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Manuela

Me sentei no chão frio, encostei minha cabeça na parede e me encolhi, tentando me esconder do frio, o que falhou, como todas as outras vezes.

Estou a dois dias passando pelas piores coisas que eu já passei na minha vida. Desde aquele dia, ninguém mais voltou aqui, nem pra me dar comida ou pelo menos um copo d'água.

Dois dias sem água...

Eu tava com tanta sede que pensei em beber o meu próprio xixi. A única coisa que eu queria era sair desse inferno e tomar um copo d'água, nem que seja um único gole.

O pior de tudo é a sede, a falta de banho e o frio que faz de noite. Porque pelo pouco que eu vi, esse lugar aqui fica no meio do matagal, onde eles dizem deixar os restos mortais das pessoas. Então o frio aqui de noite é intenso, já pensei até que ia morrer de hipotermia.

Suspirei e fechei os olhos pra tentar dormir, já que era a única coisa que me restava.

Eu só tinha duas opções, ou eu morria de hipotermia ou de sede.

Manuela: Pai, me proteja de onde você estiver, por favor. - Tremi o lábio.

Ouvi a porta ser destrancada e eu abri os olhos animada pra ver quem era. Mas me desanimei na mesma hora ao ver que era o BM, ele não ia me deixar sair daqui nunca.

Ele se aproximou de mim e eu fechei os olhos rapidamente pra fingir que eu tava dormindo.

BM: Tô ligado que tu tá acordada, precisa fingir não. - Deu uma risadinha irônica.

Abri os olhos e olhei feio pra ele.

Manuela: O que tu quer aqui? Eu ainda não tô morta, sinto em te decepcionar. - Tossi.

BM: Porra, tu tá um nojo. - Fez careta. - Vamo ali, vem. - Segurou no meu braço.

Só deixei ele me levar pra onde ele quisesse, eu não tinha mais forças pra nada, não conseguia mais ter controle nenhum do meu corpo.

***

Breno me tirou do carro em que estávamos e me levou até a porta da casa que estava cheia de seguranças, todos armados. Ele abriu a porta sem dizer uma palavra e continuou me arrastando.

Manuela: Me dá um copo de água? Por favor, faz dias que eu não bebo água. - Tossi de novo, minha garganta tava tão seca.

Ele não disse nada, só me largou e foi pra cozinha.

Me escorei na parede pra não cair por conta da fraqueza e aproveitei pra olhar tudo ao redor. A casa era grande, muito grande na verdade e tudo era muito bem arrumadinho.

BM: Tá aí. - Estendeu um garrafa de água na minha frente.

Aposto que meus olhos brilharam ao ver essa garrafinha com água na minha frente.

Manuela: Obrigada.

Abri a garrafinha com pressa e bebi toda a água em segundos, nesse momento isso parecia ser a coisa mais prazeirosa do mundo.

Manuela: Eu vou poder ir embora já? - Perguntei com um pouco de medo dele.

BM: Não abusa da minha boa vontade. - Riu sem ânimo e eu suspirei frustrada - Sobe as escadas, entra no quarto a direita e toma um banho, tu tá fedendo. - Negou com a cabeça.

Quis pular de alegria, finalmente eu vou poder tomar um banho. Agradeci ele com a cabeça e fui rapidamente pro quarto que ele disse.

Abri a porta devagar e suspirei ao ver um quarto normal, com uma cama de solteiro no meio, um guarda roupas não tão grande, algumas caixas e um banheiro.

Tirei toda essa minha roupa que tava um nojo, peguei uma toalha limpa no guarda roupas e fui para o banheiro. Liguei o chuveiro e entrei debaixo na água quentinha, fazendo todo o frio que eu estava sentindo, ir embora.

Depois de quase uma hora e meia no chuveiro, eu me enrolei na toalha e sai do banheiro. Abri o guarda roupas e me assustei ao ver metade das minhas roupas aqui.

Como aquele cara conseguiu as minhas roupas tão facilmente? Será que minha mãe tá bem?

Tentei não ocupar minha mente com isso, se não eu só ia ficar mais triste do que eu já estou. Vesti um pijama qualquer de frio e penteei meus cabelos molhados. Passei desodorante e sorri, finalmente eu estava limpa.

BM: Manuela, tua amiga quer te ver.. - Gritou lá de baixo.

Abri ainda mais o meu sorriso, estava com saudades da minha amiga, só queria dar um abraço bem apertado nela.

Manuela: Tô indo. - Peguei uma blusa de moletom do Mickey e coloquei também. Ainda estava sentindo muito frio.

Sai do quarto e desci as escadas devagar, ainda não tinha comido e estava muito fraca, com certeza eu perdi uns cinco quilos, ou mais.

Sorri ao ver a Raissa na sala, mas a sua expressão não era boa. Ela tava séria, andando de um lado pro outro, nervosa e inquieta.

Enquanto do outro lado o BM tava mexendo no celular, sem se importar com a presença da Raissa.

Pelo menos ele deixou ela em paz, né.

Manuela: Oi amiga, que saudade. - Me aproximei dela e toquei em seu braço, mas ela tirou minha mão rapidamente - O que foi Raissa? - Olhei pra ela sem entender nada.

Raissa: Desculpa por isso Manuela.. - Disse isso e em seguida deu um tapa forte no meu rosto - Como tu não me conta que o seu padrasto é policial? Tem ideia da merda que tu quase me meteu? - Gritou comigo e me olhou com raiva.

Fechei os olhos e novamente, eu deixei as minhas lágrimas escorrerem ao sentir o gosto de sangue na boca.

Não acredito que minha própria amiga tá fazendo isso comigo.

Lance CriminosoWhere stories live. Discover now