CAPÍTULO 43 - DANILO

3.3K 354 63
                                    


E chegará um dia, você vai ver, sem mais lágrimas
E o amor não irá quebrar seu coração, mas acabar com seus medos
Suba sua colina e veja o que você encontrará lá

Com graça em seu coração e flores em seu cabelo

After the storm - Mumford and Sons


Eu tinha morrido.

Ou tinha chegado bem perto disso.

Mas não importava a diferença, eu só sabia que a dor era insuportável. Completamente insuportável. Fervente. Tão profunda que eu podia senti-la em meus ossos, queimando e borbulhando, deixando um rastro de destruição e pura agonia num tormento angustiante. A dor era completamente infernal. Intolerável. Infinita.

Mas então, ela começou a ceder.

A ceder e ceder e ceder.

Diminuindo até não sobrar absolutamente nada além de uma névoa dormente, que se espalhou por meus músculos, alcançando todas as células, aliviando a agonia. Aliviando a queimação. Soprando cada ferida com cuidado.

Passei o que pareceram anos completamente dormente, num sono tranquilo e sem qualquer tipo de sonhos. Não havia nada, apenas descanso total.

Até agora.

Agora, posso mexer meus dedos dos pés.

Mesmo sem abrir os olhos, mesmo completamente atordoado por ter acordado de um sono profundo e não compreender absolutamente nada ao meu redor, eu mexo meus dedos dos pés. Primeiro apenas como um reflexo, para testar esse corpo que parece ter sido forçado dentro de mim, que pesa uma tonelada de músculos moles e letárgicos. Mexo os meus pés e sinto um tecido firme contra minha pele. Mexo então meus dedos das mãos, absorvendo as sensações novas – me relembrando delas.

Finalmente, tomo coragem para abrir meus olhos, piscando o máximo de vezes possíveis para me adaptar a luz, que apesar de fraca, ainda incomoda meus olhos. A luz do sol entra pela cortina e banha o chão do quarto e percebo que tudo a minha volta tem um ângulo estranho, mas é porque estou deitado de bruços. Testo meus braços e meus punhos e eles parecem fortes o suficiente para que eu me apoie no colchão macio embaixo de mim e tente erguer o meu tronco. Descubro rapidamente que essa é uma péssima ideia. Na verdade é uma ideia de merda pra caralho, porque assim que movimento minhas escapulas uma dor cortante atravessa meu corpo, me fazendo arfar e cair de cara no travesseiro. Que merda era aquela? O que diabos tinha acontecido?

Tento olhar ao meu redor, buscando qualquer indicação do que diabos me fez parar no hospital com a maldita das minhas costas destruídas, mas do lado esquerdo da cama, tudo que encontro são aparelhos médicos que apitam suavemente e um grande saco de soro pendurado acima da minha cabeça, conectado as costas da minha mão. Giro minha cabeça para o outro lado e lá está Alex, adormecido em uma poltrona no canto do quarto em uma posição estranha. Alex. Meu irmão.

E então eu me lembro.

Tudo volta numa avalanche sufocante.

Ana, Théo, traições, morte, mentiras e mentiras e mentiras. A mãe de Ana e o carro e a explosão e o desespero ao ver que não conseguiríamos escapar. O medo. O medo completamente apavorante que veio com a constatação de que iríamos morrer. Que minha vida tinha chegado ao fim e a de Ana também. Ana. Ana. Minha Ana. Minha doce Ana. O amor da minha vida. Ela tinha que ter sobrevivido. Ela tinha que estar viva. Ela não podia ter morrido. Não. Não. Não. Ela não. Ela nunca.

Subitamente, o ar do quarto parece sumir. Estou sufocando, buscando desesperadamente por mais oxigênio conforme o pânico total se espalha por meu corpo em ondas nauseantes, fazendo a dor das minhas costas parecem nada mais do que um peteleco quando me ergo para fora da cama num rompante, caindo com tudo no chão, porque minhas pernas parecem dois espaguetes molengos, sem força nenhuma depois do que pareceram eras sem serem usadas. O baque do meu corpo contra o chão me faz gemer alto e acorda Alex, que pula da poltrona completamente surpreso e confuso ao tentar acompanhar o que está acontecendo.

QUEBRADOS - Irmãos Fiori: Livro II - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora