Eu o odiava e o amava em medidas assustadoramente iguais, mas sabia que para seguir em frente eu precisava deixá-lo ir e me resignar na realidade e na ambiguidade dos meus sentimentos. Eu tive um irmão. Eu perdi tudo por causa desse irmão. Eu o odiei. Eu o amei. Ele morreu e eu sobrevivi. Esse seria um peso que caminharia comigo até o final dos meus dias, mas que eu mantinha sobre o meu controle, proibindo-o de me machucar mais do que o necessário. Essa havia sido a nossa história. Não foi bonita, mas foi a nossa.

QUEBRADOS - Irmãos Fiori: Livro II - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora