06

91K 6.4K 3.3K
                                    

Acordei quando a dona Catarina, mãe da Raissa, ligou o som no último volume enquanto cantava alguma música do Calcinha Preta. Coloquei o travesseiro no rosto na tentativa de dormir de novo, mas era impossível, até as janelas tremiam com o grave.

Raissa: Mãe... - berrou - Abaixa isso aê, é sábado poxa, o único dia que eu posso dormir até tarde. - choramingou.

Foi o mesmo que falar com a parede, já que a dona Catarina não escutou nada com todo esse barulho da música.

Raissa: Ela faz isso pra eu levantar e ajudar ela com as tarefas de casa, que ódio. - deu vários chutes no ar. - Queria ser rica, milionária e ter gente pra fazer tudo pra mim. - a mulher tava com ódio.

Manuela: Se acalma mulher, vamo lá dançar com ela, pelo menos sua mãe tem bom gosto musical. - dei risada.

Forró é legal poxa, anima qualquer um.

Raissa: Vou dançar o caralho. - bufou - Só de raiva hoje eu vou pro baile, ficar chapadona e voltar só as seis da manhã. - levantou.

Manuela: Não inventa, quero ir pra baile funk não, tenho medo. - fiz careta.

Raissa: Então vamos pro forró do seu Juarez, onde só tem velho cachaceiro, careca e barrigudo. - revirou os olhos.

Levantei às mãos em sinal de rendição, é praticamente impossível conversar com a Raissa quando ela tá de mau humor.

Raissa pegou sua toalha e foi tomar banho.

Peguei meu celular em cima da cômoda e começou a tocar do nada, olhei no visor e era um número desconhecido.

Atendi já sabendo que ia ser aqueles números insuportáveis de São Paulo.

Ligação on

Manuela: Alô alô.

A pessoa do outro lado ficou em silêncio, mas depois comecei a ouvir uns sussurros estranho.

021xx: Me ajuda...

Estranhei, a voz era feminina mas eu não conhecia de lugar nenhum.

Manuela: Quem é?

021xx: Por favor, me tira desse lugar. - suspirou baixinho e chorou.

Manuela: Isso é trote né? Me fala quem é você que eu tento ajudar.

A mulher não disse mais nada, só desligou a ligação.

Off

Olhei pra tela e arqueei as sobrancelhas, tentei retornar nesse mesmo número, mas a pessoa não atendeu, só caiu na caixa postal.

A primeira pessoa que eu lembrei foi da minha mãe com aquele cara em casa. Liguei pra ela, mas ela não atendeu também, entrei no WhatsApp e mandei mensagem. Depois de quinze minutos de preocupação, ela respondeu dizendo que tava bem e que não atendeu porque tava ocupada.

Suspirei mais aliviada e me levantei, eu sempre fico preocupada aquele lixo do Vicente fazer algum mal
pra ela, sinto que tem algo muito estranho naquele relacionamento e minha mãe não faz nada por medo.

Raissa: Vamos lá na padaria comer pão de queijo, levanta dessa cama. - tacou a toalha molhada em mim - Tô afim de ver o Pepê também, faz tempo que não vejo o bofe.

Manuela: Achei que tu não sentava pra traficante, ou a regra só serve pro tal do BM? - ironizei.

Raissa: O Pepê é gente boa. - deu de ombros.

Neguei com a cabeça e coloquei uma roupa fresquinha, só da janela eu já conseguia ver o sol que tava hoje.

***

Depois da Raissa discutir com ela mãe dela sobre quem iria lavar os banheiros, nós finalmente saímos de casa. Subimos a rua da comunidade conversando sobre a vida das pessoas, a Raissa me deixou informada da vida de todo mundo daqui.

Viramos na rua da padaria e de longe eu consegui ver o cara que esbarrou em mim na escola, junto com uma mulher que não me era estranha. Ele tava sem camiseta e ela passava a mão naqueles músculos dele e confesso que senti uma invejinha.

Os dois se largaram e a mulher caminhou na nossa direção, jogando os cabelos e com um sorrisão.

- Oi linda. - cumprimentou a Raissa e depois olhou pra mim de cima abaixo - E quem é tu?

Raissa: Oi gata. - beijou a bochecha dela - Essa é a Manuela, minha amiga, não fica embaçando na dela, a menina é de boa. - pediu e eu já fiquei assustada.

- Qualé minha filha, eu sou um amor. - deu um sorriso debochado - Sou a Lavínia, e se tu é amiga da Rai, é minha amiga também. - me puxou pra um abraço.

Abracei ela meio sem jeito, não sei como abraçar estranhos.

Raissa: Essa é a mãe da menina que tu tava falando ontem. - falou prendendo o riso.

Lavínia: O que minha filha fez dessa vez? Aquela garota ainda vai ferrar qualquer dia. - suspirou.

Arregalei os olhos, não ia entregar a menininha não, se só por esbarrar nela, ela já deixou uma menina cega. Imagina o que ela faz comigo se eu contar pro chefe do CV que o filho dele apanha da filha dela.

Tenho muito amor a minha vida.

Manuela: Nada não, era só curiosidade. - falei com
medo.

Lavínia: Que bom. - suspirou aliviada - Hoje tem baile e meu gato disse que vai vim até um mc famoso. - disse toda feliz.

Raissa: Já tava querendo ir mesmo, agora que eu vou com gosto. - deu pulinhos.

Fiz careta, então ela vai sozinha, eu é que não vou pisar num baile funk.

***

Lance CriminosoWhere stories live. Discover now