03

101K 7.5K 5.7K
                                    


Manuela

Peguei meu celular e olhei no calendário pra ver que dia da semana era e arregalei os olhos ao ver que já era sexta feira. Hoje é o dia que a Raissa entra de licença da escolinha da comunidade e eu vou ter que ir lá pra fazer minha apresentação para as crianças.

Ainda não tinha contado pra minha mãe que ia trabalhar temporariamente numa escolinha do vidigal porque sei que ela vai surtar, e eu tenho certeza que o desgraçado do Vicente vai ficar pilhando a cabeça dela de coisas contra mim.

Vesti uma calça jeans branca e uma camiseta preta lisa, calcei meu Nike preto e soltei o meu cabelo, dei uma ajeitada nele e já estava ótimo. Passei meu perfume da Carolina Herrera e dei uma volta no espelho.

Manuela: Linda como sempre, nada muda. - mandei um beijo pra mim mesma.

Peguei uma mochila qualquer e coloquei algumas roupas. Raissa me chamou pra passar o final de semana lá e mesmo sabendo que minha mãe vai ter uma crise, eu aceitei.

Peguei meu celular na cama, coloquei a mochila no ombro e sai do meu quarto. Desci pra sala e minha mãe tava sentada no sofá falando no telefone com alguém.

Mariah: Espera aí.. - falou com alguém do outro lado da linha e olhou pra mim - Pra onde você está indo Manuela?

Manuela: Pro inferno. - peguei minhas chaves.

Mariah: Daqui a pouco eu te ligo, beijos. - desligou e largou o celular - Não vou te perguntar de novo Manuela!

Manuela: Pra que a senhora quer saber todos os meus passos? Coloca logo um rastreador na minha calcinha. - rolei os olhos.

Ela ia falar alguma coisa mas o meu padrasto saiu da cozinha e se aproximou da gente.

Vicente: Responde a tua mãe. - botou a mão no quadril.

Manuela: Chegou o corno. - debochei.

Vicente: Olha tu me respeita garota, porque da próxima vez eu enfio a mão na sua cara. - ameaçou.

Mariah: Vicente!! - repreendeu ele pela primeira vez na vida.

Manuela: Achei que a polícia tinha que ser o exemplo, que piada. - dei risada - Estou perdendo meu tempo aqui, tchau pra vocês. - abri a porta.

Mariah: Se cuida filha.. - disse com um olhar estranho.

Manuela: Se cuida também mãe.

Sai pra fora e quando fechei a porta já comecei a escutar o Vicente gritando com a minha mãe por ela ter me deixado sair. Neguei com a cabeça e suspirei, nunca vou entender porque minha mãe estragou sua vida casando com esse bosta.

Andei até a portaria do condômino é meu Uber já estava esperando. Entrei no carro e cumprimentei o motorista, coloquei meu fone de ouvido e coloquei livre e triste do Filipe Ret pra tocar.

Encostei minha cabeça no vidro e fiquei me imaginando num videoclipe.

- Moça? - despertei quando o cara me chamou.

Abri um olho enquanto o outro continuava fechado, tinha dado pane no meu sistema.

Olhei ao meu redor e vi que motorista já tava parado na praça de sempre. Os motoristas de Uber não podia subir o morro, então eles sempre deixam os passageiros aqui.

Manuela: Desculpa moço, acabei cochilando. - ri.

- Não tem problema, acontece nas melhores famílias. - brincou.

Entreguei o dinheiro pra ele e mandei mensagem pra Raissa enquanto ele contava o troco.

O carinha estendeu o dinheiro pra mim e eu agradeci ele pela corrida. Abri a porta do carro e sai olhando para os lados antes de atravessar a Niemeyer.

Andei até a entrada do morro e de longe eu já conseguia ver dois caras na entrada de uma rua e outros três em cima das lajes, só observando tudo com um fuzil nas mãos.

Tremi na base como sempre.

Pepê: Manuela noites, falaê sumida. - escutei teu grito.

Odeio esse apelido.

Pepê é o braço direito do chefe daqui, nunca cheguei a ver o sujeito, mas dizem que ele é bem perigoso e eu espero nunca trombar com ele.

Do lado dele tava o Magrinho, não sei o que ele faz, só sei que ele é envolvido também e um dos de frente da facção.

Manuela: Oi Pepê. - sorri.

Pepê: Fiquei sabendo que tu vai ser a nova professora dos pivetinho lá, é caô né?

Manuela: É nada, vou só substituir a Raissa por um tempinho.

Magrinho: Que isso pô, já ia logo fazer um filho pra poder te ver na escolinha todo dia.

Pepê: Moleque é atacante mermo. - deu risada.

Manuela: Jogador caro. - brinquei - Agora deixa eu ir lá, antes que a Raissa me mate. - ajeitei a mochila nas costas.

Pepê: Vai lá. - beijou minha bochecha - Aê Jacaré, pode deixar ela subir. - gritou com um cara.

O menino só balançou a cabeça.

Me despedi os dois e comecei a subir o morro, andei por algumas ruas até chegar na escolinha. Algumas crianças estavam entrando e eu esperei todo mundo entrar pra eu entrar também.

Passei pelo portão e procurei o parquinho que a Raissa disse que tava me esperando. Andei pela grama cheia de barro por conta da chuva da noite anterior e peguei meu celular pra mandar mensagem pra Raissa que não tava em canto nenhum.

Acabei esbarrando com alguém e eu caí de bunda na grama cheia de barro, sujando toda a minha calça branca.

Manuela: Não acredito nisso, puta que pariu. - fechei os olhos quase explodindo de raiva - Desgraça mesmo, sujou toda a minha calça branquinha. Uma pessoa dessa merece queimar no inferno.

Abri os olhos e tinha um cara parado na minha frente e quase tive um infarto quando vi o fuzil dele atravessado na barriga.

Lance CriminosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora