CAPÍTULO 23 - ANA

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Então você se apaixonou,

Então você se despedaçou,

E se doer como o inferno

Então vai doer como o inferno,

Venha aqui,

Eu estou nas ruínas também

Eu conheço a destruição tão bem.

What if this is all the Love you Ever Get? - Snow Patrol



- Como foi sua sessão? - Cadu pergunta, andando ao meu lado, vestido com suas roupas chiques de academia. Eu havia acabado de sair da minha sessão de terapia e sentia um grande peso fora dos meus ombros. Os psicólogos e terapeutas tinham lugar reservado no paraíso, eu tinha certeza.

Agora estávamos indo malhar na academia de Salvatore e eu sabia que o safado do meu amigo só estava vestido todo bonitão assim porque sabia que encontraria meu irmão.

- Muito boa. - Eu digo, abrindo a porta de vidro do centro de treinamento. - Não sei porque parei com a terapia quando me faz tão bem.

- Por que o que você tem de gostosa e inteligente, tem de obtusa. - Ele diz, ignorando meus olhos que o fuzilam.

- Não vou nem perguntar o que você, meu cupido particular, quis dizer com isso. - Eu falo, ignorando as risadinhas que ele me dá. A academia está mais vazia do que o normal,  o que eu gosto e caminhamos diretamente para as esteiras. Eu amava correr e Cadu me acompanhava pelo tempo que conseguia. O que não era muito.

- Eu não sei como você aguenta. - Ele diz, secando o suor de sua pele perfeita, logo após apertar o botão de emergência de sua esteira.

- Foram só cinco quilômetros, Cadu. - Eu digo, ainda correndo. Eu fazia o triplo disso em meus dias ruins.

- Você é um monstrinho corredor disfarçado de Barbie Rapunzel. - Ele fala, apoiando as mãos nos joelhos, me fazendo rir.

- Fortalece o coração. - Eu digo, como se aquilo justificasse tudo.

- Bem, eu sinto que vou morrer a qualquer momento, então decido que isso que você acabou de dizer é mentira. - Ele continua, me fazendo rir novamente. - Vou terminar minha série e orar para ser abençoado com a visão de seu irmão sem camisa.

Reviro meus olhos em sua direção e continuo correndo por mais quarenta minutos, antes de subir e terminar meus exercícios com peso. Vejo Cadu a distância e rio para suas caretas de dor. Ele era super definido e levava a academia a sério, mas era impagável.

Decido falar com Salvatore enquanto Cadu termina sua sessão de tortura, e nem preciso perguntar a alguém onde ele está, basta que eu siga os gritos de dor e o som de corpos caindo no chão.

Como eu imaginava, Salvatore está no meio do tatame treinando três dos que imagino serem seus alunos de elite - os únicos que ele ainda treinava. Depois de ter se machucado há uns anos e ter parado de lutar em competições, ele se dedicava a treinar os melhores do país.

Ele está vestido com camisa preta que poderia explodir de tão justa em seus músculos e calça de moletom preta com a logo do centro de treinamento. O cabelo castanho curto nas laterais e comprido em cima era um charme próprio.

Vejo quando ele gesticula para um dos homens, que corre em sua direção sem misericórdia, como um touro bravo, e Salvatore se delimita a apenas virar todo o seu corpo para o lado e num movimento mais rápido do que meus olhos podem acompanhar, seu aluno já tem suas costas grudadas ao tatame, gemendo em desconforto. Salvatore murmura alguma coisa que faz com que os homens riam e ajuda seu aluno a se levantar.

Aceno em sua direção e ele sorri assim que me vê, fazendo com que eu suspire. O sorriso desse homem conquistaria um Nobel da Paz.

- Oi Pequena. - Ele diz, beijando minha bochecha. - Tudo bem?

- Tudo, acabei de treinar. Estou esperando Cadu terminar.

- Ainda o colocando para morrer na esteira? - Ele pergunta com humor, me fazendo rir e concordar com a cabeça.

- Não sei como você não esbarrou em Danilo. - Ele diz, inocentemente, mas sei que existe uma mensagem em suas entrelinhas. - Ele acabou de sair daqui.

- Legal. - Eu digo, sem saber exatamente o que falar.

- E como vocês estão? - Ele pergunta e eu reviro meus olhos.

- Parabéns pela sutileza para conseguir chegar no seu ponto. - Eu digo, o empurrando. Nada sobre Salvatore era sutil e ele sabia disso. Ele dá de ombros, como quem se desculpa.

- Como vocês estão?

- Não existe um "vocês", existe "eu" e existe "ele". - Eu digo, gesticulando. - Nada de nós juntos.

- Eu nunca vi tanto uma pessoa viver em negação na minha vida. - Ele diz e eu franzo o cenho.

- Desde quando você quer que eu fique com Danilo? - Eu pergunto, incrédula, porque Salvatore ficava logo atrás de Daniel na fila de desprezo pelo que Danilo havia feito comigo.

- Desde quando qualquer pessoa quer que eu fique com ele? - Indago, perdendo toda a minha paciência. - Por que todo mundo decidiu revirar esse assunto dois anos depois?! - Pergunto, frustrada, mas Salvatore nem se abala, me olha como a criancinha de cinco anos fazendo pirraça que ele acha que sou desde que me conheceu.

- Porque quando seu pai sofreu o acidente, foi para os braços dele que você correu. Ninguém achava que tinha mais jeito ou esperança, até você mostrar uma rachadura nessa muralha que você ergueu ao seu redor. - Ele diz, resoluto e maciço, como ele é. Me encolho, subitamente envergonhada, e ele se aproxima do meu corpo, me puxando para um abraço.

- A gente te quer de volta, Aninha. É só isso. - Ele diz, a voz abafada pelo meu cabelo.

- Eu ainda estou aqui. - Eu murmuro, sentindo a mentira em minha língua.

- Nós dois sabemos que isso não é verdade. - Ele diz, antes de beijar minha testa e me dar as costas, voltando para seus alunos. Fico encarando suas costas largas, ouvindo sua voz ecoar dentro de mim. Pela primeira vez, acho que ele está certo. 

QUEBRADOS - Irmãos Fiori: Livro II - COMPLETOWhere stories live. Discover now