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BM

Larguei a camiseta do flamengo no corpo, botei a corrente de prata no pescoço e passei o 212. Coloquei o boné da Lacoste e calcei minha havaiana branca.

Abri a janela e olhei pra minha favela daqui do alto, tava tudo na paz. A molecada brincava no maior lazer e os comerciantes abriam seus estabelecimentos pra mais um dia na luta.

Olhei pro mar e rezei pela minha coroa como fazia todo dia.

Atravessei o fuzil nas minhas costas e coloquei a glock na cintura. Sai de casa e cumprimentei os manos que estava na contensão.

Seda: Aê chefe, o Kalel tava querendo trocar ideia contigo. Disse pra tu ir pra boca da principal. - falou segurando seu fuzil.

BM: Pode pá, valeu cria.

Andei até a boca cumprimentando geral, e deixando algumas piranhas ouriçadas na voz. Gostava de uma putaria, mas não rendia pra qualquer uma não, só para as selecionadas.

Cheguei na boca e cumprimentei os irmãos que estavam na função.

Kalel: Até que enfim né porra, passa a noite com marmita e esquece dos corres. - negou com a cabeça.

BM: Ih alá paizão, passei a noite resolvendo teus corres porque tu é um cansado. - fiz o toque com ele.

Kalel é como um pai pra mim, quando a minha mãe morreu, ele foi o único que tava ali comigo, me fortalecendo em tudo.

Kalel: Cansado é tu maluco. - deu risada - Hoje eu tenho uma pá de bagulho pra resolver e tu vai cuidar do meu pivete. - apontou pro Kelvin.

BM: Ué, e cadê a Valéria? - passei a mão no rosto.

Kalel: Ela vai comigo, mulher de bandido tem andar lado a lado pô.

BM: Suave, o moleque é gente boa. - passei a mão no corte disfarçado do Kelvin.

Kelvin: Meu cabelo seu pau no cu. - xingou.

Dei risada dele.

Kalel: Tô indo já, qualquer coisa me dá um toque e não esquece de deixar o menor na escola. - ajeitou sua arma.

BM: Pode crê.

Ele fez um toque todo estranho com o pivete, bateu no meu ombro e saiu.

Kelvin: Não quero ir pra escola hoje. - cruzou os braços - Tem uma feia da cabeça grande que fica me batendo todo dia, e todos ficam rindo de mim. - ficou tristão.

BM: Deixa de ser frouxo porra, bate nela também. Vai ficar apanhando calado? - cruzei os braços.

Kelvin: Mas a professora Rai disse que não pode bater em meninas, se não eu vou ser covarde. - coçou o nariz.

BM: Vai nessa que tu vai tomar porrada pro resto da vida, otário. - neguei com a cabeça.

Nunca apanhei na escola não, na verdade eu era o que batia em geral, moleque atentado mermo. Mas também tomava um pau da minha coroa quando chegava em casa.

Olhei no meu relógio e já tava quase na hora do Kelvin entrar na escola.

BM: Vamo lá, e não é pra ficar com medo não hein? - segurei no braço fino dele - É pra botar medo em todo mundo naquela porra.

Ele só balançou a cabeça e eu peguei sua mochila de rodinhas do Ben 10 enquanto ele saia da boca.

***

Tive que entrar na escolinha com o pivete porque ele tava morrendo de medo da menina que tava batendo nele.

Fiz o toque com ele, acenei pra Raissa que tava na porta da sala de aula e sai do pátio. Andei pelo parquinho e neguei com a cabeça ao ver as condições dessa merda, tava deplorável. É por isso que as mães vivem protestando no asfalto pedindo melhores condições pros pivetes estudarem.

Mas quem disse que o estado ajuda? Só da o aval pra pm chegar batendo nos manifestantes e jogando spray de pimenta na cara de geral pra dispersar.

Sai dos meus pensamentos quando senti alguém esbarrar em mim com a maior força. Continuei em pé, mas a mina caiu e se lambuzou toda no barro.

A mandada me xingou todo, falou até que eu mereço queimar no inferno.

BM: Oxi filhona, da próxima vez olha pra frente e sai do celular. - nem ajudei ela a levantar.

Ela se levantou e abriu a boca pra falar alguma coisa, mas não disse nada. A mina é bonita pra caralho, nunca tinha visto ela aqui na comunidade.

- E porque tu não desviou de mim se estava me vendo, hum? - cruzou os braços toda marrenta.

BM: Se liga garota, te vi também não. - rolei os olhos - E quem é tu? - perguntei na curiosidade.

- E te interessa? - falou e eu olhei feio pra ela - Sou a Manuela, professora substituta.

Ergui as sobrancelhas, por isso nunca tinha visto ela por aqui.

BM: Tu mora aqui no Vidigal?

Tem que tá sabendo pô, nunca se sabe quem entra de má fé aqui.

Manuela: Não, moro no Recreio dos Bandeirantes. - falou - O que é isso meu filho? Uma entrevista de emprego? - me encarou indignada.

BM: Mina chata da porra, vai logo trampar que tu ganha mais. - virei as costas pra ela - E troca essa calça aí hein. - dei risada.

Manuela: Vai se fuder. - disse toda brava.

Continuei rindo e sai da escola.

Cheguei na boca e o Pepê tava fumando um baseado todo largadão, corre pelo visto não tem nessa porra.

BM: Vida boa né malandro? - dei um pescotapa nele.

Pepê: Boa pra caralho. - tragou e soltou a fumaça.

Neguei com a cabeça e acendi um hash.

BM: Ou cuzão, tu já sabia da nova professora da escolinha lá? - soltei a fumaça pro alto.

Pepê: Sabia, é a Manu, gente boa e uma gata. - sorriu todo animado.

BM: E bocuda. - falei - Quero saber tudo dela, pode ir atrás. - fiquei interessado mermo.

Pepê: Pode pá, mas vai ser difícil porque ela mora lá no asfalto, mó bairro de gente rica. - fez careta.

BM: Te vira mermão. - dei de ombros.

Ele me mostrou o dedo do meio e eu só ignorei, sentei numa cadeira de plástico e fiquei curtindo minha brisa de haxixe.

Lance CriminosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora