13

80.6K 6K 3.4K
                                    

Manuela

A Lavínia continuava me encarando toda séria, e eu não sabia se corria, ou se ficava quieta.

Claro que eu preferi a segunda opção.

Lavínia: Que cara é essa colega? - Começou a rir de mim e faltou empurrar a menininha pra cima de mim - Pode levar essa coisa pra escolinha? Tô com preguiça de subir até ela. - Entregou a mochila dela pra mim.

Coisa? Quem é que fala assim da própria filha?

Manuela: Levo sim. - Toquei no ombro da criança, a coitada tava até de cabeça baixa.

Lavínia: Valeu querida. - Deu uma ironizada legal e virou as costas pra sair.

Ajeitei a mochilinha nas costas da Luana e arrumei o cabelo dela que tava todo bagunçado e sujo, conseguia até ver alguns piolhos.

A mulher fica atrás de pau o dia inteiro que esquece da filha.

Lavínia: E ah, não se preocupa viu lindona, não vou te fazer nada por chegar perto do BM. - Voltou a falar comigo - Tu é gata mas não me ameaça não, me garanto muito bem e em todos os sentidos. - Piscou e saiu

Pisquei algumas vezes sem acreditar, a coitada tá mesmo se achando a bucetuda, oh dó. Por fofocas que eu já ouvi por aí, ela é a maior marmita de bandido que tem aqui, os envolvido pega e no final nenhum assume. Engravidou com 15 e nem sabe quem é o pai.

Digna de pena.

Manuela: Bora estudar Luana? - Tentei animar ela que tava tristinha.

Luana: Pode me chamar de Lua tia, não gosto muito do meu nome. - Disse ainda de cabeça baixa.

Manuela: Tá bom, Lua. - Dei um sorrisinho pra ela que retribuiu.

Segurei na mãozinha dela e subimos devagar pra escolinha, a coitada dava cinco passos e já cansava, uma graça.

***

Fechei os olhos quando as crianças começaram a gritar umas com as outras enquanto tacavam os lápis, giz de cera e tudo o que tinham direito no chão.

Choraminguei e coloquei a mão na cabeça, admiro quem tem paciência pra ser professora, porque olha..

Kelvin: Para Lua.. - Começou a chorar quando a menina bateu com o caderno no rosto dele.

Isso já está passando dos limites.

Manuela: Luana, vem aqui agora. - Me levantei e aumentei o tom de voz.

Todos ficaram em silêncio e sentaram em suas respectivas cadeiras. Luana andou até mim de cabeça baixa e parou na minha frente.

Manuela: Nós duas vamos conversar muito sério, que coisa feia menina. - Adverti e peguei na mão dela, saindo da sala - Ou, tu pode cuidar das crianças por cinco minutinhos? - Pedi para um supervisor.

Andei com ela até a sala dos professores e coloquei ela sentada no sofá que tinha aqui.

Manuela: Luana, sabia que é feio fazer essas coisas com seus coleguinhas? - Me abaixei na frente dela e tentei falar com o maior cuidado possível - O Kelvin não te fez nada, você não pode bater nele assim.

Lua: Eu faço o que eu vejo a Lavínia fazendo. - Começou a chorar - Ela faz isso comigo e com outras pessoas, eu achei que era certo, desculpa tia Manu.

Meus olhos se encheram de lágrimas, que descaso.

Manuela: Porque você chama sua mãe pelo nome em? - Sequei as lágrimas dela.

Lua: Porque ela não gosta tia, quando eu chamo ela de mamãe, ela me bate e puxa meu cabelo. - Apontou pra cabeça.

Isso já é inaceitável, olha pra idade dessa criança, imagina como ela vai crescer cheia de traumas?

Manuela: A tia Manu vai te ajudar tá? - Tirei os cabelos dela do rosto - Mas não é pra bater nos seus colegas, eles são seus amiguinhos e não pode ficar batendo, viu como o Kelvin ficou triste?

Lua: Vi, depois eu vou dar uma balinha de iogurte pra ele e fazer uma cartinha com um desenho. - Sorriu toda animadinha.

Manuela: Isso aí minha flor, agora vamos voltar pra lá, pra você fazer seu desenho. - Levantei e ela veio atrás de mim.

Voltamos pra sala e eu agradeci o supervisor por ter tomado de conta das pestes, digo, das crianças.

Me sentei na cadeira e fiquei observando a Lua de longe, a menina é um amor, é meiga e super inteligente. O jeito explosivo dela é graças a idiota da mãe dela, mal caráter do caralho.

Porém isso não vai ficar assim não, eu posso tomar um cacete dela por aí, mas eu vou contar tudo isso pro pai do Kelvin. Sei que ele é chefe do CV e isso vai dar ruim pra ela, tô pouco me fudendo, por mim eu mesma dava um tiro na fuça dela.

Mas essa criança não vai mais sofrer na mão daquela escrota. Se não funcionar nada disso, eu aciono o conselho tutelar e tá tudo certo.

***

Me despedi da última criancinha e suspirei mais aliviada, eu adoro elas, são super fofas, mas puta que pariu, são bagunceiras e escandalosas demais.

Arrumei minhas coisas dentro da bolsa e a coloquei no ombro. Quando ia saindo, acabei vendo o BM junto com o coroa que a Raissa disse ser o chefe do comando vermelho. Os dois estavam sérios enquanto me encaravam segurando o fuzil.

Já senti uns calafrios pelo corpo, será que eu fiz alguma coisa e não tô sabendo?

Respirei fundo e fui até eles dois.

Manuela: Oi, vieram buscar alguma criança? Todas já saíram com a autorização do responsável. - Segurei minha bolsa com força, tava com medo.

Quando eu menos esperava o BM agarrou com meu braço com força e me puxou pra fora da sala.

Manuela: Ou colega calma aí, esse casaquinho é da Gucci e foi caro viu? - Olhei indignada pra ele.

BM: É melhor tu calar a boca filha da puta, fala mais alguma coisa pra tu ver se eu não te encho de porrada aqui mermo. - Apertou meu braço com mais força.

Isso já tava doendo muito.

Kalel: Breno caralho. - Tocou no ombro dele.

BM: Não se mete nisso não caralho, vai resolver teus corres. A favela é minha e eu vou resolver isso da minha maneira. - Faltou gritar com o cara.

Achei que ele fosse fazer algo, mas só levantou a mão em rendição e saiu calado.

BM: Agora tu vai me explicar que porra tu e teu padrasto de merda tão planejando, x9 de merda. - Me encarou com raiva e só continuou apertando o meu braço.

Arregalei os olhos e senti uma lágrima descer, puta que pariu, ele descobriu.

Não acredito nisso, eu tô ferrada.

Lance CriminosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora